2 Fevereiro, 2014
LUZ PARA AS NAÇÕES…
16 Janeiro, 2014
AFINAL ERA “O CORDEIRO IMOLADO”
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – Domingo 2 do T. Comum… )
AFINAL ERA “O CORDEIRO IMOLADO”.
É bem conhecida de todos, já desde muito antigo – de antes da Antiga Aliança – a figura do “cordeiro”, oferecido em sacrifício aos diversos “deuses”, tanto para acalmar as “iras divinas” e alcançar o perdão dos pecados, quanto para obter toda a classe de favores e benefícios… Este cordeiro passou a ser, entre todos os animais sacrificiais, aquele que melhor representa a “inocência e candura” face à barbárie ou malícia, quer dos outros animais quer dos próprios seres humanos…
Não admira, por isso, que no limiar da Nova Aliança, quando aparece aquele estranho profeta – lembram-se? – que fecha o Antigo Testamento e abre o Novo, clame e proclame, para todos ouvirem, referindo-se a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”… (Jo 1 / 3ª L.). Então, aquele cordeiro antigo, que já prefigurava o “novo sacrifício” da “nova aliança”, a partir de agora vai ser a figura do “Filho de Deus”, Aquele que, com o seu Sacrifício total, “resgatou todo o ser humano do pecado e da morte”. Exatamente «o Cordeiro de Deus»!
Bem entendido que este “Cordeiro de Deus” não fica satisfeito com – embora seja o primeiro e mais radical! – “tirar o pecado do mundo”, essa tal transgressão consciente e voluntária, único mal capaz de nos destruir, no presente e para o futuro da nossa Vida –. Mas o Filho de Deus “veio” igualmente para continuar e levar até ao fim, através do Espírito – “porque é no Espírito Santo que Ele batiza” (Jo 1) – a obra da perfeição e santificação de todo o ser humano… “Aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade”… (1 Cor 1 / 2ª L.). É que Deus, por Jesus Cristo, nunca pode deixar um Projeto inacabado, uma vez que Ele próprio é Perfeito e Santo. “Sede perfeitos – diz-nos a todos o próprio Jesus – como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5). Conselho, ou mandato (?), que vem a confirmar aquele outro tão antigo, onde era Javé Deus a falar: “Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19).
E desde esse mesmo Antigo Testamento, a Palavra de hoje, como Farol luminoso – sempre antigo e sempre novo – que se reflete aos quatro ventos, continua a traçar e iluminar o nosso caminho de peregrinação por esta terra. “…E agora, o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo… «Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra»” (Is 49 / 1ª L.).
Mas afinal, quem é esse tal “servo” do Senhor, escolhido e “formado desde o seio materno”? Sabemos sim, que é, em primeira instância, o mesmo Filho de Deus, o Messias, Jesus de Nazaré… Porém, somo-lo, ou devemos sê-lo, com Ele e por Ele, todos nós, porque “chamados à santidade” (2ª L.) desde a nossa geração, desde o sagrado “seio materno”. E ao mesmo tempo que somos “servos e filhos” como Jesus, aprendamos a refletir a Sua Luz sobre todas as nações, para que assim a Sua Salvação chegue até aos confins da terra…
Temos então, este argumento – silogismo? – conclusivo e contundente: – Se nenhum ser humano pode afirmar com verdade que “foi formado no seio materno” por outro que não seja o mesmo DEUS. – Se é igualmente verdade que DEUS tem um plano (um “sonho”), desde a conceição, para cada indivíduo, nesse Projeto e Missão de levar a Salvação até aos confins da terra. – E se nós julgamo-nos seres humanos… O que é que estamos à espera para pôr a render os nossos dons e talentos?!…
Hoje, Senhor, quero “fazer meu” este Salmo,
sentindo-me Teu servo e Teu filho
tal como Jesus, Teu Filho, o Cordeiro Imolado,
Luz para a Salvação de todas as nações…
E, já posto no lugar do Filho, com Ele e n’Ele,
atrevo-me a dizer comprometido:
«Eu venho, Senhor, para fazer a Tua vontade»…
Sei muito bem que aqueles sacrifícios antigos,
de holocaustos, oblações ou expiações
– nem que fossem de “ternos cordeiros” –,
nunca foram do Teu agrado e complacência;
então eu quero proclamar: «Aqui estou!».
Eu sei, Senhor, que desde aquele instante
em que me formaste amorosamente
no sagrado seio materno,
“o teu sonho” sobre mim ficou escrito:
«Que eu faça sempre a Tua vontade.
Assim o quero, ó meu Deus;
a Tua Lei de Amor está no meu coração;
e só assim sinto a genuína Felicidade».
