47b- Agora é Pedro, logo Satanás

 (Ciclo B – Domingo 24 do T. Comum…) 

AGORA É «PEDRO», LOGO «SATANÁS»

Como é volúvel e frágil a “vontade” humana! O “entendimento” humano pode estar perfeitamente esclarecido e convicto, mas a vontade… Será que esta deixa-se envolver e arrastar pelos apetites carnais? Talvez por isso, Jesus tinha-nos avisado, em certa ocasião, por sinal decisiva: “O espírito está pronto mas a carne é débil”. Por isso mesmo – aconselha Ele – é preciso “vigiar e orar, para não ceder à tentação” (Mc 14, 38). Acontece, curiosamente, que um dos discípulos a quem Jesus falava naquela altura, no Horto das oliveiras, era precisamente Pedro (cujo nome significa “pedra”); isto é, a mesma pessoa que tinha prometido e proclamado, diante de todos, “seguir Jesus, mesmo que tivesse de dar a vida por Ele”; cá está a pedra, a rocha, Pedro! Mas, como sabemos, do dia para a noite – sim, naquela noite! – antes de o galo cantar, já “O tinha negado três vezes”!

Feliz ou infelizmente, Pedro é o protótipo de todos e cada um de nós, para bem ou para mal. E quem não se julgar “da raça” de Pedro, “que atire a primeira pedra”! Iremos vê-lo, a seguir, na Palavra de hoje, seguindo o mesmo protagonista.

Em primeiro lugar, quando Jesus pergunta aos discípulos “«E vós, quem dizeis que Eu sou?», Pedro proclama abertamente à frente de todos «Tu és o Messias»”… Mas, logo a seguir, quando Jesus “Começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a censurá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens»” (Mc 8 / 3ª L.). Antes era Pedro, agora é Satanás. Oh, mistério humano, inexplicável!

Quantas vezes, no dia a dia da nossa vida, passamos por estas situações! Sim: agora é o máximo, os melhores propósitos, um compromisso convicto e decisivo… Tudo bem, e assim deve ser! Mas… bem sabemos que vão aparecer dificuldades e problemas, vão surgir as tentações… que nunca podem faltar. Mesmo que cheguem ao extremo que descreve o profeta Isaías: “Surgiram inimigos… que me batiam na face… e nas costas… outros que me insultavam e cuspiam… alguém que, com falsidade, pretendia instaurar-me um processo… e houve até adversários que planeavam condenar-me…”. Em tal caso, a nossa fraca natureza e débil vontade… podem vacilar e cair. E, então, toca a lamentar e a chorar, como Pedro… Mas, oxalá que – tal como em Pedro – apareça imediatamente o arrependimento e a conversão! Toca a erguer e caminhar na direção que nos tínhamos marcado!

E, sobretudo, aprendamos do próprio profeta Isaías, a sua confiança ilimitada no Senhor seu Deus, para não sucumbir apesar “daqueles perigos”… É o que se deduz da continuação e conclusão do seu escrito: “Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado… O meu Advogado está perto de mim… O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?” (Is 50 / 1ª L.).

E escutemos sobretudo a advertência-conselho do apóstolo Tiago, que – na sua Carta Católica – escreve para nós e para todos: “Irmãos: De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Assim também a fé sem obras está totalmente morta”… Sim, porque pode haver, e há, gente a pensar que por ter uma fé forte “nas suas crenças” (?), está já tudo feito e isso basta. Quando, na verdade, conclui Tiago, “a fé só se mostra e demonstra através das obras” do amor, da caridade…(Tg 2 / 2ª L.).

Com os Teus fiéis orantes, neste salmo,

“andarei na Tua presença, Senhor,

sobre a terra dos vivos”, dos que amam a vida,

dos que arriscam e apostam no Teu Amor…

Mesmo que me assaltem os inimigos

– esses que me apertam com laços de morte –

ou caiam sobre mim as angústias do além…

Mesmo que me veja na aflição e na dor,

cercado por figuras e reflexos de Satanás

Mesmo assim, eu continuarei a invocar-Te, Senhor,

com a fé e confiança dos profetas

e com o fervor dos discípulos de Jesus:

«Salva a minha alma da morte,

Tu que és justo, compassivo e misericordioso,

Tu que guardas com amor os simples e pobres».

Reconheço e proclamo, para que todos oiçam:

Tu livraste das lágrimas os meus olhos,

da queda os meus pés e da morte a minha alma;

estando eu sem forças Tu me salvaste…

Por isso continuarei sempre a «caminhar

na Tua presença, Senhor, na terra dos vivos!».

[ do Salmo Responsorial / 114 (116) ]