48b- Afinal, sofrer para quê!

 (Ciclo B – Domingo 25 do T. Comum…) 

«AFINAL, “SOFRER” PARA QUÊ?»

Poderá haver alguma gente que “goste da dor”, que “sinta prazer no próprio sofrimento”. Sabemos que há gostos para tudo e tendências de todo o género… até para sentir prazer naquilo que, por definição, seria exatamente o contrário. Aliás, para esta tendência, que está “fora do normal”, “fora do amor” (“parafílica”), existe já o termo “masoquismo” (do escritor L. S. Masoch). É evidente que, para o comum dos mortais (os ditos normais), a dor em si mesma, o sofrimento como tal, não é procurado, antes é evitado por todos os meios. E, mesmo para os masoquistas, haverá sempre uma classe de dores e padecimentos que lhes causarão angústia ou tortura… Então, aí somos todos coincidentes. E trata-se agora, precisamente, desta questão!

É que todo o ser humano normal pergunta-se, uma e mil vezes: que sentido tem, para mim, tudo isto que fere e magoa (dores, desgostos, angústias, aflições, amarguras…) tão omnipresentes na vida dos humanos em geral? Será que, afinal, também isso terá uma “explicação”, uma justificação?

Certamente, os que pretendem viver “na justiça” e na verdade, às vezes são perseguidos, magoados, torturados… por aqueles que se julgam seus inimigos, como diz a Palavra hoje: “Disseram os ímpios: «Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras… Provemo-lo com ultrajes e torturas, para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua paciência…»” (Sb 2 / 1ª L.). Não são apenas esses “justos” que padecem, mas também estes – a quem a Sabedoria chama “ímpios” – que sofrem, antes ou depois, e de muitas maneiras… E o problema está aí, exatamente: Ninguém se livra do sofrimento! Eis outro “mistério”!

Para projetar uma luz diferente sobre esta questão, o apóstolo Tiago mostra algumas pistas, no texto da sua Carta de hoje: “Onde há inveja e rivalidade, também há desordem e toda a espécie de más ações… De onde vêm as guerras? De onde procedem os conflitos entre vós? Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros?… Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras”… (Tg 3 / 2ª L.). De onde se deduz que a maior parte de todos os nossos dissabores e sofrimentos têm origem nas baixas paixões e más inclinações…

No campo do Amor – lembram-se? – já lhe encontramos um sentido ao sofrimento, em qualquer uma das suas formas. E, evidentemente, aí reside o ponto de partida, a chave inicial deste mistério. Assim sendo, temos de prosseguir até encontrarmos a explicação – do “para quê” – na direção e sentido convenientes. Mas, em definitivo, enfrentar o sofrimento pelo bem daquele(s) que amamos e nos amam, não é assim tão difícil de compreender e aceitar. A dificuldade aparece quando “é necessário” (!?) passar pela dor e o sofrimento – assumidos por amor! – para cooperar na “corredenção” (!?) de todos, até dos nossos inimigos; sim, daqueles “ímpios que armam ciladas ao justo… e o provam com ultrajes e torturas…” (como vimos que dizia o livro da Sabedoria).

Ora bem, sendo assim, “necessário”, exercermos nós de “co-redentores” (com minúscula), quem é então – perguntamos nós – o “Redentor” (com maiúscula)? E de que modo é que foi realizada por Ele, e consumada, a “Redenção” (Resgate, Libertação, Salvação)?… O Evangelho de hoje tem esta resposta:

Quando, naquela altura, “Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia, em direção a Jerusalém (escreve Marcos) ia ensinando os discípulos, e dizia-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar”(Mc 9 / 3ª L.). E quem é que compreende essa linguagem de tormentos, torturas e morte… sobretudo quando não se tem a perspetiva de um «para quê» redentor? Nós sabemos, porém, que Jesus foi explicando, especialmente aos seus discípulos, de vários modos e em diversas ocasiões, que “era necessário que o Filho do homem, para salvar toda a humanidade, padecesse a paixão da cruz, até à morte, e ressuscitasse ao terceiro dia”… E nós agora temos tudo mais claro, embora aceitando sempre “o mistério da dor”! Podemos, sim, conhecer melhor o valor salvador da cruz, o «para quê» co-redentor do sofrimento: É sempre “necessário” para a Salvação de todos os homens!

Então, podemos concluir: Ai de nós se ainda não apreendemos e assumimos – nas nossas dores e cruzes da vida terrena – este serviço de co-redenção por Amor!

 

Quantas vezes sinto, Senhor,

– mormente no meio das dificuldades –

que és Tu quem sustenta a minha vida,

Tu, quem me salva por Amor!

E quando experimento as aflições,

ou me sinto injustamente lesado

pelos arrogantes e violentos deste mundo,

que se levantam e arremetem contra mim

e atentam vilmente contra a minha vida…

então, de bom grado oferecerei sacrifícios,

mas outra espécie de “sacrifícios”, só por amor!…

Serão essas cruzes – minhas e “deles” –

que, unidas à Cruz Redentora de Cristo Jesus

e a todas as cruzes e mortes “corredentoras”

de tantos irmãos espalhados pelo mundo…

têm em Ti e pelo Teu Amor e Perdão, ó Pai,

um sentido e um valor “de Salvação Eterna”…

[ do Salmo Responsorial / 53 (54) ]