LUZ PARA AS NAÇÕES…

“Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais… Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor… Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata…” (Ml 3 / 1ª L.). Sim, outra vez palavras misteriosas, palavras que desconcertam; palavras onde se contrapõe «o Anjo da Aliança por quem suspiramos» com «o fogo de fundidor… para fundir e purificar». É que o Deus-Amor, capaz de – humildemente – entrar no seu templo prontamente, trazendo um recado amoroso de Salvação… este Senhor do Universo, é tudo menos um boneco com o que se pode brincar impunemente! Quem estiver disposto a receber a Salvação que Ele traz e oferece, tem de o fazer com todas as consequências. Porque há de saber que as suas próprias obras e até às suas intenções terão de ser fundidas e purificadas, como se purifica o ouro e a prata. Aqui não valem enganos, meias-tintas, aparências… numa palavra: a mentira aqui não tem nada a fazer! Ou apostas na Verdade, meu amigo, ou estás perdido! E só o trigo bom, o trigo da Verdade, é alimento e semente de Vida Eterna; o joio e a palha – frutos e lixos da mentira – serão pasto das chamas, naquele fogo escaldante, abrasador…

A Salvação, porém, essa que leva em si um peso de Eternidade, não era possível sem um Redentor adequado e eficaz. Era conveniente e necessário que o Libertador, sem deixar de ser o Filho de Deus, nascendo de entre os humanos, saísse do meio dos homens, do seio desse “povo a redimir”. É que nenhum ser, só humano, poderia salvar “os filhos dos homens”… Mas também não era “possível” – segundo os desígnios de Deus! – que Ele, só pela sua Divindade, realizasse a Salvação daqueles pobres desgraçados… “Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas dos descendentes de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos”… Sendo certo, portanto, que o Filho tinha tomado a mesma carne e o mesmo sangue, “participando da mesma natureza humana”, seria assim a pessoa idónea e designada “para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo”… Toda a gente percebe que só quem passou pelas mesmas misérias é que pode compreender os miseráveis. “Porque, de facto, se Ele próprio foi provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação”... Ficava então, e só deste modo, constituído o verdadeiro e eterno “sumo Sacerdote” – Mediador entre Deus e os homens –. “Semelhante em tudo aos seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar os pecados do povo” (Hb 2 / 2ª L.).

Neste contexto, entendemos melhor o gesto que neste dia celebramos. Será este “o primeiro passo” dessa entrega total do Servo, homem entre os homens, “Filho do homem”, na sua Apresentação no templo; isto é, na sua «primeira Consagração ao Pai», submetido já às leis humanas. “Segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor»”. E é preciso realçar, desde este primeiro momento, a perfeita colaboração – “necessária e suficiente” – da Virgem Mãe, que antes oferecera a sua própria carne de mulher, e agora apresenta os seus braços maternais. Porque a história deve continuar, a história – lembram-se? – “daquele sonho feminino” de Deus! E neste episódio, ficamos todos a conhecer: Ela estava chamada, já desde as origens, a ser “Corredentora”, associada sempre ao Redentor. “Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações»”… (Lc 2 / 3ª L.).

Todo o mundo reconhece, Senhor,

que és o “Rei de todo o Universo”,

embora muitos não Te aceitam com amor

no acontecer das suas vidas…

Nós sabemos, Senhor, que és capaz,

apesar da tua imensa grandeza,

de Te fazeres pequeno e frágil

até caber nas estreitas dimensões

do sagrado ventre da mulher-mãe…

E, no entanto, devemos proclamar, ó Deus:

«Levantai, ó portas, os vossos umbrais,

alteai-vos, pórticos antigos,

para poder entrar o Rei da glória!».

Louvamos-Te, hoje, Jesus, “Luz das nações”,

ainda bebé nesses braços maternais!…

E com o carinho da Tua e nossa Mãe, Maria,

– nos seus braços puros e amorosos –

aprendamos a crescer com vigor

em sabedoria e em graça, como Tu,

na presença de Deus e diante dos homens…

[ do Salmo Responsorial / 23 (24) ]