Não terei vergonha, Senhor, em declarar
– até nos foros ou nas redes sociais –
que a Tua Fidelidade é mais forte do que a morte,
e que o Teu Amor abrange a Eternidade!
[ do Salmo Responsorial / 39 (40) ]
8 Janeiro, 2014
É A “SEGUNDA EPIFANIA”
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – Batismo do Senhor / domingo… )
É A “SEGUNDA EPIFANIA”
Quantas vezes ficamos surpreendidos perante situações ou atitudes inesperadas, chocantes… e até extravagantes de certas pessoas!
No caso presente, o proceder e atitude de Jesus de Nazaré, perante aquele profeta João que anda a batizar no rio Jordão, é, quando menos, estranho, e desde logo provocador. Não devemos esquecer, porém, que se trata do Filho desse Deus nosso Pai, Aquele que é sempre “desconcertante” – lembram-se? E compreende-se então que João o Batista fique, primeiro perplexo e chocado, e logo, confuso e atrapalhado diante desta chegada inesperada. “ Jesus veio ter com João Batista ao rio Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se dizendo: «Eu é que preciso de ser batizado por Ti, e Tu vens ter comigo?»” (Mt 3). Toda a gente tem a sensação de que, neste episódio, parece como que “estão trocados os papéis”. João coloca-se no seu lugar, com a humildade e realismo que lhe caracterizam, porque reconhece Quem é que está à sua frente. A verdade é que o Precursor conhece o significado e valor limitado do seu “batismo” (“eu batizo com água”, dirá em determinada altura); e conhece igualmente, ou intui por inspiração divina, o valor e significado do Batismo que traz Jesus, o Messias Salvador. Por isso, naquela altura em que foi perguntado, vai proclamar: “… Ele batizará no Espírito Santo e no fogo!”. E precisamente para poder realizar essa Sua missão, o próprio Jesus deve e quer ser agora batizado com água. Por isso, pede a João: “«Deixa por agora. Convém que assim cumpramos toda a justiça»” (Mt 3).
E para que ficasse claro e patente que “a Missão” de Jesus era “batizar no Espírito e no fogo” para salvar todos os homens, agora aparece – pela primeira vez na Nova Aliança – a “manifestação” em pleno, das três Pessoas da Trindade (Pai, Filho e Espírito). “Então abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência»” (Mt 3 / 3ª L.). É-nos antecipado assim, mesmo veladamente, o Mistério Trinitário que, mais tarde, o próprio Jesus, o Filho, havia de nos revelar abertamente. Mas neste evento, no rio Jordão, podemos descobrir isto: Vemos o Filho nesse Jesus de Nazaré que está a ser “batizado”; na figura de pomba sobre Ele, aparece o Espírito; e é claro que aquela voz vinda do Céu que diz «este é o meu Filho» só pode ser a voz do Pai. E assim, esta “manifestação” (portanto epifania) que descobre ou revela este Mistério impensável e nunca imaginado, é também conhecida como «a Segunda Epifania de Jesus» – lembram-se da «primeira»?
Na Palavra dos Atos dos Apóstolos (2ª L. / At 10) podemos descobrir uma “outra leitura” deste sublime Mistério: “Deus [Pai – 1ª Pessoa] ungiu com a força do Espírito Santo [3ª Pessoa] a Jesus de Nazaré [2ª Pessoa], que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele”. Mas não deixa de ser interessante e revelador(!) que, já desde o Antigo Testamento, Deus inspirasse aos Profetas uma espécie de pré-revelação deste Mistério Trinitário: “Diz o Senhor [Pai]: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele [Filho] fiz repousar o meu espírito [Espírito Santo], para que leve a justiça às nações…»” (Is 42 / 1ª L.).
Mas a nossa ineludível obrigação – quanto pessoas e quanto comunidades – perante este gesto batismal de Jesus de Nazaré, é, antes de mais, confrontarmo-nos com o tal “Batismo de João”, esse estranho profeta apelidado “o Batista” porque anda a ministrar um «batismo de penitência» ou “batismo de água para o perdão dos pecados”… Sim, perguntarmo-nos, o que é que há na nossa vida que precisa de “lavagem” batismal porque, de algum modo, estamos a sentir-nos “sujos por dentro”?… Será preciso, seguramente, uma purificação interior!
Em segundo lugar, e já que o batismo de João era conhecido também como “um batismo de conversão”, isto é, de mudança nos modos e atitudes, de pequena ou grande reviravolta na nossa direção e sentido… chegaremos à conclusão de que devemos igualmente questionarmo-nos acerca daquilo que, nos nossos hábitos e costumes diários, não nos enche nem nos satisfaz; antes pelo contrário, acaba por nos deixar sempre “mau sabor” na boca, ou seja, no coração!
