11c- O «nome» e os nomes de Deus

 (Ciclo C – Domingo 3 da Quaresma) 

 O «NOME» E OS ‘NOMES’ DE DEUS.

Não foi o que parecia!

Afinal, o verdadeiro Nome de Deus não era o que Moisés escutou diante da “sarça ardente”… Mas isto só se soube muito tempo depois!

Naquela altura, “Moisés disse a Deus: «…Mas se eles me perguntarem qual é o nome desse Deus, que hei de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ [יהוה] enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este será o meu nome para sempre…” (Ex 3 / 1ª L.).

Não deixa de ser complicado, e, desde logo “enigmático”, este nome…

Terão de passar séculos, até aparecer, na chamada «plenitude dos tempos», o próprio Filho de Deus – incarnado como o «rosto da misericórdia de Deus» (“misericordiae vultus”) – para desvelar o mistério, e revelar o Verdadeiro Nome de Deus…

O Evangelho de hoje, parece apenas retirar o primeiro desses véus que ocultaram durante séculos o nome genuíno, autêntico, do Deus dos nossos pais, o Deus de sempre… Efetivamente, a atitude de Deus – de uma Paciência infinita – não se deixa influenciar por “outros eventos” (“o sangue de certos galileus, que Pilatos mandou misturar com a dos sacrifícios que eles imolavam”); e de modo semelhante, o proceder de Deus nunca pode depender de “acontecimentos acidentais” (“a queda da torre de Siloé que atingiu e matou dezoito homens”)… (Lc 13 / 3ª L.). Não. O nosso Deus não pode ser assim!

É que o verdadeiro “nome de Deus” não era só “«Eu Sou»”[=“Javé”/יהוה] (Ex 3) tal como lhes pareceu “entender” àqueles nossos primeiros pais na fé… Isto é, aquele «Deus Terrível» («Sabaot» ou «Deus dos Exércitos»; «Adonai» ou «Senhor»;…) e a quem, portanto, era necessário “temer”, e em cuja presença era obrigatório “cobrir o rosto para não ficar ofuscados” (Ex 3). Pois, na realidade, os “Verdadeiros Nomes” de Deus são outros. São aqueles Nomes que – muito tempo depois – foram revelados precisamente pelo Filho Primogénito de Deus (e que, já agora, outras culturas e religiões também “intuiram”). Todos os cristãos, e muitos outros homens de boa vontade, conhecemos este «Nome de Deus», “revelado” por Jesus de Nazaré: “Rezai assim: Pai-nosso (“Abbá”) que estás no Céu…” (Mt 6, 9; Lc 11, 2).

E esta grande novidade – a palavra “Pai” como nome atribuído a Deus pelo próprio Jesus – aparece mais de duas centenas de vezes, só nos Evangelhos. A Grande Revelação que o Filho, Jesus, trouxe para todos os homens, é esta: Que Deus é, sobretudo e entes que nada, PAI. Realmente, os Textos sagrados do Novo Testamento, a começar pelos Evangelhos, estão inundados, perpassados, por este «divino nome de Pai». (Nos restantes Livros do Novo Testamento, aparece outra centena de vezes). É preciso afirmarmos – com toda a verdade! – que este Nome é o primeiro e principal, a “raiz e origem” de todos aqueles outros nomes que também atribuímos a Deus: o Deus-Amor, o Misericordioso, o Clemente, o Compassivo, o Omnipotente, o Omnisciente, o Omnipresente, o Transcendente, etc. etc. Pois todos eles derivam deste nome essencial, fundamental, que é “Pai”!

E é sabido que, na Bíblia, o sentido do «nome das pessoas» diz respeito a «algo de profundo e essencial da pessoa»; e era isso que se tinha em conta ao pôr o nome a cada novo ser humano que vinha a este mundo…

Por seu lado, o apóstolo Paulo tem toda a razão quando compara a nossa conduta com a daqueles nossos antepassados (1 Cor 10). E é nesse sentido que tem bem clara uma coisa: a “fidelidade”… ou a “infidelidade”… dos “nossos avôs” (dos nossos “antepassados”) não nos “justifica”… Poderíamos dizer que os «nomes» deles não “determinam”, nem afetam, o «nome» de cada um de nós, este nome que é o nosso “nome essencial”. O nome que, ao longo da vida, fomos adquirindo; o nome que vamos “demonstrando” com a nossa conduta e atitude na vida; mas um nome que – geralmente – nada tem a ver com o significado do outro ‘nome’ que nos puseram à nascença…

Quer dizer, nisto como em tudo, cada um responde, por si mesmo, dos próprios atos, palavras e intenções, na sua vida. Por isso, Paulo conclui com esta exortação ‘parabólica’: “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair”. (1 Cor 10 / 2ª L.).

Em cada circunstância, cada qual deve responder pelo seu “Nome essencial”!

 

Em Ti, ó Deus, em Teu «nome de PAI»,

têm sentido, valor e significado,

todos os nossos «nomes» de filhos.

Que a nossa alma Te bendiga,

que todo o nosso ser – em cada respiração –

bendiga sempre o Teu santo nome de PAI

porque Tu és Clemente e cheio de Compaixão.

Nunca esqueceremos os Teus dons e graças:

perdoas sempre os nossos pecados;

curas com ternura as nossas doenças;

salvas da morte a nossa vida;

e nos inundas da Tua Graça e Misericórdia

– grande como a distância da terra aos céus – …

Ao revelares a Moisés, naquela sarça-ardente,

o Teu primeiro nome de «Javé»,

revelaste-lhe, também, os Teus caminhos,

deste-lhe a conhecer os Teus benefícios…

E nós proclamamos aos quatro ventos:

O nosso PAI Deus é sempre Clemente e Compassivo!

[ do Salmo Responsorial / 102 (103) ]