46b- Misericordiae vultus

 (Ciclo B – Domingo 23 do T. Comum…) 

«MISERICORDIÆ VULTUS»

(Porque será que alguns de nós gostamos tanto dessa língua latina? – Não esqueçam que se trata da nossa língua-mãe!).

Pois é: “Rosto de misericórdia” seria a tradução dessas duas primeiras palavras – latinas – da «Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia» que acaba de publicar o nosso Papa Francisco. (Já agora, a decorrer, este Ano Jubilar, entre o 8-12-15, solenidade da Imaculada Conceição, e o 20-11-16, Jesus Cristo Rei do Universo).

E o que é que tem a ver isto com a nossa Palavra Refletida deste domingo? Terá sido pura coincidência? – Desde logo. Porque, afinal, tudo é Graça!

Certamente, uma coisa são “os lábios” e outra “o coração” – lembram-se? –. Pois agora, perante o Evangelho de hoje, podíamos dizer algo de semelhante: Isto é, com “os ouvidos” ouve-se mas com “o coração” escuta-se! Embora sejam bem precisos igualmente os lábios e os ouvidos e os olhos – e não só o coração! – para amar e louvar o nosso Pai-Deus, pela Sua infinita Misericórdia! Vejamos.

Antes de mais, temos de reafirmar que o nosso Deus, o Pai, sempre foi, e sempre será, «partidário», ou seja que, desde que existe a humanidade, Ele «tomou partido» pelos mais fracos, humildes, pobres… e não pelos ricos. É o profeta Isaías que já o proclamava em idades longínquas, para estimular os tímidos e desanimados: “Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus… Ele próprio vem salvar-nos»… Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos”… (Is 35, / 1ª L.). É evidente que para “o Deus dos nossos pais” a preferência estava nos mais necessitados e abandonados; ao contrário do que nós costumamos fazer a respeito desses “desgraçados”… não é verdade?

E é isso exatamente o que o apóstolo Tiago descobria nos fiéis de algumas das suas primeiras comunidades cristãs, em Jerusalém e não só, quando denunciava as “preferências deles pelos ricos e os que vestem ‘com primor’, desestimando ou desprezando os pobres e ‘desarranjados’”, ao participarem na Mesa Eucarística. E então conclui, lançando-lhes em rosto o modelo exemplar do próprio Deus: “Por ventura, não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam?”. (Tg 2 / 2ª L.).

Mas é principalmente através do seu Filho Jesus – precisamente aquele que é o «rosto da misericórdia» do Pai – que se manifestam as preferências de Deus pelos mais frágeis, pequenos, doentes, pobres… Porque, desde que “o Verbo se encarnou, e se fez homem”, definitivamente «a face visível da misericórdia de Deus é Jesus de Nazaré». Quantas vezes o tinha mostrado, ao longo da sua vida, este Jesus, Profeta da Galileia, que “tudo fazia admiravelmente”! E agora vemo-l’O a agir como tal, neste episódio do surdo-mudo no Evangelho de hoje:

“Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar corretamente… Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem»”. (Mc 7 / 3ª L.).

É assim como Deus Pai – em Jesus – dá a primazia aos mais pobres… Quer dizer, o seu coração de Pai reflete-se na «misericórdia do Filho», que se compadece de todas as misérias humanas, e não sabe fazer outra coisa do que dar a todos completa saúde e Vida plena… Nestes tempos nossos, continua a operar do mesmo modo. E temos de reconhecer, porém, que muito mais poderia fazer se nós colaborássemos com a nossa fé confiante e com a nossa solidariedade. Pois a ação de Jesus-Deus na nossa sociedade, poderá estar limitada pela nossa “liberdade” e falta de cooperação!

Sinto que a minha alma Te louva, Senhor,

porque, desde sempre, a Tua Misericórdia é eterna,

e reconheço que o Teu Amor não tem fim…

O Teu coração de Pai misericordioso e compassivo

deixa-se atrair pelos mais pobres da terra,

e foste capaz de Te encarnares como homem,

para que isto ficasse mais visível e patente,

na Pessoa do teu Filho Amado, Jesus,

rosto visível da Tua bondade e generosidade,

sempre disposto a perdoar e a dar vida a todos…

Louvamos-Te, ó Pai, que fazes justiça aos oprimidos

e dás pão aos que têm fome e liberdade aos cativos…

Louvamos-Te, porque iluminas os olhos dos cegos,

levantas os abatidos e amas os justos…

Louvamos-Te, Senhor, porque proteges os peregrinos

e amparas o órfão e a viúva…

E é assim que reinas eternamente,

Deus e rei por todas as gerações!…

[ do Salmo Responsorial / 145 (146) ]