Todos os filhos de Deus,
que o sois desde o Batismo de Cristo,
no Espírito Santo e no fogo:
tributai ao Senhor glória e poder!…
Nós, conscientes do nosso Batismo cristão,
proclamamos a glória do Teu Nome,
esse Nome Trinitário
– Pai, Filho e Espírito Santo –
no qual foi derramada sobre nós
a água purificante e transformadora,
essa água da regeneração batismal
– no Espírito Santo e no fogo –
que nos fez Teus filhos no Filho…
Com estas “vestes brancas”
– como ornamentos sagrados –
estamos “in-vestidos” da dignidade “filial”
para o Teu culto de adoração, ó Senhor!
Dá-nos a Luz do fogo do espírito
para cumprirmos a nossa missão cristã
de anunciadores do Evangelho…
Que saibamos escutar a Tua Voz
sobre a vastidão das águas,
que ressoa majestosa sobre nuvens…
A mesma Voz, ó Pai nosso,
que falou ao Filho no batismo do rio;
a mesma Voz que nos fala a nós
– desde o Batismo regenerador –
para nos chamar: «filhos muito amados»!…
[ do Salmo Responsorial / 28 (29) ]
4 Janeiro, 2014
TENHO EU A “MINHA ESTRELA”?
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – Epifania do Senhor / domingo… )
TENHO EU A “MINHA ESTRELA”?
Todas as “fantasias”, tal como as “histórias de ciência-ficção”, fábulas, parábolas, contos… têm – pelo menos! – um fundamento real (histórico). Existe sempre uma base ou alicerce verídico sobre o qual é construída – ou reconstruída – cada lenda, conto, narrativa ou fabulação. Aliás, estou convencido de que toda e cada “lenda” ou “ficção” é fruto e resultado de várias ou muitas realidades históricas, acontecidas em lugares e tempos diferentes, e sobrepostas sucessivamente… (segundo aquela filosofia popular de: «quem conta um conto acrescenta um ponto»).
Sabem aquela de «O quarto rei mago»?… O tal que se afastou dos outros “três colegas” para ajudar em toda e qualquer necessidade que foi encontrando pelo caminho?… E que, por este motivo, chegou a Jerusalém “trinta anos mais tarde”(!), quando Jesus acabava de morrer na cruz e já estava sepultado?… E sabem que, quando ele voltava triste e desiludido para a sua terra, o próprio Jesus – já Ressuscitado e Glorioso – lhe apareceu no caminho para lhe revelar a Verdade da sua Recompensa?… As palavras que o “quarto rei mago” escutou de Jesus – diz a “lenda” – foram estas, pouco mais ou menos: «Não estejas triste, meu caro amigo, por não teres podido contemplar e adorar o Menino Jesus!… Tu já o tinhas visto muitas vezes, nos rostos de tantas pessoas pobres e necessitadas que ajudaste em todos estes anos… Tu já Me tinhas visto tantas vezes! Não Me reconheces?… Pois em verdade, em verdade te digo: “Muito em breve estarás comigo no Paraíso”!».
E agora, continuamos com as perguntas: Será que não houve, no tempo histórico, muitas pessoas que, por ajudar os seus semelhantes, perderam os seus bens, o seu tempo, as suas oportunidades, os seus interesses imediatos?… Ou será que não existiram muitíssimas pessoas que foram capazes de seguir “a sua estrela”, na inspiração interior, até encontrar a meta dos seus sonhos, a sua realização pessoal?… Então teremos nós de concluir que a “história dos três reis magos” – para além de ter tido diversos fundamentos históricos e algumas “profecias” na Antiga Aliança – não deixa de estar bem pensada e construída. («Se não é verdadeira, vem mesmo a calhar!», diz uma máxima da sabedoria popular). Isaías tinha-o “profetizado”(?) vários séculos antes: “…Pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor” (Is 60 / 1ª L.). Ponhamos agora todos os presumíveis “acontecimentos reais” a que aludíamos anteriormente, e teremos uma história que, pelo facto de ser considerada globalmente como fantasia ou ficção, isso não quer dizer que careça de qualquer valor histórico e, menos ainda, de valor moral, espiritual ou teológico… Todo o contrário!
Mas a Palavra da Liturgia de hoje é ainda muito mais rica que todos esses “tesouros e riquezas das nações” que traziam os “reis magos”… Já o próprio nome da festividade Litúrgica – «EPIFANIA» – quer transmitir o que “significa”. Esta criança que nasceu de modo tão simples e pobre vem demonstrar assim, que a Salvação, o Amor de Deus, é para todos e não terá nenhum tipo de barreiras ou fronteiras. Quem é que disse então que a salvação era apenas para o povo eleito dos hebreus?… “Os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho” (escreve Paulo aos fiéis de Éfeso / 2ª L).
