
(Ciclo A – Domingo 4-Tempo Com.)
O “FRÁGIL” CONFUNDIRÁ O “FORTE”…
Talvez mais do que em tempos idos, é difícil entender hoje, neste mundo de poder, fama e competição… o proceder do Nosso Deus, capaz de se fazer pequeno e frágil até se incarnar – lembram-se ? – no seio de uma família pobre e humilde… É difícil de compreender que este Deus Nosso – desconcertante porque coerente e radical – tome sempre partido e preferência pelos pobres, débeis e sofredores deste mundo… E, pelos vistos, isto já era patente entre os primeiros cristãos, tal como o apóstolo Paulo verifica naquelas primeiras comunidades, quando lhes escreve para que sejam conscientes de uma constatação: “Vede quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos”. E logo a seguir introduz “o porquê” desta realidade: “Porque Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo, para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale”…(1 Cor/2ª L.). Mas como é difícil encaixar esta realidade no sentir e viver de tantíssima gente! Tanto, que o nosso Papa Francisco denuncia com frequência “os valores contrários” (contravalores) e nos alerta continuamente para esses «valores evangélicos»… Basta estarmos atentos às suas comunicações… Afinal ele tenta ser perfeito imitador do próprio Jesus de Nazaré, de quem é Seu representante visível na terra!
E cá está – exatamente – “a linguagem revolucionária das Bem-aventuranças”, na Palavra do Evangelho de hoje. Não seremos nós capazes – nem ninguém! – de utilizar uma linguagem tão incisiva e aguda, ou apresentar umas atitudes tão radicais para todos, e tão “perturbadoras” para muitos! Mas é a linguagem de Jesus, tão desconcertante como a do Pai, Abba, de Quem Ele próprio é Filho, o primeiro Filho… Pois é! Agora acontece que “os pobres… os humildes… os famintos de justiça e de pão… os pacíficos… os puros… os que choram…os perseguidos ou insultados injustamente”… e podemos acrescentar, na linguagem atual, “os refugiados, deslocados, fugitivos, emigrantes, explorados de mil modos”… esses todos, são os que têm a preferência “no Reino de Deus”. Ou seja, que Jesus está a dizer-nos a todos: Felizes sois e sereis se – no meio dos problemas, conflitos, mágoas e desgraças deste mundo – sois capazes, sem perder a fé, de viver nessa luta silenciosa e pacificadora, mas corajosa e decidida, por construir este «Reino de… Verdade e de Vida; de Santidade e de Graça; de Justiça, de Amor e de Paz»… Por isso, o mesmo Jesus conclui: “…Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»”. (Mt 5 / 3ª L.). E reparemos, é interessante constatar como, às vezes, utiliza-se uma linguagem já no “presente” para a Felicidade (… é deles o Reino… ou …é grande a recompensa…) e não só no futuro (!?). Pois é: «a felicidade pode “sentir-se” no sofrimento»!
E já agora, também resulta curioso verificar que esta linguagem (“a das bem-aventuranças”) foi como que preparada e preanunciada já vários séculos antes de Jesus, pelo profeta Sofonias (como nos exorta a 1ª leitura). É que todas as coisas que são realmente importantes para a vida humano-divina dos filhos de Deus, foram dispostas e preparadas com tempo, sem pressas, pacientemente… da parte desse Deus-Pai, que não gosta da “improvisação”. Eis o que aquele profeta escreveu, inspirado por Javé-Deus: “Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis proteção no dia da ira do Senhor” (Sf 2-3)… E podemos imaginar qual seria a surpresa daqueles contemporâneos do profeta (séc. VII a. C), numa sociedade – segundo parece – tão semelhante à nossa, quanto ao afã de domínio, de poder, de exploração do mais fraco... e que também não contava com o horizonte e farol orientador da “cultura cristã” que, na era posterior a Jesus, já pode iluminar todas as épocas até à nossa “sociedade global”… Ali, naquela profecia, ficou marcada a direção e o sentido para o futuro: O que é fraco vai confundir o forte! O profeta transcreve assim o «oráculo do Senhor»: “Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor…” (Sf 2-3 / 1ª L.). Quer dizer, toda a restauração e salvação chegou e chegará sempre através desse “resto de Javé” que são os pobres e humildes da terra. Isto foi e será sempre uma constante na “história da Salvação”. O «forte» é vencido pelo «fraco»!
O Teu anúncio da Salvação, Jesus,
– mensagem Evangélica de Bem-aventurança –
começou por ser real na Tua vida,
e só depois veio a Tua palavra e doutrina…
Por isso, Senhor Jesus,
este salmo que agora rezamos,
foi, na Tua vida terrena, levado à vida…
porque esta antiga oração do Povo
não podia ficar em letra morta:
«Tu fizeste justiça aos oprimidos,
trouxeste a liberdade aos cativos
e deste pão aos que tinham fome…
Tu, Senhor, levantaste os abatidos
e deste vista aos cegos e ouvido aos surdos…
Ajudaste e amparaste as viúvas e os órfãos
e protegeste a vida dos peregrinos»…
Porque Tu, Jesus, e o teu Pai Deus,
amais os justos e os pecadores!…
[ do Salmo Responsorial / 145 (146) ]
27 Janeiro, 2017
O “FRÁGIL” CONFUNDIRÁ O “FORTE”
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo A – Domingo 4-Tempo Com.)
