
(Ciclo B – Domingo 26 do T. Comum…)
APOSTAMOS NA “IN-FELICIDADE”!
Deleitar-se no próprio sofrimento (masoquismo) considera-se um “desvio” (doentio/extranormal) da natureza humana. Lembram-se? Porém, «invejar os outros por acharmos que são superiores a nós em determinados aspetos»… é qualquer coisa que parece “conatural” à mesma humana natureza; tanto, que a inveja considera-se um dos «sete vícios ou pecados capitais»; sim, “capitais” porque originam, são “raiz” de outros vícios. Há quem defina a inveja como «a vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser». Ao que parece, chega a ser tão comum e “universal” este vício que até «a filosofia popular» consagrou-lhe um dos seus ditados: «Se a inveja fosse “tinha”, quantos tinhosos haveria!». E, desde logo, a inveja é mais nefasta para o espírito do que a tinha para o corpo.
Tão antigo, portanto, como a humanidade (aí está a “inicial” inveja de Caim!) não admira que este vício ou pecado apareça bem “retratado” já desde as primeiras Escrituras e Histórias do Antigo Testamento. Observemos esta “bela coleção” de “invejas” entre personagens do AT: já desde o primeiro Livro, o Génesis (Gn 4,5-8; 30,1; 37,11…); ou então, em “sentenças” como estas: “a inveja mata o imbecil” (Jb 5, 2): “a inveja é como a cárie dos ossos” (Pr 14, 30); “a sua inveja e ódio pereceram juntamente com eles” (Ecl 9, 6); “por inveja do diabo é que a morte entrou no mundo” (Sb 2, 24); “a inveja e a ira abreviam os dias do homem” (Sir 30, 24); etc. E se formos já para a primeira leitura da Palavra de hoje do AT, no livro dos Números, continuamos a constatar a fundura das raízes deste pecado da inveja ou ciúme: “O Espírito poisou também sobre eles… e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué… tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim?”... Ainda bem que, nesta passagem, como noutras muitas, surge uma voz carismática (neste caso a do próprio Moisés) que tenta corrigir o vício e repor a verdade e a transparência: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»”. (Nm 11 / 1ª L.).
E agora, perguntamos nós, o que é que ganha o homem – que ganhamos nós! – ao cultivarmos este vício que, em definitivo só produz infelicidade na nossa alma e coração, ficando o sabor amargo de uma vida apática, nojenta e sem sentido? Quer queiramos quer não, deixar-se dominar pela inveja é como «apostar numa insensata infelicidade» ilimitada! É incompreensível: além de tudo, parvos! Que tristeza!
Pois… «as Idades do homem» sucedem-se, e, ao iniciar-se o NT, no tempo de Jesus, o domínio das “invejas” continua… Naquela altura, foi o discípulo João que disse a Jesus (no Evangelho de hoje): “«Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em Teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco»”. É sempre a mesma história («o outro não pode ser como eu e ainda menos superior a mim!»). Desta vez a voz carismática de Jesus – como outrora a de Moisés – vem repor a Verdade: “«Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós»”. (Mc 9 / 3ª L.). E é que “a recompensa – prossegue Jesus – até pelo facto tão simples de ter dado a beber um copo de água” só pode ser para aqueles que não se deixam envolver pela infelicidade deste vício da inveja e os ciúmes, raiz de tantos males e escândalos…
Mas, as tais Idades do homem chegam até nós, e “o império da inveja” continua “vivo e pujante”(?), aliás, está na origem de todas as guerras!… Basta olhar atentamente à nossa volta, para ver como se devoram, uns aos outros pela inveja, os indivíduos predominantes nesta sociedade, que é a nossa, controlada e subjugada pelo imperialismo consumista competitivo… Claro que não vamos transcrever aqui a Carta de Tiago (Tg 5, 1-6 / 2ª L) para não ultrapassarmos o espaço normal desta Reflexão. Mas trata-se do “retrato perfeito” dos tais indivíduos – consumistas compulsivos e competitivos – “retrato pintado há vinte séculos” mas como se estivesse a contemplar, em profecia previdente, esta nossa sociedade de hoje. Então, seria muito bom fazermos a leitura atenta deste Texto do apóstolo Tiago, para, sinceramente, nos perguntarmos se não estaremos nós contagiados deste “vício”!
Eu sei, nós sabemos, Senhor,
que a Tua lei de amor é perfeita,
e que está inscrita no nosso coração
para, no bom combate, vencermos os vícios capitais…
A Tua lei amorosa nos ajude, Senhor,
para triunfarmos sobre as invejas e ciúmes…
porque os Teus preceitos alegram o coração,
e as Tuas ordens são firmes e reconfortantes,
e dão sabedoria aos simples e puros de espírito…
Embora os Teus filhos, ó Pai nosso, tentamos
deixar-nos guiar pelos Teus juízos e mandatos,
e observá-los com inteligência e sumo cuidado,
quem pode, porém, reconhecer os seus erros?…
Purifica-nos também dos outros erros que nos são ocultos,
e preserva-nos dos “demónios” interiores da inveja;
que eles não tenham poder algum sobre nós!
Prometemos, então, fidelidade ao compromisso
de evitarmos aquele contágio, e permanecermos imunes
a qualquer vício que nos leve à “in-felicidade”!