Este Jesus Menino, Salvador-Infante, manifesta-se (epifania) igualmente aos “gentios”, estrangeiros, que vivem afastados e estão representados nesses “reis magos” do Nascente remoto. (“Nos vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O” / 3ª L.- Mt 2). O Amor de Deus Pai, a Sua Salvação, vem para todos, desde que cada quem – no uso da sua liberdade – ponha da sua parte o que exige este “caminho de Salvação” em que nos movemos…
Deveremos, antes de mais, encontrar a “nossa estrela”. Procurá-la se ainda não a descobrimos! E a nossa estrela não é outra coisa que “o sonho de Deus para cada um de nós”; aquilo que também chamamos “vocação” e que nos faz profundamente felizes, ao sentirmo-nos realizados e satisfeitos. É que se vivemos “sem estrela”, andamos desorientados e por caminhos que levam a nenhuma parte… E o que é que diriam hoje os nossos “reis magos” a tanta gente que vive (mal vive!) tristemente, sem a alegria do rosto nem o sorriso nos olhos, e a mercê de todos os ventos… com essa angústia íntima de quem não vê claro qualquer futuro de Esperança Feliz? O que é que nos querem dizer hoje “os magos”? Como é que devemos imitar o seu exemplo para encontrarmos a “estrela” e segui-la apesar das dificuldades, dos silêncios e das noites?…
Temos ao nosso dispor, e para a nossa meditação, a Palavra do Evangelho de hoje (Mt 2), que – lida, refletida e orada nas calmas – pode iluminar-nos e transmitir a força de vontade que precisamos… neste nosso “caminho de Salvação”. Pois, mãos à obra!
E agora, Senhor, sentimo-nos solidários
com todos os que, neste mundo nosso,
continuam desorientados e tristes…
apesar da “epifania” do Teu Filho Jesus,
Luz verdadeira que ilumina tudo e todos.
Graças ao Teu Amor, Deus e Pai nosso,
já não estamos sem esperança de salvação.
Apareceu entre nós o Teu Filho,
que – na sua “manifestação” universal –
traz a paz, a justiça e o perdão…
para todos: pequenos e grandes,
os de perto e os de longe,
amigos e inimigos, maus e os bons,
pobres e ricos, justos e pecadores…
para o pobre e fraco que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Obrigado, Pai, Abbá, pelo Filho que nos dás;
porque a sua Estrela aponta já
o nosso presente e futuro de Felicidade.
Floresce já a justiça nos nossos dias
e a paz profunda e verdadeira
em todos os corações simples…
Queremos dar-Te infinitas graças, Senhor,
pelos “tesouros que hoje nos ofereces”
na Pessoa do Teu Amado Filho, Jesus.
E aceita o nosso melhor “Presente”,
que é também Jesus-Menino,
adorado pelos Magos no colo de Maria…
[ do Salmo Responsorial / 71 (72) ]
31 Dezembro, 2013
O MISTÉRIO DE “THEOTOKOS”!
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – Maria Mãe de DEUS – 1 de Janeiro… )
O MISTÉRIO DE “THEOTOKOS”!
Outra vez “o sonho de Deus”, aquele “sonho de cor feminina” – lembram-se? – : Seria uma virgem a gerar um filho, que fosse “Deus connosco” – Emanuel. Tudo isto já aconteceu! No entanto, uma vez que este filho, da especie humana, é ao mesmo tempo o Filho de Deus, devemos concluir: aquela que gerou este filho por obra e graça do Espírio Santo, que era virgem e mãe, não pode deixar de ser a “theotokos”, ou seja, a Mãe de Deus. “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei…” (Gl 4 / 2ª L.). Claro que este menino, e só Ele, por ser o Filho de Deus, e Deus mesmo, é que podia redimir, salvar a Humanidade da sua rebeldia contra Deus, do tal pecado original. E desde logo, era normal que o seu Nome fosse Salvador, isto é, Jesus. “Ao completaram-se os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno” (Lc 2 / 3ª L.).
Muitos mais Nomes Excelsos tem este Filho, Jesus, Emanuel… Entre eles, o de “Príncipe da Paz”, que já aparece inúmeras vezes na Palavra do Antigo Testamento, nas promessas tantas vezes repetidas pelos profetas aos nossos antepassados na Fé. Por isso, a Bênção melhor que os homens podiam atrair sobre si, da Bondade de Deus, era essa Paz (“…que te abençoe o Senhor… e te conceda a Paz”/1ª L.). Com toda a razão foi dedicado este dia – que também é o 1º do Ano civil – para a “Jornada mundial da Paz”.
