– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

 

 (Ciclo A – 4º Domingo do Advento)

Emanuel - Virgem

 

“EMANUEL”, DEUS-CONNOSCO.

 

Quando o homem não sabe o não quer saber, quando não é capaz de entender os planos divinos pelo caminho que seria normal e natural… Deus não “desanima” nem abandona; Ele  nunca desiste. Deus sabe acudir então – como é Seu costume – ao campo do insólito, inexplicável, fantástico. Porque nisso, o Senhor nosso Deus, é mesmo desconcertante! “Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus?… Pois este é o sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel” (Is 7).

Uma “virgem” que, pelo facto de o ser – e sem deixar de sê-lo! – vai gerar, de carne e osso, um ser humano íntegro e perfeito, com todas as consequências!… E esta é uma promessa certa e coerente, como todas as Promessas Divinas. Não pode falhar! Os homens – coitados! – poderão duvidar do poder de Deus, mas lá vai um sinal: uma virgem – sempre virgem – vai ser mãe pela ação direta do Espírito… Os homens – coitados! – poderão continuar a hesitar, mas aparece uma outra mulher – esposa estéril – que vai gerar um filho na sua velhice, porque a Deus nada é impossível (Lc 1)…

Os homens – coitados! – poderão  sentir-se sós, entregues à sua sorte, e longe de Deus, daquele “deus terrível” pintado assim na Bíblia do Antigo Testamento… mas “este filho”, nascido daquela mulher virgem, daquele “sonho de Deus, tingido de azul feminino” (lembram-se?), esse Filho é, nada menos, o próprio «Deus connosco» – Emanuel! (Mt 1). Portanto, agora já, “carne da nossa carne, forma da nossa forma”, da mesma natureza humana dos pobres mortais – “nascido segundo a carne…” (Rm 1). Agora já, solidário connosco em tudo, exceto no pecado. Ou seja, um Deus que se faz homem para fazer o homem Deus! Poderá haver mais proximidade entre amigos do que essa total transfiguração, essa mútua transformação? (Ele em mim e eu n’Ele, que dirão os místicos). Poderá já, e doravante, o homem pensar o sentir-se abandonado, afastado, distante, sozinho…?  Só se ele, no uso da sua liberdade consciente, decide optar pelo mal ou resolve seguir o maligno… É verdade que Deus utiliza a pedagogia do ocultamento (“gosta do jogo das escondidas”?) para experimentar a força do nosso amor, a consistência da nossa amizade. Dizem-no melhor os místicos:

“Onde é que Tu, Amado,
Te escondeste, deixando-me em gemido?
Fugiste como o veado,
havendo-me ferido;
clamando fui por Ti e já eras ido!”.
                                        (S. João da Cruz – “Cântico espiritual”)

Mesmo assim, Deus – o Amado – não pode deixar de ser “Emanuel”, Deus connosco, sempre, sempre, sempre!

É isso que pretende o evento do Natal, tantas vezes repetido, ano após ano, sem parar, sempre antigo e sempre novo… com o objetivo – pedagógico – de gravar na mente e no coração dos humanos, para que jamais nos caia da memória essa feliz realidade: a “imanência” divina na essência humana. Se falássemos em linguagem antropológica, diríamos: Deus não poderia sair de nós, mesmo que quisesse!

Talvez por isso, apetece-nos cantar, com as crianças, que, já agora, são sempre as protagonistas na quadra Natalícia, esta canção infantil: «Aconteça o que acontecer, nós temos um Pai – Abbá – que espera por nós!».

Como é possível, Senhor,
esta loucura da Tua encarnação?
Como é possível que o Deus imenso,
– de Quem é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam –
possa caber no seio de uma virgem humana,
entrar no ventre finito O que é Infinito?
Olhamos para Ti, Senhor, Deus-bebé,
e percebemos como está errada
aquela história do Deus Altíssimo
quando na realidade Tu és “baixíssimo”.
Compreendemos que só desde o pequeno,
desde o que tem as mãos inocentes,
desde uma alma pura como a da criança,
é que será possível subir à Tua montanha
e habitar no Teu santuário.
Só quem tem o coração “virgem”
– tal como o de Maria, a Virgem de Nazaré –
e não se deixa contaminar pelo mal,
poderá in-carnar em si o Deus-Amor.
E este é que será abençoado por Ti,
Senhor, com a recompensa da Salvação!…
 [ do Salmo Responsorial / 23 (24) ]