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(Ciclo C – Domingo 30 do Tempo Comum)  

 

O «ALTÍSSIMO» MAIS BAIXO!

 

             Também é verdade que a Palavra de Deus tem as suas “palavras-chave”, as suas “insistências constantes”, que voltam à cena uma e outra vez, tal como o “leitmotiv” de uma obra musical, por exemplo. Ou seja, com certa frequência, na Bíblia vão aparecendo, reiteradamente, as mesmas “verdades” ou realidades, sob aspetos e situações diferentes. Quem avance pela leitura e reflexão da Palavra, em pouco tempo há de verificar isto que aqui afirmamos…

Quantas vezes – quer no Antigo quer no Novo Testamento – é-nos sugerido, ou revelado abertamente, a preferência e apreço que Deus “sente” por tudo o que é humilde, pobre, simples, frágil, desgraçado, “explorado”… e, ao invés, o desinteresse e “olvido divino” por tudo o que é contrário a essas Suas predileções de sempre; numa palavra, o desprezo de tudo o que é “auto-suficiente”, ou pretende sê-lo! Tantas vezes temos já observado e refletido isto na Palavra de Deus! Não é verdade? Pois essa constatação só pode querer significar uma coisa: a importância fundamental para Deus – e para nós!? – dessa realidade divina e humana ou “humano-divina”…

Já na primeira Palavra (da Leitura do Ben-Sira) aparece, outra vez mais, essa especial predileção de Deus pelo “pobre”, “oprimido”, “órfão”, “viúva”, “humilde”, nas apenas sete linhas desse texto (do c. 35). Onde surgem declarações deste teor: “O Senhor não faz aceção de pessoas… Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva… A oração do humilde atravessa as nuvens… e não desiste, até que o Altíssimo o atende…”. (Sir 35 / 1ª L.). E o mais curioso, ou chocante, do caso presente é que este Deus, que “tem as suas delícias em estar” com essa classe de pessoas, «frágeis e pequenas», é apelidado de “Altíssimo”, ou seja, o único que tem poder e sabedoria sobre tudo, como Criador Omnipotente. Não deixa de ser paradoxal… e, mais uma vez, havemos de concluir que temos um Deus «desconcertante», no melhor sentido do termo e para o nosso bem e felicidade.

E se continuarmos a avançar, já no NT, encontramo-nos com o próprio Jesus – “o filho do Altíssimo” como é apelidado às vezes – em Quem se confirma, “feita carne”, esta “predileção” de Deus pelos «pobres pecadores». Aliás, é na própria Pessoa de Jesus de Nazaré que “se realiza este paradoxo” de «se confundir o mais Alto – “Altíssimo” – com o mais Baixo». E é Jesus quem “inventa”, para nós, mais uma parábola [a “dos dois orantes, no templo, um que era «fariseu» e o outro «publicano»”] que pretende representar o proceder do Pai-Deus (o Altíssimo?) para com os «pecadores»: sejam eles “pobres e humildes”, ou, então, “auto-suficientes e soberbos”. “O fariseu, de pé, orava assim: «Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano…». O publicano ficou à distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: «Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador»… Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”.(Lc 18 / 3ª L.). Assim, resulta evidente, e “justo”(?), o desfecho acontecido a cada um deles… Porque, afinal, imaginemos como é que faria qualquer pessoa que tivesse dois aspirantes a “subalternos” para a sua empresa ou companhia, e cada um deles procedesse “do jeito” que se descreve… A qual deles daria o posto na sua firma, máxime tendo em atenção as suas previsíveis atitudes futuras?…

Mas… já agora, é evidente que se aplicarmos a Deus, como primeiro Modelo de Tudo, essa “moral da história”, então entenderemos o de “Altíssimo”, já que, se “foi exaltado, é precisamente porque se humilhou” na pessoa do Seu Filho… Aprendamos, então, a seguir este Caminho – do Pai-Deus e do Filho Jesus – como S. Paulo, que nos deixou escrito – lembram-se? – : “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça… não só a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua vinda”.(2 Tm 4 / 2ª L.).

 

Há muitos séculos, Senhor, que foi escrito este refrão

e tantas vezes repetido pelos Teus fiéis:

«O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz».

Se este salmo não se apagou após tanto tempo,

também nós queremos hoje fazer dele a nossa oração…

Sim, ó Pai, porque, ainda que sejas o Deus «Altíssimo»

para os que se opõem à Tua omnipotência

e para os que não querem aceitar o Teu perdão,

porém, és e serás sempre o amigo «Mais baixo»,

o mais próximo de todos os pobres e humildes;

de todos os marginalizados e desprezados da sociedade;

de todos os que lutam por ser sempre fiéis ao Amor…

Por isso, Senhor, vou confiar sempre em Ti,

e nunca me juntarei aos que fazem o mal,

pois a sua memória será apagada da terra…

Assim, a minha alma gloria-se em Ti, Senhor,

para que os humildes o escutem e se alegrem,

para que todos se sintam firmes e vigorosos,

confiados na Tua bondade e misericórdia.

Tu, ó Pai, estás sempre com os de coração atribulado,

salvas continuamente os que andam de ânimo abatido

e defenderás sempre a vida dos Teus servos.

Que aprendamos a “abaixar-nos” como Tu, Senhor,

para estarmos sempre ao serviço dos outros!        

 [ do Salmo Responsorial / 33 (34) ]