A palavra Paz, ou Shalom, tinha e tem, na cultura hebraica, como noutras culturas orientais, um significado mais abrangente e extenso que o nosso termo paz. Para eles – e porque não para nós? – esta expressão, como saudação e desejo, compreende ou inclui toda a classe de bens, materiais e espirituais… “Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’…” (Nm 6 / 1ª L.). Assim, como se todos os bens possíveis estivessem condensados na palavra Paz (“Shalom”), a Humandade continua a suspirar sempre pela Paz, convencida de que só num ambiente de paz, entre gente pacífica e pacificadora, é que é possível a realização pessoal, familiar e social, e, por consequência, a satisfação plena e a Felicidade mais autêntica e profunda.
Não deve, porém, ser confundida esta Paz verdadeira, com apenas a ausência de gerra ou de conflitos violentos… Porque a paz que nos traz este “Príncipe da Paz”, este Deus Pacífico e Pacificador, significa, sobretudo, a Paz interior, quer dizer, todas essas coisas que a Palavra de hoje também nos recorda: salvação (“Jesus”), companhia e amizade divina (“Emanuel”), compaixão e perdão, solidariedade e paprtilha, alegria, felicidade,… e – principalmente, pois é o resumo de tudo – o sentirmo-nos filhos de Deus, porque “o somos de facto”. “Deus enviou o seu Filho… para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar Seus filhos… E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: «Abbá! Pai!»” (2ª L.).
E mais outra vez, cá está o Abbá (Pai-Mãe) que quer prolongar o “Seu sonho”… Agora, para demonstar a todos que “Quem inventou e criou o ser de mãe (e de pai) não o poderia ter feito se Ele próprio, na Sua misteriosa essência Divina, não fosse também Mãe e Pai”. Faltava-Lhe ainda uma última “experiência” – mas será que vai ser a última? – : nascer Ele próprio de uma mãe humana, para essa mulher ser a “Mãe de Deus”. E talvez assim, possamos entender melhor este admirável Mistério, embora sem deixar de ser mistério incompreensível para a mente humana.
Seja como for, e por tal motivo, este dia da oitava de Natal, que também é 1º de Janeiro, é dedicado em toda a Igreja Universal, à Celebração de MARIA, MÃE DE DEUS!
Deus e Pai nosso (Abbá!),
agora estás a olhar para nós e nós para Ti,
porque fazes brilhar sobre nós a Tua face…
e voltas para nós os Teus olhos…de paz.
Venha aTua bênção sobre nós
e resplandeça sobre nós a luz do Teu rosto…
Porque assim, através de nós,
se conhecerão na terra os Teus caminhos
e entre os povos a Tua salvação.
Alegrem-se, ó Pai-Mãe, e exultem as nações,
porque julgas os povos com justiça
mas o Teu Amor é mais forte que tudo.
Os povos Te louvem, ó Deus,
todos os povos Te louvem.
Que sintamos em nós a Tua bênção…
e o Teu Amor encha toda a terra!
[ do Salmo Responsorial / 66 (67) ]
26 Dezembro, 2013
«À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA»
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – A Sagrada Família – Domingo… )
«À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA»
No nosso mundo de hoje – e de sempre! – nesta sociedade, que é a nossa, muitos não sabem que nem tudo se pode conseguir com dinheiro… Desde logo, deveriam saber que, determinadas coisas «nem se podem comprar nem é possível vender»… Escutem esta:
«Entram duas pessoas na maior loja de brinquedos da cidade. É um jovem casal. Ambos os dois ficam a comtemplar, por muito tempo, todos esses brinquedos coloridos… Ao aproximar-se uma das empregadas, a mulher diz: – Sabe, temos uma menina pequena, mas nós passamos todo o dia fora de casa e, por vezes, até chegamos muito tarde… E o seu homem continua: – É uma menina que sorri muito pouco. – E queríamos comprar-lhe – intervém a mulher – alguma coisa que a torne feliz, mesmo quando nós estamos ausentes… Qualquer coisa que lhe dê alegria quando ela se encontra só… Então, a empregada sorri gentilmente e diz: – «Lamento, meus senhores, mas nós aqui não vendemos pais!». A conclusão é evidente. O que essa menina precisa é tão só uns verdadeiros pais! Mas isso, felizmente – sim, felizmente! – não se pode comprar… porque ninguém o pode vender!
