– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 4 do T. Comum)

 

“«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações (…) Hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra. Eles combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar»”. (Jr 1,5.18-19 / 1ª L).

 

Texto que pertence ao relato da vocação do próprio profeta (Jeremias) e que aparece logo no início do capítulo 1. Ou seja, começa o seu Livro com a narração da sua vocação pessoal. Coincidimos, aliás, com os especialistas bíblicos na constatação do ‘paralelismo sinónimo’ que se verifica, no AT, em todas as narrativas dos chamamentos – ‘vocações’ – que, partindo sempre da iniciativa de Deus, os chamados são “enviados” sempre a realizar uma “missão”. Assim, nestes exemplos: a ‘vocação’: de Gedeão (Jz 6,11-24); de Sansão (Jz 13,1-25); de Samuel (1 Sm 3); de Isaías (Is 6,1-13); de Ezequiel (Ez 2); etc. Em geral, a ‘estrutura ou esquema’ da chamada é sempre similar: (a)-Amoroso apelo de Deus, irresistível [!?]. (b)-Uma inicial recusa, perante o primeiro “temor e tremor”. (c)-Aceitação e fiel execução da missão.

 

A – Dá-se sempre uma ‘teofania’ (manifestação de Deus) de diversos modos (as ‘causas segundas’): uma voz, uma luz, um anjo, uma pessoa, um evento… que são ‘metáforas’ utilizadas pelos relatores. Para Jeremias, a ‘teofania’ foi através de uma voz (“a palavra do Senhor foi-me dirigida”) (Jr 1,4).

B – Igualmente, em todo e qualquer ‘chamado’, revela-se também uma constante: O ‘vocacionado’ é sempre incumbido de uma missão em função dos outros, e nunca para si próprio…

A – No caso deste profeta, fica bem clara a missão referida aos outros“… uma coluna de ferro… perante este país, os reis de Judá e os seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra…”.

B – Aliás, conhecemos muito bem, pelos dados biográficos que registou o mesmo Jeremias (entre os capítulos 26 e 45), que esta sua missão face aos outros, custou-lhe um ‘martírio quase contínuo’(!).

A – Entre tanto, a questão mais importante que neste texto convém salientar – aliás, comum a todos os profetas e não só, que foram chamados e enviados – é a sua escolha por parte de Deus ‘antes de iniciar a sua existência’ terrena: “«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi…»”.

B – E aqui está o grande mistério e a maravilha divina que é «o projeto de Deus (há quem prefira dizer “sonho divino”!) para todo e cada ser humano que é ‘chamado à vida’ pelo Criador-Pai Universal»!

A – Então, mesmo que tenhamos de passar pelos nossos desertos e calvários, até mesmo a morte – caso de Jeremias e, ainda mais, o próprio Jesus de Nazaré – nunca devemos perder a esperança, já que, afinal: “«…Os inimigos não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar»”!

 

A-BPoderei orar hoje, ó Pai, precisamente com as «Lamentações (‘ais’) de Jeremias»?

Não porque eu tenha motivos para me lamentar pelas minhas ‘pesadas cruzes’(?),

mas porque – às vezes (?) – tento ignorar a vocação que Tu ‘sonhaste’ para mim:

«Ai! (‘Alef’) Quando não sou fiel aos Teus ‘sonhos’ sobre mim,

sinto-me órfão, sem pai, como se a minha mãe – Jerusalém – ficasse viúva…;

como se, carregando um jugo pesado ao pescoço, ficasse esgotado

Ai! (‘Bet’) Quando não tenho coragem para enfrentar as pequenas cruzes,

sinto-me como traído pelos meus aliados que se tornaram inimigos…

Ai! (‘Vau’) Quando não sou grato, Senhor, por esta Tua ‘escolha’ de amor,

sinto-me mal, como o veado sem pastagens, que foge dos predadores…».

E tenho que admitir, Pai, que afinal as lamúrias («lamentações») de nada valem!

      

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