PODERÁ HAVER «AMOR SEM CRUZ»?
Deus esperou… e esperou… ao longo da história da salvação… até que os seres humanos estivessem preparados para entender a linguagem do Amor. Esperou… até que o rude e fraco coração humano fosse sensível ao Amor… Como é infinita a paciência de Deus!
Antes desse momento, e durante muitas gerações, JAVÉ (era este o nome que os homens de coração rude e fraco davam a Deus) tinha feito diversas “alianças” – que só podiam ser “rudimentares”, consoante o que eles eram capazes de apreender – para tentar provar, testar, a “consistência” do amor humano… Diz Javé-Deus, pela boca de Jeremias (na 1ª leitura) referindo-se a uma «antiga aliança» falhada: “…Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu tivesse domínio sobre eles, diz o Senhor”. Alianças deste género, Deus fez, reiteradamente, com «esse povo de dura cerviz»; mas os resultados foram «alianças frustradas», pelas infidelidades do povo. E também sucessivas vezes, foi prometido ao povo uma “aliança nova” e diferente, como aquela que aqui se promete: “…Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração…”. Então, sim, a partir desse momento – porque já o coração humano será capaz de aceitar o Amor e responder com amor desde o seu íntimo – a partir de aqui, a Aliança, que nunca tinha falhado da parte do «Deus Fiel», também agora não vai falhar da parte do homem. Isto, claro, não por mérito humano mas por “graça de Deus”, pois como fica dito, vai “inscrever a Sua lei (de Amor) no mais íntimo da alma e do coração”, o que acontecerá quando se realizar – no espaço e no tempo – a Encarnação do Filho de Deus, na pessoa de Jesus. Ou, por outras palavras, ao cumprir-se o “sonho Divino” de «Se incarnar na própria natureza humana». Se o mesmo Deus está – “é” – no ser humano, então, “já não terão de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprende a conhecer o Senhor»”, pois, no seu íntimo, “todos eles Me conhecerão…”. (Jr 31 / 1ª L.).
Cá está, portanto, a Nova e Eterna Aliança! E esta é a lição que Deus – o Amor – dá a todos os «aprendizes do Amor»: O Amor não se impõe a ninguém, e ainda menos desde o exterior! O Amor dá-se!… Por isso, “falsos amores” são todos os que resultam da utilização do “amor” para dominar alguém. O amor autêntico – lembram-se? – nada espera em troca, porque o único prémio do verdadeiro amor é o próprio amor. Amor cria Amor, sem limites. E esse Amor nunca pode tirar a liberdade a ninguém!
Que o diga, se não, o mesmo Filho Jesus, “o Deus Incarnado”! Como é difícil isto de “dar Amor”, “entregar-se até ao fim, por amor oblativo”! Bem o soube interpretar o autor da carta aos Hebreus: “Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas – com grandes clamores e lágrimas – Àquele que o podia livrar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento…”. (Hb 5 / 2ª L.). Mas que coisa maravilhosa e, ao mesmo tempo, enigmática! Como é que Jesus “foi atendido (pelo Pai) nas suas preces e súplicas” se, logo a seguir, diz que “apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento”? Como é que Deus Pai O escutou e atendeu?… Não será que a oração de Jesus não foi para Se livrar desse “sofrimento e morte”, mas para conseguir ser fiel ao Amor – amor oblativo – que exigia a entrega total até à morte e morte de cruz? Desde logo, agora é que nós entendemos o que Jesus tinha dito noutra altura: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. (ver: Jo 15, 13).
Deixemos, em fim, que, nesta conjuntura, nos penetre a Palavra e a Vida do próprio Jesus, no Evangelho de hoje. “«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto…”. Porém, à hora da verdade, a situação apresenta-se difícil e complicada: “Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome»…”. É bem verdade que, apesar do conflito instalado no Seu interior, Jesus aceita a vontade do Pai, porque, na sua entrega total, por Amor, está a salvação da Humanidade. E, como sabemos, isto será realizado e cumprido através da Cruz: “Quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim»”. (Jo 12 / 3ª L.). É mesmo «Palavra da Salvação»!
Eu preciso com urgência, Senhor,
um coração limpo, puro e genuíno…
Já chega de coração manchado
– frio, rude, incapaz, insensível –
ignorante do que é Amor verdadeiro.
Compadece-Te, ó Deus, pela Tua bondade:
Apaga, deste amor-coração rebelde,
todas as nódoas que lhe ficaram apegadas
nos caminhos escuros de amores egoístas…
Que nasça no profundo do meu ser
um espírito firme de Amor verdadeiro.
Nunca se afaste de mim, ó Pai,
o Teu espírito de Amor e santidade,
que me envolva e cative o coração…
E assim, com esse Amor que reavives em mim,
contagiarei aos corações vadios e errantes,
e os amores transviados hão de voltar para Ti…
[ do Salmo Responsorial / 50 (51) ]
19 Março, 2015
PODERÁ HAVER «AMOR SEM CRUZ»?