Por outro lado, nesta mesma sociedade – que é a nossa – quantas vezes ouvimos lamentações deste género: Coitados os filhos daquele casal… como eles estão a sofrer as graves consequências das brigas, dos conflitos ou da “separação” entre os pais! Porque todos sabemos que, afinal, a parte mais fraca – os filhos – é que sofre as piores consequências nestas situações… E por vezes perguntamo-nos: Será que hoje é assim tão difícil viver um estilo de família e de casal de modo a sentirmo-nos Felizes?… É verdade que “os tempos mudam-se e as vontades também”… Isso é normal, e mal seria se não fosse! Mas isso significa que, se a vida humana e a sociedade circundante foi mudando, outras coisas não podem ficar paradas, estagnadas. Outras realidades são obrigadas a mudar, quanto à atitude e comportamento das pessoas, no sentido de fazer frente às dificuldades, diferentes, que agora nos envolvem. E será preciso encontrar um suplemento de luz para ver e outro de força de vontade, para sortear os perigos ou enfrentá-los com sucesso satisfatório…
Não será que não sabemos ou não queremos acudir à Palavra de Deus, onde sempre encontraremos o melhor caminho e solução? E o que é que a Palavra de hoje (na Festa da Família) tem para nos dizer neste campo?… Logo na 1ª leitura, no livro da Sabedoria de Bem Sira (Sr 3), vemos quantas coisas diversas, importantes e interessantes se pedem aos filhos com relação aos seus pais. Mas não esqueçamos o que diz a filosofia popular: “só pode ser bom filho quem antes foi bom pai”. O que a própria Palavra diz melhor: “quem honra o pai achará alegria nos seus filhos”. Quer isto dizer, portanto, que o que nesta Palavra se pede aos filhos pede-se igualmente aos pais. Eis o que deixou escrito o Bem Sira (há já quase vinte e cinco séculos): “Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados; e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com o teu pai nunca será esquecida…”. E tudo está dentro dos planos eternos do Pai Deus, como afirma a mesma Palavra logo no início: “Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe”. O plano de Deus, expresso no relato da Criação do ser humano, sabemos qual foi: “Fazer o Homem à sua imagem e semelhança”. Isto, não apenas quanto indivíduo mas, igualmente, quanto “sociedade familiar”. Porque a Família humana – devemos sabê-lo – é reflexo da “Família Trinitária”, o Deus Uno e Trino. Nada mais e nada menos!
Claro que, se os pais e as mães de hoje – ainda mais se são cristãos! – não tentam pautar a sua vida pessoal por estes conselhos, exortações e regras, ou por outros semelhantes, não podem pretender que os seus filhos sejam melhores do que por ventura são. “Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo”, escreve Paulo na Carta aos cristãos de Colossos (Cl 3 / 2ª L). E noutra parte anterior, vai lembrando, aos fiéis integrantes das famílias daquelas comunidades: “Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor”. Desde logo, quem tenta viver isto com sinceridade, é capaz de entender, no sentido correcto que o apóstolo Paulo dava a essas palavras naquele tempo, e que toda a gente compreendia… nomeadamente aquilo de “as esposas sejam submissas aos maridos” (?). (De todos modos, quem desejar uma explicação mais profunda e científica – que não cabe neste lugar – saiba que existem livros especializados no tema, para consultar.
O que, aqui e agora, importa, se quisermos encontrar sinceramente a Felicidade – no casal e na família – é aceitarmos com simplicidade, fortaleza e alegria a Palavra, que é Palavra de Deus, Palavra de Amor… sobretudo da parte dos que não são felizes na vida familiar… mas também para os que já o são, pois sempre se pode ser mais Feliz, e a Palavra faz bem a todos, desde que recebida e aceite com verdade e humildade!
Hoje, Senhor, que és “Abbá”, Pai-Mãe;
hoje, para louvor do Teu santo nome
e para exprimirmos o nosso amor por Ti,
permite-nos que louvemos com alegria
a Tua criatura predileta – o ser humano –
quando tenta ser fiel ao Teu Amor infinito:
«Feliz de ti, homem ou mulher,
mãe ou pai, esposa ou marido,
que tentas seguir o caminho do Senhor
e andar pelas Suas veredas amorosas.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem…
No íntimo do teu lar, ó homem,
a tua esposa será como videira fecunda,
os teus filhos serão como ramos de oliveira
ao redor da tua mesa…
Feliz de ti, mulher, esposa e mãe,
porque a tua fidelidade a Deus e aos homens
será abençoada como a parra fecunda…
e hás de te sentires recompensada
com o amor dos filhos dos teus filhos…
Desde Sião – cidade terrena e celeste –
te abençoe o Senhor com generosidade;
e vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida».
[ do Salmo Responsorial / 127 (128) ]
24 Dezembro, 2013
A MELHOR DAS NOTÍCIAS
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – NATAL do Senhor)
A MELHOR DAS NOTÍCIAS!
