– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico – 

 (Ciclo A – Domingo 7 -Tempo Com.) 

 

«FILHO DE PEIXE SABE NADAR»

A santidade, a perfeição… ou então «Sede santos… Sede perfeitos…». Duas palavras ou termos que podem não dizer nada para muitas pessoas, ou até suscitar um leve sorriso irónico (?).

Mas eu estou a lembrar-me agora da letra de uma canção – juvenil e radical, de denúncia cristã –. Uma daquelas canções pioneiras de protesto sincero, que, naquela época, causavam impacto nos corações amantes da Verdade. Interessa apenas uma frase, adaptada ao nosso caso, e que “traduziríamos” assim: «Onde tu dizes amor e felicidade eu digo perfeição e santidade…». Porque é mesmo assim. Quem quiser encontrar a verdadeira Felicidade deve optar e apostar na via e caminho da perfeição, que é a santidade. E, desde logo, tudo isso tem valor e significado desde’, ‘em’ e pelo’ Amor (com maiúscula!).

O que é que nos diz hoje a Palavra neste sentido e a este respeito?

Logo nas primeiras palavras da 1ª leitura do AT, do livro do Levítico (o “Vayikrá” dos hebreus), começa-se por colocar – junto com o mandato claro e direto – o motivo e justificação que é, ao mesmo tempo, modelo e paradigma: «Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo». O filho deve ser parecido com os pais – no nosso caso, com o Abba (Pai-Mãe), DEUS, nada menos! – ou se quiserem, a criatura deveria ser parecida com o Criador (“imagem e semelhança”). E aquela Palavra foi “dirigida a toda a comunidade dos filhos de Israel”, que é como dizer a toda a Humanidade, uma vez que Jesus, no Evangelho, não põe limites aos destinatários da sua Doutrina. As suas Palavras são claramente dirigidas a todos (e não apenas aos judeus). Mas aquela Palavra “primitiva” vai mais longe, pois deixa bem assente onde é que está e deve estar sempre o cerne fundamental da perfeição e santidade: o AMOR. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Assim de claro e simples (já desde o Levítico), embora todo aquele povo judeu antigo teimasse sempre em ignorar – como nós? – este mandato expresso de Javé Deus, tão antigo e tão de sempre! Até que foi preciso vir Jesus de Nazaré a atualizá-lo e confirmá-lo de uma vez por todas! Bom, mas como que para dar autoridade a toda esta Palavra (que pertence ao antigo Pentateuco ou Torá) vem a assinatura divina no fim: “Eu sou o Senhor!” (Lv 19 /1ª L.).

Então, vamos agora com a Palavra do Evangelho (3ª L.). Pois o “ensinamento” de Jesus não pode ser mais radical e denunciador para modificar, corrigir e completar (“Eu não vim suprimir mas completar”) a Palavra da Antiga Aliança. As de Jesus são realmente “palavras de altura” (até porque pertencem ao «Sermão da montanha») que vão repetindo, desde o domingo passado, a fórmula «Ouvistes que foi dito… Eu, porém, digo-vos…», para que ninguém tenha a menor dúvida. Pois, então, como dizíamos, “sermos santos ou perfeitos significa apostarmos, antes de mais e sobretudo, no Amor”. E sabemos muito bem que, para Jesus, neste campo do Amor, não há limites espácio-temporais!… Mas Jesus continua, especificando com clareza meridiana: …“Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda”… Dá a quem te pedir, não voltes as costas a quem te pede emprestado”…Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”… E a seguir, coloca – em paralelo com o Levítico – a razão e justificação, que é ao mesmo tempo «modelo e paradigma» “… Para assim serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos”. E ainda por cima em “poesia lírica”! Finalmente, traz Jesus a mesma conclusão (do Levítico), perfeitamente coerente: “Portanto, sede perfeitos (santos), como o vosso Pai celeste é perfeito (santo)”. (Mt 5 /3ª L.).

E para que ninguém tenha ilusões, Paulo, na sua carta, vai deixar bem claro e preciso que esta santidade e perfeição não é algo apenas imaterial ou incorpóreo, concebido num sentido “espiritualista”, mas abrange e compreende toda a pessoa, “espírito, alma e corpo”. De outro modo, não teria sentido esta linguagem paulina, tão radical como a de Jesus: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?… O templo de Deus é santo, e vós sois esse templo”… Sendo assim, compreende-se perfeitamente o entusiasmo do Apóstolo, na sua exultação conclusiva: “Tudo é vosso… mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. (1 Cor 3 /2ª L.).

 

Olhamos para nós e para Ti, Senhor,

e vemos que somos escassamente

parecidos contigo, que és nosso Pai.

Se Tu és desde sempre e para sempre,

um Deus clemente e compassivo…

nós não podemos deixar de ser

“compassivos e clementes” com todos…

Se Tu és paciente e cheio de bondade,

porque é que nós perdemos a paciência

por tão pouca coisa, Senhor,

quando se trata de compreender,

aceitar e amar os nossos irmãos?…

Nós dizemos, Senhor,

que Tu Te apiadas de nós

como um pai se compadece dos filhos.

Mas é mesmo ao contrário:

é a Tua Piedade para com todos

o que dá aos pais exemplo e energia

para se compadecerem dos seus filhos…

É verdade, Senhor, Tu és sempre

clemente e compassivo,

paciente e cheio de bondade…

E nós queremos ser cada vez

mais parecidos contigo, ó Pai.

Sim, queremos ser santos como Tu!

                    [ do Salmo Responsorial / 102 (103) ]