O “FRÁGIL” CONFUNDIRÁ O “FORTE”…
Talvez mais do que em tempos idos, é difícil entender hoje, neste mundo de poder, fama e competição… o proceder do Nosso Deus, capaz de se fazer pequeno e frágil até se incarnar – lembram-se ? – no seio de uma família pobre e humilde… É difícil de compreender que este Deus Nosso – desconcertante porque coerente e radical – tome sempre partido e preferência pelos pobres, débeis e sofredores deste mundo… E, pelos vistos, isto já era patente entre os primeiros cristãos, tal como o apóstolo Paulo verifica naquelas primeiras comunidades, quando lhes escreve para que sejam conscientes de uma constatação: “Vede quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos”. E logo a seguir introduz “o porquê” desta realidade: “Porque Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo, para confundir os sábios; escolheu o que é fraco, para confundir o forte; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale”…(1 Cor/2ª L.). Mas como é difícil encaixar esta realidade no sentir e viver de tantíssima gente! Tanto, que o nosso Papa Francisco denuncia com frequência “os valores contrários” (contravalores) e nos alerta continuamente para esses «valores evangélicos»… Basta estarmos atentos às suas comunicações… Afinal ele tenta ser perfeito imitador do próprio Jesus de Nazaré, de quem é Seu representante visível na terra!
E cá está – exatamente – “a linguagem revolucionária das Bem-aventuranças”, na Palavra do Evangelho de hoje. Não seremos nós capazes – nem ninguém! – de utilizar uma linguagem tão incisiva e aguda, ou apresentar umas atitudes tão radicais para todos, e tão “perturbadoras” para muitos! Mas é a linguagem de Jesus, tão desconcertante como a do Pai, Abba, de Quem Ele próprio é Filho, o primeiro Filho… Pois é! Agora acontece que “os pobres… os humildes… os famintos de justiça e de pão… os pacíficos… os puros… os que choram…os perseguidos ou insultados injustamente”… e podemos acrescentar, na linguagem atual, “os refugiados, deslocados, fugitivos, emigrantes, explorados de mil modos”… esses todos, são os que têm a preferência “no Reino de Deus”. Ou seja, que Jesus está a dizer-nos a todos: Felizes sois e sereis se – no meio dos problemas, conflitos, mágoas e desgraças deste mundo – sois capazes, sem perder a fé, de viver nessa luta silenciosa e pacificadora, mas corajosa e decidida, por construir este «Reino de… Verdade e de Vida; de Santidade e de Graça; de Justiça, de Amor e de Paz»… Por isso, o mesmo Jesus conclui: “…Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»”. (Mt 5 / 3ª L.). E reparemos, é interessante constatar como, às vezes, utiliza-se uma linguagem já no “presente” para a Felicidade (… é deles o Reino… ou …é grande a recompensa…) e não só no futuro (!?). Pois é: «a felicidade pode “sentir-se” no sofrimento»!
E já agora, também resulta curioso verificar que esta linguagem (“a das bem-aventuranças”) foi como que preparada e preanunciada já vários séculos antes de Jesus, pelo profeta Sofonias (como nos exorta a 1ª leitura). É que todas as coisas que são realmente importantes para a vida humano-divina dos filhos de Deus, foram dispostas e preparadas com tempo, sem pressas, pacientemente… da parte desse Deus-Pai, que não gosta da “improvisação”. Eis o que aquele profeta escreveu, inspirado por Javé-Deus: “Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis proteção no dia da ira do Senhor” (Sf 2-3)… E podemos imaginar qual seria a surpresa daqueles contemporâneos do profeta (séc. VII a. C), numa sociedade – segundo parece – tão semelhante à nossa, quanto ao afã de domínio, de poder, de exploração do mais fraco... e que também não contava com o horizonte e farol orientador da “cultura cristã” que, na era posterior a Jesus, já pode iluminar todas as épocas até à nossa “sociedade global”… Ali, naquela profecia, ficou marcada a direção e o sentido para o futuro: O que é fraco vai confundir o forte! O profeta transcreve assim o «oráculo do Senhor»: “Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor…” (Sf 2-3 / 1ª L.). Quer dizer, toda a restauração e salvação chegou e chegará sempre através desse “resto de Javé” que são os pobres e humildes da terra. Isto foi e será sempre uma constante na “história da Salvação”. O «forte» é vencido pelo «fraco»!
O Teu anúncio da Salvação, Jesus,
– mensagem Evangélica de Bem-aventurança –
começou por ser real na Tua vida,
e só depois veio a Tua palavra e doutrina…
Por isso, Senhor Jesus,
este salmo que agora rezamos,
foi, na Tua vida terrena, levado à vida…
porque esta antiga oração do Povo
não podia ficar em letra morta:
«Tu fizeste justiça aos oprimidos,
trouxeste a liberdade aos cativos
e deste pão aos que tinham fome…
Tu, Senhor, levantaste os abatidos
e deste vista aos cegos e ouvido aos surdos…
Ajudaste e amparaste as viúvas e os órfãos
e protegeste a vida dos peregrinos»…
Porque Tu, Jesus, e o teu Pai Deus,
amais os justos e os pecadores!…
[ do Salmo Responsorial / 145 (146) ]