Os nossos pais na fé, os nossos antepassados do Antigo Testamento, não podiam imaginar aquela futura Promessa de Salvação a não ser como uma intervenção forte e violenta daquele “Deus terrível”, para acabar de vez com todos os inimigos do Povo. “O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações, e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52 / 1ª L.). Porque “descobrir o braço”, ainda que esse braço fosse “santo”, não deixava de ser, para os hebreus – nós sabemo-lo bem – uma manifestação de força bruta e de poder superior…
Mesmo assim, é evidente que o cumprimento dessa Promessa, quando acontecesse, seria a melhor de todas as possíveis Notícias, para um povo que – ainda que se orgulhasse de ser o Povo eleito de Deus – sentia na própria carne o domínio e a humilhação dos diversos opressores, déspotas e todo-poderosos… E é perfeitamente compreensível que, para quem se lamenta, geração após geração, da sua triste condição, desgraçada, explorada e insuportável, uma Notícia que anuncie – agora já definitivamente – a tão esperada e desejada Salvação, será a melhor das novidades, será realmente “a Boa Notícia”, a melhor de todas! Também o tinham deixado escrito os seus profetas: “Como serão belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncie a paz, que traga a boa nova, que proclame a salvação” (Is 52). Também sabemos nós que o tal mensageiro – que trinta anos depois seria João Batista – é agora precisamente “aquele anjo, acompanhado de um coro”, que proclama, naquela primeira Noite de Natal: «Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: ‘Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor’» (Lc 2). E o mais extraordinário é que essa criança que agora nasce – no tempo e no espaço – já existia, fora do espaço e do tempo, como “Verbo-Palavra”, pois “no princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele, e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens… E àqueles que O querem receber e acreditam no seu nome, dá-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”… (Jo 1 / 3ª L).
Então, quer isto dizer que já podemos alegrar-nos e regozijar-nos, seguindo as vozes e os coros de todos os “mensageiros”, daqueles de então e destes de agora, porque – é verdade! – «já estamos no Caminho da Salvação!». E digam agora se não é esta, sem dúvida, “A melhor das Notícias”! Aquela que, mais tarde e com toda a lógica, Jesus ia designar como «A Boa Nova» (“Evangelho”)…
Mas quem ia imaginar – quem! nos céus ou na terra – que a Salvação chegaria deste jeito tão simples… que o Salvador ia ser tão terno e frágil, tão pequeno e pobre, tão humilde e acessível… como esse bebé que jaz aninhado ao colo da jovem mãe… ou como essa criança que chora e dorme, sorri e acena, deitada nas palhinhas de uma miserável manjedoura?… Não é de admirar que a gente fique comovida, enternecida, abismada, e profundamente interpelada… ao contemplar a cena de um presépio qualquer, nesta quadra de NATAL, em qualquer lugar do mundo!… E a maravilha prossegue ao constatarmos que este Menino-Deus, ou Deus-Menino, está a dizer-nos, com a sua presença e atitude singela e silenciosa, que continua a ser concebido e a nascer em todos os bebés e crianças que – como Ele – iniciam a vida neste mundo. Ou então não seria verdade – lembram-se? – aquilo de “Emanuel – Deus connosco”! Sim, porque esta é, e não outra, a interpretação genuína e essencial do Mistério da In-carnação! E é isso que, por seu lado, querem significar os que afirmam: «Cada bebé que nasce nesta terra é uma aposta de Deus, renovada, por esta nossa Humanidade!»… Em consequência, não há nada a temer enquanto houver “crianças” a nascer, porque elas, desde a nascença, são também “Deus connosco”, Emanuel!
Agora entendemos melhor a Palavra do autor sagrado, na carta aos Hebreus (Hb 1 / 2ª L.): “Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. Sendo o Filho esplendor da sua glória e imagem da sua substância, tudo sustenta com a sua palavra poderosa… E foi a Ele que Deus disse: «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei»”.
E assim podemos e queremos louvar ao Senhor pelas maravilhas que Ele operou, e cantar-Lhe o Cântico Novo, porque o “cântico velho” – lembram-se? – já não tem sentido!
Afinal não foi “um braço de ferro”, Senhor,
mas foi a Tua mão e o Teu santo braço
que nos deram a vitória sobre o Mal.
E nós acreditamos, Senhor,
que o Teu “santo braço” não é a força física
mas a força interior – omnipotente –
que se manifesta e se renova
na debilidade do que é pequeno e frágil:
essa força interior que é capaz
– na fraqueza da Tua Bondade e Fidelidade –
de nos “abrir o caminho da Salvação”…
Esta é, Senhor, a “Boa Nova”, a melhor Notícia
que podia ser revelada aos olhos das nações,
em favor da casa de Israel,
– o Teu Povo, ó Deus, a Tua Igreja –.
Por isso nós, com todos os humanos,
com toda essa grande multidão dos redimidos,
juntamo-nos em coro, para aclamar-Te, ó Senhor,
ao som de instrumentos musicais
– os de corda e os de vento – :
«Tocai para o Senhor dos pequeninos:
tocai ao som da cítara e da lira;
tocai ao som da tuba e da trombeta;
aclamai o Senhor, nosso rei!».
