25c- Quem «inventou» quem!

 (Ciclo C – Domingo 2 do T. Comum… ) 

O QUE É QUE FOI ‘PRIMEIRO’?

Este episódio das «Bodas de Caná» é também considerado como “a 3ª epifania” de Jesus. Ou seja, a terceira vez – entre as mais “solenes”– que Jesus se “manifesta” aos homens, nesta etapa inicial do nosso «Ciclo Litúrgico». [As outras duas seriam: a Sua revelação -Epifania- aos Magos do Oriente (1ª) e o Seu Batismo no rio Jordão (2ª), no passado domingo].

No evento das Bodas de Caná (“3ª epifania”) que nos relata o Evangelho de hoje, o evangelista deixa bem patente a sua “revelação-manifestação”, ao concluir com estas palavras: “foi assim, em Caná da Galileia, que Jesus deu início aos seus sinais miraculosos. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele” (Jo 2).

Mas, afinal, que história é esta das «Bodas de Caná», e como interpretar este primeiro “sinal miraculoso” de Jesus de Nazaré? E também: que significado tem o «matrimónio humano» como tal, e o facto de Jesus (Deus) ter-lhe dado – neste episódio e não só! – tal importância e valor? Aliás, Jesus começou por aceitar o convite para o evento: “Realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento…” (Jo 2 / 3ª L.).

Porém, é preciso reconhecer que uma primeira “linguagem nupcial” já tinha sido inaugurada e utilizada em várias ‘passagens’ do AT… Agora é posta «em boca de Deus» pelo profeta Isaías: “Por amor de Sião… não terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente… E hão de chamar-te «Predileta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predileta do Senhor e a tua terra terá um esposo”. É o estilo expressivo próprio da relação de «namoro/casal», linguagem que já o Deus da Antiga Aliança dedica a uma tal “esposa” (Sião, Jerusalém…) que personifica «o povo», isto é, a Humanidade inteira – todos e cada um dos seres humanos! –. E para que não fique dúvida acerca deste sentido e significado analógico, conclui com o seguinte símile: “Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus”. (Is 62 / 1ª L.).

Cabe perguntar-se: Será que Deus, o Criador, teve de “copiar” o exemplo do “casal humano” para expressar a sua relação de Amor com «a Humanidade»? – Parece que isto é impensável para Quem, por definição, é Omnipotente e Criador de Tudo. O correto e coerente seria o inverso, ou seja, é lógico que primeiro fosse a realidade «esponsal divina», como causa, e depois o facto «esponsal humano», como efeito. Aí estava a nossa questão inicial: «O QUE É QUE FOI ‘PRIMEIRO’?», ou então, “Quem ‘INVENTOU’ quem?”.

Claro que foi Deus Criador a «inventar» o “casal humano”, criado, podíamos dizer, “à imagem e semelhança” do divino «Amor esponsal», para que o “par humano” tivesse, em si mesmo, uma “imagem” do «original modelo divino» para imitar. Mas, coitados de nós, os humanos, quando, envolvidos pelo «amor de paixão» que surge pelo tal “instinto original”, julgamo-nos super-homens em tudo, e achamos que, ao nosso belo prazer, podemos criar, recriar e dominar – quando não “deturpar” e destruir! – este profundo «mistério do Amor» (“escrito” sempre com A grande)! Sim, coitados e pobres de nós se não conseguirmos libertar-nos desses incertos amores, ou até letais!

O Amor conjugal verdadeiro, o único que nos pode satisfazer, realizar, salvar… é, portanto, o que nos apresenta a Palavra de Deus («PALAVRA DE AMOR, PALAVRA») que hoje – neste domingo II comum – estamos a refletir e orar.

Portanto, se o casal humano “surgiu como imagem” desse Mistério do Amor Divino, será imprescindível que em todos os namoros, noivados, esponsais… e em todas as outras «formas de AMAR» vividas pelos humanos, tentemos imitar ou reproduzir o «modelo divino». Pois neste “terreno do Amor”, cada qual deve apostar na Fidelidade até ao possível, ou até ao impossível! Fora desta “pista”, só se conseguirá viciar, degradar ou destruir o Amor genuíno que procede de Deus. Andarão assim “des-pistados”, e sabemos que os efeitos são terríveis!

E ninguém pense que apostar naquele Amor divino-humano vai gerar “uniformidade” ou “monotonia”… Seria esquecer que este Deus Criador “inventou” também, antes de mais, a “liberdade humana”, que, como estamos habituados a observar e experimentar no nosso dia a dia, Deus respeita e respeitará sempre!!! Aliás, no “campo do Amor” ainda é mais patente essa “liberdade”, pois, quando é verdadeira, cria uma imensa variedade de “estilos, caminhos, realizações, vocações”… que o apóstolo Paulo ousa completar e confirmar com mais termos: “Irmãos, há diversidade de «dons» espirituais… diversidade de «ministérios»… diversidade de «operações»… Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo em todos…” (1 Cor 12 / 2ª L.).

 

– Que podemos fazer, Senhor, nosso Pai,

para que “os humanos”, Teus filhos,

aprendam «a sabedoria do Amor»,

desse amor verdadeiro que nos salva?…

– Cantaremos «o cântico novo do amor»,

daremos glória e louvor ao Teu nome,

para que a terra inteira saiba:

que Tu és maravilhoso no mistério do amor,

que Tu – no Amor – vences sempre:

pois já nos amavas antes de existirmos;

nesta vida, que agora temos, amas-nos…

e depois, ó Pai, continuarás a amar-nos sempre!

– Mas que podemos fazer, Jesus, nosso irmão,

para que, uma vez conhecido este Amor,

tenhamos a força e a coragem de “o viver”?

Como vamos conseguir sermos fiéis à palavra dada

ou ao compromisso proclamado neste reino do amor?…

– Vela, Jesus, pelos casais: os que se estreiam

e os avançados, talvez cansados, no amor;

vela pelos que estão rodeados de filhos

e pelos que, na vida de casal, estão sós…

Abraça todos os homens e mulheres

que não encontram o Amor verdadeiro;

que possam achá-lo em Ti, que sempre amas

como só Tu, Jesus, sabes fazê-lo desde sempre:

e assim, eles viverão no Amor e para o Amor!

                              [ do Salmo Responsorial / 95 (96) ]