
(Ciclo A – Solenidade – SS. CORPO E SANGUE DE CRISTO)
«CORPO DE DEUS». Exatamente!
O Povo de Deus – se for mesmo isso! – sempre tem razão. Claro que, na realidade essencial, este Sacramento Eucarístico é constituído pelo Corpo (Carne) e pelo Sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo, pois foi Ele, a segunda Pessoa da Trindade, quem se encarnou. Mas não é menos verdade que, por tal facto, o Corpo de Cristo é, “per se” e ao mesmo tempo, o “Corpo de Deus”. Porém, só a ousadia singela nascida da fé simples e humilde do Povo fiel, é capaz de pôr estes nomes “radicais e castiços” para, por vezes, denominar os Mistérios mais Sublimes. E, neste caso, é mesmo isso: O CORPO DE DEUS!
E assim, entramos já na Palavra da Solenidade deste dia, para aprofundarmos nesta “intuição” do Povo, que tinha sido, por sua vez, “invenção e criação” de Cristo Jesus, naquele Seu momento histórico… E, desde logo, Ele não encontrou naquela altura um “signo” melhor – ao mesmo tempo símbolo e realidade – para significar o valor e o sentido deste Sacramento, do que o alimento corporal, através das “espécies materiais” do pão e do vinho. É o próprio Jesus (no Evangelho de hoje) quem o declara sem lugar a dúvidas: “«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele»”. E ao compará-lo com “o maná” (de que também fala a primeira leitura, em Dt) e que era chamado «pão do céu», Jesus ultrapassa e transcende o seu valor e sentido: “Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele (“maná”) que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente»”… E a transcendência deste novo e definitivo Alimento fica bem assente: “«Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo»”… (Jo 6 / 3ª L.).
No mundo natural, biológico, a melhor maneira de transformar uma matéria em outra – desde que ela seja comestível – é ser comida, “devorada”, pela outra “matéria”. Já que, uma vez digerida e assimilada, passa a ser a sua mesma natureza, fica transformada na sua própria “substância”. (Até na linguagem vulgar, quando alguém gosta muito doutra pessoa – pensemos num casal apaixonado, ou numa mamã e o seu bebé – é comum dizer: “Vou-te comer!»). Claro que se isto é verdade numa dimensão meramente material e física, quanto mais o será na dimensão espiritual e mística! Isto quer dizer que, neste Mistério, é preciso, antes de mais, ir além da matéria e ultrapassar o esquema natural, porque o ser humano tem uma outra dimensão que conecta diretamente com a Divindade. “O Senhor teu Deus… deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor”…(Dt 8 / 1ª L.). E foi exatamente este o texto bíblico que utilizou Jesus para vencer aquela tentação de “gula” material que satanás Lhe apresentou quando sentiu fome naquele deserto. (Mt 4, 3-4).
Assim sendo, compreende-se melhor o motivo de Jesus, que conhecia como ninguém a essência das coisas e a transcendência do espírito, “inventou e criou”, como dizíamos anteriormente, este Sacramento Eucarístico, cuja misteriosa realidade temos de aceitar a nível de fé, por quanto os sentidos, neste mundo espácio-temporal, apenas nos fornecem aparências e acidentes daquilo que continua a ser um Mistério. Por isso nós, hoje, vinte séculos volvidos, entendemos e até desculpamos (?) a reação daqueles judeus e de alguns dos discípulos (para já não falar de muitos “discípulos atuais”) ao escutaram pela primeira vez aquelas “duras palavras, insuportáveis”. É o que lemos noutra parte do Evangelho de hoje: “Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”…(Jo 6).
Não se trata, então, de compreender o que é incompreensível… Mas é só questão de fé e humildade, para aceitar e assumir aquilo que é o Alimento necessário para o nosso espírito, tal como é o pão para o corpo. Se não, “não teremos a vida em nós”, a Vida do espírito, evidentemente! Uma Vida que, por esse mesmo e único Alimento (o «Corpo de Deus»!) gera a verdadeira união comum – “com-unhão” – entre todos nós. Paulo o tinha bem claro: …“Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão”. (1 Cor 10 / 2ª L.).
Que a nossa Jerusalém Te glorifique, Senhor!
A Jerusalém dos nossos pais e antepassados,
a Jerusalém dos nossos catequistas e educadores…
Os que nos ensinaram, desde crianças,
a louvar-Te a Ti, o nosso Deus e Pai;
a adorar-Te no tabernáculo do Teu Santuário,
nos modestos sacrários das nossas igrejas…
Onde Te escondes, Jesus pequenino,
na “Tua humilde casinha” à nossa espera,
para nos saciar com a flor da farinha…
E quando – como eles nos ensinavam –
fazíamos assim a nossa «Comunhão espiritual»:
«Creio, Jesus, que estás presente e vivo
no Santíssimo Sacramento, neste sacrário…
Te adoro, Te amo e desejo receber-Te…
Mas como não posso fazê-lo agora no Sacramento,
vem espiritualmente ao meu coração…
E como se já Te houvesse recebido,
abraço-Te e me uno conTigo;
não Te afastes de mim, Jesus;
vou-me já de junto do Teu altar,
mas agora levo-Te comigo:
acompanha-me sempre nos meus recreios,
nos meus estudos e no meu sono».
[ do Salmo Responsorial / Sl 147 (148) ]
14 Junho, 2017
«CORPO DE DEUS». Exatamente!
