29a- A liberdade - «esse mistério»!

 (Ciclo A – Domingo 6 -Tempo Com.) 

 

A LIBERDADE: “ESSE MISTÉRIO”!

Um jovem estudante contou-nos esta história em primeira pessoa: «Aquele passarinho estava triste. Deixou de cantar. Andava todo o tempo a morder com o seu biquinho os arames da sua gaiola doirada. Observei-o com pena: O que quereria ele? Talvez a liberdade? Eu senti medo… Era inverno. Lá fora, ia sentir muito frio e não encontraria alimento. É possível que acabasse por morrer. Mas eu não podia vê-lo assim, triste… Decidi, finalmente, libertá-lo. Era uma manhã de sol invernal. Abri a janela e deixei-o voar. Depressa perdi-o de vista… Mas… À tardinha, estava eu a estudar no meu quarto quando comecei a ouvir uns ruídos estranhos… Olhei para a janela. Era o “pássaro livre” que regressava, e com o seu biquito batia no vidro da janela. Abri rapidamente. Entrou sem medo e veio pousar-se sobre a sua gaiola… Agradeceu-me com um canto novo… Naquela altura, acabava de renunciar à sua liberdade! Fez-me pensar!…».

E esta realidade faz pensar a qualquer um de nós… Porque, afinal, a liberdade é um outro mistério – e um mistério terrível! – já que, logo à partida, constata-se que «não é livre quem quer mas quem pode». E não é porque “alguém de fora nos impeça de sermos livres”, mas é porque dentro de nós é que está a primeira limitação da nossa liberdade: a verdade é que “não sabemos ser livres”! E não sabemos ser livres porque, antes, não aprendemos, não treinámos!… Então, a lição que nos dá o passarinho da gaiola doirada… realmente faz-nos pensar. Infelizmente, o risco da liberdade mal-entendida (que não é liberdade senão “libertinagem”) está a causar tantos ou mais estragos na sociedade de hoje como nas sociedades anteriores, em tempos idos… Para não dizer que é, precisamente, essa “falsa liberdade” a que – per se – nos torna escravos ainda piores! Oh, paradoxal contrassenso!

Mas cá está a Palavra da liturgia deste dia – carregada da experiência de tantos séculos e de inúmeras gerações humanas – para nos avisar, prevenir e guiar nesta travessia árdua da Liberdade. “Deus pôs diante de ti o fogo e a água: estenderás a mão para o que desejares. Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado”… Fica assente, como base, a capacidade de optar, escolher, decidir… como definição fundamental de “liberdade”. Mas isto só não chega, evidentemente. Porque, a mesma Palavra, já tinha afirmado anteriormente, como ponto de partida: “Se quiseres, guardarás a Lei: ser fiel depende da tua vontade”. (Sr 15 / 1ª L.). Ou seja que “sermos fiéis depende, se quisermos, da nossa vontade ou liberdade”. Mesmo assim, falta ainda o mais importante: Como usar essa vontade e liberdade? Será assim, tão fácil como parece?…

Paulo, por seu lado, escreve: “Nós falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e oculta”. Sabedoria essa que só podem conhecer os que “tenham olhos para ver e ouvidos para ouvir (?)”, isto é, todo aquele que tenta viver em sinceridade e verdade, e caminha na vontade do Senhor (como dirá o Salmo R/.). De contrário, à hora de usar a liberdade, ficaremos incapacitados ou ofuscados – como os príncipes deste mundo de que fala Paulo – e então a nossa «ignorância será culpável» como a deles. Não querem conhecer nem reconhecer essa Sabedoria de Deus: “Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu; porque, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória”… (1 Cor 2 /2ª L.).

E não esqueçamos nunca aquilo de – lembram-se? – “o Pai, Senhor do céu e da terra, revela aos pequeninos os mistérios do reino” (também no Refrão do Aleluia de hoje). E, por conseguinte, esses mesmos mistérios do Reino estão ocultos para os “grandes”, pura e simplesmente porque eles não querem “abrir-se”, preferem continuar “no seu patamar”!

E, claro, entre “estes grandes” estavam os «escribas e fariseus» do tempo de Jesus. Também estes – na Palavra do Evangelho de hoje – são denunciados e postos como exemplo do que não devem ser, de maneira nenhuma, os discípulos d’Aquele que está sempre do lado dos pobres e pequeninos, Jesus de Nazaré: “…Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus”… (Mt 5 / 3ª L.).

 

Deixa, Jesus, que hoje proclamemos Felizes

aos que tentam seguir o caminho perfeito

e caminhar sempre na lei do Amor

São e serão Felizes porque vivem pendentes

da Palavra de Deus, nosso Pai,

e O procuram de todo o coração.

Contamos com a luz do Teu olhar, Jesus,

e com a força firme do Teu espírito,

que ilumina a nossa inteligência

e revigora a nossa vontade…

Só assim entenderemos a nossa liberdade

e as nossas opções serão certas,

porque «liberdade é preferir o melhor bem»;

só assim o nosso caminho será seguro

e viveremos para realizar a Tua Palavra.

Senhor Jesus, dá-nos entendimento

para guardar a Tua lei de Amor

e para sermos fiéis e felizes até ao fim.

                  [ do Salmo Responsorial / 118 (119) ]