– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo B – Domingo 11 do T. Comum)

 

Permanecendo neste corpo, vivemos como exilados, como longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara. E com esta confiança, preferimos exilar-nos do corpo, para irmos habitar junto do Senhor. Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele” (2Cor 5,6-9 / 2ª L.).

 

O presente texto – para refletirmos – forma parte de um trecho da Carta (os dez primeiros versículos do c. 5) a que os teólogos biblistas denominam «escatologia individual», ou seja, o relativo “ao fim da nossa vida terrena”, mortal, e ao início da transcendência que se prolonga na eternidade de uma Vida sem fim. Daí que se contraponham expressões como: “a luz da fé” “a visão clara”“habitar no corpo” “sair dele”“a tenda terrena” e “a habitação Celeste”… E é surpreendente o modo como Paulo joga com o termo “exílio”!…

 

A – Assim, compreendemos facilmente que comece por falar de ‘um exílio’, ao considerar a nossa “permanência neste corpo” como um “vivermos exilados”, isto é, como viver “longe do Senhor”.

B – Bem entendido que, na realidade, nunca vivemos longe do Senhor pois o mesmo Paulo afirma noutra parte: “Na verdade, é n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). E o interessante, ‘curioso’, é que, esta afirmação, inspirava-se num dos seus poetas gregos, como ele próprio diz.

A – Aliás, logo a seguir, quando escreve «Somos também da raça de Deus», está a citar um outro poeta. [Os investigadores biblistas descobriram que, no primeiro texto (At 17,28a), tratava-se do poeta Epiménides (séc. VI a.C.); e no segundo texto (At 17,28b), do poeta Aratos e do estoico Cleanto (ambos do séc. III a.C.)].

B – Pois esta interessante constatação histórica vem enriquecer a Palavra e a nossa reflexão pois, mais uma vez, fica patente que a procura humana da Divindade foi uma constante em todo o tempo e espaço…

A – Com o cristianismo – na pessoa de Jesus – esta descoberta “chegou à sua plenitude”. E então, Paulo podia afirmar que, embora “sem termos a visão clara de Deus, a luz da fé nos ilumina”!

B – Se já na escuridão do ‘paganismo’, os nossos irmãos adivinhavam que ‘somos da raça ou estirpe de Deus’ e que ‘vivemos n’Ele pois n’Ele nos movemos e existimos’, quanto mais nós, cristãos!?…

A – É compreensível, portanto, que os que tenham uma fé forte prefiram “exilar-se” desta ‘forma corporal’ para irem ter com o Senhor… mas, ao mesmo tempo, aceitam continuar o exílio ‘deste corpo’ mortal…

B – Então, uma vez aceite o plano e vontade de Deus para a nossa vida, deveremos “empenhar-nos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele” aquando da morte!…

 

A/BEntão, Senhor, nesta perspetiva – «sempre antiga e sempre nova»! –

porque é que vamos temer a morte como algo inevitável, negativo ou obscuro,

quando, na realidade, é uma libertação deste exílio do corpo mortal

e uma saída desta estrutura espácio-temporal” onde nos movemos e existimos?

Porque, afinal, não é este ‘presente’ nada mais do que um tempo e espaço de prova!?…

Ajuda-nos a compreender, Deus e Pai nosso, que nunca podes estar longe de nós,

antes nos envolves sempre, nos penetras e vivificas até ao centro do nosso ser!

Sejamos nós capazes de mostrar, no dia a dia, que “somos da Tua raça, Senhor”!!!

 

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