[ do Salmo Responsorial / 18 (19) ]
25 Setembro, 2015
APOSTAMOS NA “IN-FELICIDADE”!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo B – Domingo 26 do T. Comum…)
APOSTAMOS NA “IN-FELICIDADE”!
Deleitar-se no próprio sofrimento (masoquismo) considera-se um “desvio” (doentio/extranormal) da natureza humana. Lembram-se? Porém, «invejar os outros por acharmos que são superiores a nós em determinados aspetos»… é qualquer coisa que parece “conatural” à mesma humana natureza; tanto, que a inveja considera-se um dos «sete vícios ou pecados capitais»; sim, “capitais” porque originam, são “raiz” de outros vícios. Há quem defina a inveja como «a vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser». Ao que parece, chega a ser tão comum e “universal” este vício que até «a filosofia popular» consagrou-lhe um dos seus ditados: «Se a inveja fosse “tinha”, quantos tinhosos haveria!». E, desde logo, a inveja é mais nefasta para o espírito do que a tinha para o corpo.
Tão antigo, portanto, como a humanidade (aí está a “inicial” inveja de Caim!) não admira que este vício ou pecado apareça bem “retratado” já desde as primeiras Escrituras e Histórias do Antigo Testamento. Observemos esta “bela coleção” de “invejas” entre personagens do AT: já desde o primeiro Livro, o Génesis (Gn 4,5-8; 30,1; 37,11…); ou então, em “sentenças” como estas: “a inveja mata o imbecil” (Jb 5, 2): “a inveja é como a cárie dos ossos” (Pr 14, 30); “a sua inveja e ódio pereceram juntamente com eles” (Ecl 9, 6); “por inveja do diabo é que a morte entrou no mundo” (Sb 2, 24); “a inveja e a ira abreviam os dias do homem” (Sir 30, 24); etc. E se formos já para a primeira leitura da Palavra de hoje do AT, no livro dos Números, continuamos a constatar a fundura das raízes deste pecado da inveja ou ciúme: “O Espírito poisou também sobre eles… e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué… tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim?”... Ainda bem que, nesta passagem, como noutras muitas, surge uma voz carismática (neste caso a do próprio Moisés) que tenta corrigir o vício e repor a verdade e a transparência: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»”. (Nm 11 / 1ª L.).
E agora, perguntamos nós, o que é que ganha o homem – que ganhamos nós! – ao cultivarmos este vício que, em definitivo só produz infelicidade na nossa alma e coração, ficando o sabor amargo de uma vida apática, nojenta e sem sentido? Quer queiramos quer não, deixar-se dominar pela inveja é como «apostar numa insensata infelicidade» ilimitada! É incompreensível: além de tudo, parvos! Que tristeza!
Pois… «as Idades do homem» sucedem-se, e, ao iniciar-se o NT, no tempo de Jesus, o domínio das “invejas” continua… Naquela altura, foi o discípulo João que disse a Jesus (no Evangelho de hoje): “«Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em Teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco»”. É sempre a mesma história («o outro não pode ser como eu e ainda menos superior a mim!»). Desta vez a voz carismática de Jesus – como outrora a de Moisés – vem repor a Verdade: “«Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós»”. (Mc 9 / 3ª L.). E é que “a recompensa – prossegue Jesus – até pelo facto tão simples de ter dado a beber um copo de água” só pode ser para aqueles que não se deixam envolver pela infelicidade deste vício da inveja e os ciúmes, raiz de tantos males e escândalos…
Mas, as tais Idades do homem chegam até nós, e “o império da inveja” continua “vivo e pujante”(?), aliás, está na origem de todas as guerras!… Basta olhar atentamente à nossa volta, para ver como se devoram, uns aos outros pela inveja, os indivíduos predominantes nesta sociedade, que é a nossa, controlada e subjugada pelo imperialismo consumista competitivo… Claro que não vamos transcrever aqui a Carta de Tiago (Tg 5, 1-6 / 2ª L) para não ultrapassarmos o espaço normal desta Reflexão. Mas trata-se do “retrato perfeito” dos tais indivíduos – consumistas compulsivos e competitivos – “retrato pintado há vinte séculos” mas como se estivesse a contemplar, em profecia previdente, esta nossa sociedade de hoje. Então, seria muito bom fazermos a leitura atenta deste Texto do apóstolo Tiago, para, sinceramente, nos perguntarmos se não estaremos nós contagiados deste “vício”!
Eu sei, nós sabemos, Senhor,
que a Tua lei de amor é perfeita,
e que está inscrita no nosso coração
para, no bom combate, vencermos os vícios capitais…
A Tua lei amorosa nos ajude, Senhor,
para triunfarmos sobre as invejas e ciúmes…
porque os Teus preceitos alegram o coração,
e as Tuas ordens são firmes e reconfortantes,
e dão sabedoria aos simples e puros de espírito…
Embora os Teus filhos, ó Pai nosso, tentamos
deixar-nos guiar pelos Teus juízos e mandatos,
e observá-los com inteligência e sumo cuidado,
quem pode, porém, reconhecer os seus erros?…
Purifica-nos também dos outros erros que nos são ocultos,
e preserva-nos dos “demónios” interiores da inveja;
que eles não tenham poder algum sobre nós!
Prometemos, então, fidelidade ao compromisso
de evitarmos aquele contágio, e permanecermos imunes
a qualquer vício que nos leve à “in-felicidade”!
[ do Salmo Responsorial / 18 (19) ]