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
PODERÁ HAVER «AMOR SEM CRUZ»?
Deus esperou… e esperou… ao longo da história da salvação… até que os seres humanos estivessem preparados para entender a linguagem do Amor. Esperou… até que o rude e fraco coração humano fosse sensível ao Amor… Como é infinita a paciência de Deus!
Antes desse momento, e durante muitas gerações, JAVÉ (era este o nome que os homens de coração rude e fraco davam a Deus) tinha feito diversas “alianças” – que só podiam ser “rudimentares”, consoante o que eles eram capazes de apreender – para tentar provar, testar, a “consistência” do amor humano… Diz Javé-Deus, pela boca de Jeremias (na 1ª leitura) referindo-se a uma «antiga aliança» falhada: “…Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu tivesse domínio sobre eles, diz o Senhor”. Alianças deste género, Deus fez, reiteradamente, com «esse povo de dura cerviz»; mas os resultados foram «alianças frustradas», pelas infidelidades do povo. E também sucessivas vezes, foi prometido ao povo uma “aliança nova” e diferente, como aquela que aqui se promete: “…Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração…”. Então, sim, a partir desse momento – porque já o coração humano será capaz de aceitar o Amor e responder com amor desde o seu íntimo – a partir de aqui, a Aliança, que nunca tinha falhado da parte do «Deus Fiel», também agora não vai falhar da parte do homem. Isto, claro, não por mérito humano mas por “graça de Deus”, pois como fica dito, vai “inscrever a Sua lei (de Amor) no mais íntimo da alma e do coração”, o que acontecerá quando se realizar – no espaço e no tempo – a Encarnação do Filho de Deus, na pessoa de Jesus. Ou, por outras palavras, ao cumprir-se o “sonho Divino” de «Se incarnar na própria natureza humana». Se o mesmo Deus está – “é” – no ser humano, então, “já não terão de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprende a conhecer o Senhor»”, pois, no seu íntimo, “todos eles Me conhecerão…”. (Jr 31 / 1ª L.).
Cá está, portanto, a Nova e Eterna Aliança! E esta é a lição que Deus – o Amor – dá a todos os «aprendizes do Amor»: O Amor não se impõe a ninguém, e ainda menos desde o exterior! O Amor dá-se!… Por isso, “falsos amores” são todos os que resultam da utilização do “amor” para dominar alguém. O amor autêntico – lembram-se? – nada espera em troca, porque o único prémio do verdadeiro amor é o próprio amor. Amor cria Amor, sem limites. E esse Amor nunca pode tirar a liberdade a ninguém!
Que o diga, se não, o mesmo Filho Jesus, “o Deus Incarnado”! Como é difícil isto de “dar Amor”, “entregar-se até ao fim, por amor oblativo”! Bem o soube interpretar o autor da carta aos Hebreus: “Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas – com grandes clamores e lágrimas – Àquele que o podia livrar da morte, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento…”. (Hb 5 / 2ª L.). Mas que coisa maravilhosa e, ao mesmo tempo, enigmática! Como é que Jesus “foi atendido (pelo Pai) nas suas preces e súplicas” se, logo a seguir, diz que “apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento”? Como é que Deus Pai O escutou e atendeu?… Não será que a oração de Jesus não foi para Se livrar desse “sofrimento e morte”, mas para conseguir ser fiel ao Amor – amor oblativo – que exigia a entrega total até à morte e morte de cruz? Desde logo, agora é que nós entendemos o que Jesus tinha dito noutra altura: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. (ver: Jo 15, 13).
Deixemos, em fim, que, nesta conjuntura, nos penetre a Palavra e a Vida do próprio Jesus, no Evangelho de hoje. “«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto…”. Porém, à hora da verdade, a situação apresenta-se difícil e complicada: “Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome»…”. É bem verdade que, apesar do conflito instalado no Seu interior, Jesus aceita a vontade do Pai, porque, na sua entrega total, por Amor, está a salvação da Humanidade. E, como sabemos, isto será realizado e cumprido através da Cruz: “Quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim»”. (Jo 12 / 3ª L.). É mesmo «Palavra da Salvação»!
Eu preciso com urgência, Senhor,
um coração limpo, puro e genuíno…
Já chega de coração manchado
– frio, rude, incapaz, insensível –
ignorante do que é Amor verdadeiro.
Compadece-Te, ó Deus, pela Tua bondade:
Apaga, deste amor-coração rebelde,
todas as nódoas que lhe ficaram apegadas
nos caminhos escuros de amores egoístas…
Que nasça no profundo do meu ser
um espírito firme de Amor verdadeiro.
Nunca se afaste de mim, ó Pai,
o Teu espírito de Amor e santidade,
que me envolva e cative o coração…
E assim, com esse Amor que reavives em mim,
contagiarei aos corações vadios e errantes,
e os amores transviados hão de voltar para Ti…
[ do Salmo Responsorial / 50 (51) ]