[ do Salmo Responsorial / 97 (98) ]
19 Dezembro, 2013
“EMANUEL”, DEUS-CONNOSCO
– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –
(Ciclo A – 4º Domingo do Advento)
“EMANUEL”, DEUS-CONNOSCO.
Quando o homem não sabe o não quer saber, quando não é capaz de entender os planos divinos pelo caminho que seria normal e natural… Deus não “desanima” nem abandona; Ele nunca desiste. Deus sabe acudir então – como é Seu costume – ao campo do insólito, inexplicável, fantástico. Porque nisso, o Senhor nosso Deus, é mesmo desconcertante! “Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus?… Pois este é o sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel” (Is 7).
Uma “virgem” que, pelo facto de o ser – e sem deixar de sê-lo! – vai gerar, de carne e osso, um ser humano íntegro e perfeito, com todas as consequências!… E esta é uma promessa certa e coerente, como todas as Promessas Divinas. Não pode falhar! Os homens – coitados! – poderão duvidar do poder de Deus, mas lá vai um sinal: uma virgem – sempre virgem – vai ser mãe pela ação direta do Espírito… Os homens – coitados! – poderão continuar a hesitar, mas aparece uma outra mulher – esposa estéril – que vai gerar um filho na sua velhice, porque a Deus nada é impossível (Lc 1)…
Os homens – coitados! – poderão sentir-se sós, entregues à sua sorte, e longe de Deus, daquele “deus terrível” pintado assim na Bíblia do Antigo Testamento… mas “este filho”, nascido daquela mulher virgem, daquele “sonho de Deus, tingido de azul feminino” (lembram-se?), esse Filho é, nada menos, o próprio «Deus connosco» – Emanuel! (Mt 1). Portanto, agora já, “carne da nossa carne, forma da nossa forma”, da mesma natureza humana dos pobres mortais – “nascido segundo a carne…” (Rm 1). Agora já, solidário connosco em tudo, exceto no pecado. Ou seja, um Deus que se faz homem para fazer o homem Deus! Poderá haver mais proximidade entre amigos do que essa total transfiguração, essa mútua transformação? (Ele em mim e eu n’Ele, que dirão os místicos). Poderá já, e doravante, o homem pensar o sentir-se abandonado, afastado, distante, sozinho…? Só se ele, no uso da sua liberdade consciente, decide optar pelo mal ou resolve seguir o maligno… É verdade que Deus utiliza a pedagogia do ocultamento (“gosta do jogo das escondidas”?) para experimentar a força do nosso amor, a consistência da nossa amizade. Dizem-no melhor os místicos:
“Onde é que Tu, Amado,
Te escondeste, deixando-me em gemido?
Fugiste como o veado,
havendo-me ferido;
clamando fui por Ti e já eras ido!”.
(S. João da Cruz – “Cântico espiritual”)
Mesmo assim, Deus – o Amado – não pode deixar de ser “Emanuel”, Deus connosco, sempre, sempre, sempre!
É isso que pretende o evento do Natal, tantas vezes repetido, ano após ano, sem parar, sempre antigo e sempre novo… com o objetivo – pedagógico – de gravar na mente e no coração dos humanos, para que jamais nos caia da memória essa feliz realidade: a “imanência” divina na essência humana. Se falássemos em linguagem antropológica, diríamos: Deus não poderia sair de nós, mesmo que quisesse!
Talvez por isso, apetece-nos cantar, com as crianças, que, já agora, são sempre as protagonistas na quadra Natalícia, esta canção infantil: «Aconteça o que acontecer, nós temos um Pai – Abbá – que espera por nós!».
Como é possível, Senhor,
esta loucura da Tua encarnação?
Como é possível que o Deus imenso,
– de Quem é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam –
possa caber no seio de uma virgem humana,
entrar no ventre finito O que é Infinito?
Olhamos para Ti, Senhor, Deus-bebé,
e percebemos como está errada
aquela história do Deus Altíssimo…
quando na realidade Tu és “baixíssimo”.
Compreendemos que só desde o pequeno,
desde o que tem as mãos inocentes,
desde uma alma pura como a da criança,
é que será possível subir à Tua montanha
e habitar no Teu santuário.
Só quem tem o coração “virgem”
– tal como o de Maria, a Virgem de Nazaré –
e não se deixa contaminar pelo mal,
poderá in-carnar em si o Deus-Amor.
E este é que será abençoado por Ti,
Senhor, com a recompensa da Salvação!…
[ do Salmo Responsorial / 23 (24) ]
4 Fevereiro, 2014
O “FRÁGIL” CONFUNDIRÁ O “FORTE”…
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
27. A – Domingo 4 do Tempo comum –