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo A – Solenidade – SS. CORPO E SANGUE DE CRISTO)
«CORPO DE DEUS». Exatamente!
O Povo de Deus – se for mesmo isso! – sempre tem razão. Claro que, na realidade essencial, este Sacramento Eucarístico é constituído pelo Corpo (Carne) e pelo Sangue do Nosso Senhor Jesus Cristo, pois foi Ele, a segunda Pessoa da Trindade, quem se encarnou. Mas não é menos verdade que, por tal facto, o Corpo de Cristo é, “per se” e ao mesmo tempo, o “Corpo de Deus”. Porém, só a ousadia singela nascida da fé simples e humilde do Povo fiel, é capaz de pôr estes nomes “radicais e castiços” para, por vezes, denominar os Mistérios mais Sublimes. E, neste caso, é mesmo isso: O CORPO DE DEUS!
E assim, entramos já na Palavra da Solenidade deste dia, para aprofundarmos nesta “intuição” do Povo, que tinha sido, por sua vez, “invenção e criação” de Cristo Jesus, naquele Seu momento histórico… E, desde logo, Ele não encontrou naquela altura um “signo” melhor – ao mesmo tempo símbolo e realidade – para significar o valor e o sentido deste Sacramento, do que o alimento corporal, através das “espécies materiais” do pão e do vinho. É o próprio Jesus (no Evangelho de hoje) quem o declara sem lugar a dúvidas: “«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele»”. E ao compará-lo com “o maná” (de que também fala a primeira leitura, em Dt) e que era chamado «pão do céu», Jesus ultrapassa e transcende o seu valor e sentido: “Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele (“maná”) que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente»”… E a transcendência deste novo e definitivo Alimento fica bem assente: “«Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo»”… (Jo 6 / 3ª L.).
No mundo natural, biológico, a melhor maneira de transformar uma matéria em outra – desde que ela seja comestível – é ser comida, “devorada”, pela outra “matéria”. Já que, uma vez digerida e assimilada, passa a ser a sua mesma natureza, fica transformada na sua própria “substância”. (Até na linguagem vulgar, quando alguém gosta muito doutra pessoa – pensemos num casal apaixonado, ou numa mamã e o seu bebé – é comum dizer: “Vou-te comer!»). Claro que se isto é verdade numa dimensão meramente material e física, quanto mais o será na dimensão espiritual e mística! Isto quer dizer que, neste Mistério, é preciso, antes de mais, ir além da matéria e ultrapassar o esquema natural, porque o ser humano tem uma outra dimensão que conecta diretamente com a Divindade. “O Senhor teu Deus… deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor”…(Dt 8 / 1ª L.). E foi exatamente este o texto bíblico que utilizou Jesus para vencer aquela tentação de “gula” material que satanás Lhe apresentou quando sentiu fome naquele deserto. (Mt 4, 3-4).
Assim sendo, compreende-se melhor o motivo de Jesus, que conhecia como ninguém a essência das coisas e a transcendência do espírito, “inventou e criou”, como dizíamos anteriormente, este Sacramento Eucarístico, cuja misteriosa realidade temos de aceitar a nível de fé, por quanto os sentidos, neste mundo espácio-temporal, apenas nos fornecem aparências e acidentes daquilo que continua a ser um Mistério. Por isso nós, hoje, vinte séculos volvidos, entendemos e até desculpamos (?) a reação daqueles judeus e de alguns dos discípulos (para já não falar de muitos “discípulos atuais”) ao escutaram pela primeira vez aquelas “duras palavras, insuportáveis”. É o que lemos noutra parte do Evangelho de hoje: “Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”…(Jo 6).
Não se trata, então, de compreender o que é incompreensível… Mas é só questão de fé e humildade, para aceitar e assumir aquilo que é o Alimento necessário para o nosso espírito, tal como é o pão para o corpo. Se não, “não teremos a vida em nós”, a Vida do espírito, evidentemente! Uma Vida que, por esse mesmo e único Alimento (o «Corpo de Deus»!) gera a verdadeira união comum – “com-unhão” – entre todos nós. Paulo o tinha bem claro: …“Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão”. (1 Cor 10 / 2ª L.).
Que a nossa Jerusalém Te glorifique, Senhor!
A Jerusalém dos nossos pais e antepassados,
a Jerusalém dos nossos catequistas e educadores…
Os que nos ensinaram, desde crianças,
a louvar-Te a Ti, o nosso Deus e Pai;
a adorar-Te no tabernáculo do Teu Santuário,
nos modestos sacrários das nossas igrejas…
Onde Te escondes, Jesus pequenino,
na “Tua humilde casinha” à nossa espera,
para nos saciar com a flor da farinha…
E quando – como eles nos ensinavam –
fazíamos assim a nossa «Comunhão espiritual»:
«Creio, Jesus, que estás presente e vivo
no Santíssimo Sacramento, neste sacrário…
Te adoro, Te amo e desejo receber-Te…
Mas como não posso fazê-lo agora no Sacramento,
vem espiritualmente ao meu coração…
E como se já Te houvesse recebido,
abraço-Te e me uno conTigo;
não Te afastes de mim, Jesus;
vou-me já de junto do Teu altar,
mas agora levo-Te comigo:
acompanha-me sempre nos meus recreios,
nos meus estudos e no meu sono».
[ do Salmo Responsorial / Sl 147 (148) ]