– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

 

(Ciclo ABC – NATAL do Senhor)

5a- A melhor das notícias

A MELHOR DAS NOTÍCIAS!

Os nossos pais na fé, os nossos antepassados do Antigo Testamento, não podiam imaginar aquela futura Promessa de Salvação a não ser como uma intervenção forte e violenta daquele “Deus terrível”, para acabar de vez com todos os inimigos do Povo. “O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações, e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52 / 1ª L.). Porque “descobrir o braço”, ainda que esse braço fosse “santo”, não deixava de ser, para os hebreus – nós sabemo-lo bem – uma manifestação de força bruta e de poder superior…

Mesmo assim, é evidente que o cumprimento dessa Promessa, quando acontecesse, seria a melhor de todas as possíveis Notícias, para um povo que – ainda que se orgulhasse de ser o Povo eleito de Deus – sentia na própria carne o domínio e a humilhação dos diversos opressores, déspotas e todo-poderosos… E é perfeitamente compreensível que, para quem se lamenta, geração após geração, da sua triste condição, desgraçada, explorada e insuportável, uma Notícia que anuncie – agora já definitivamente – a tão esperada e desejada Salvação, será a melhor das novidades, será realmente “a Boa Notícia”, a melhor de todas! Também o tinham deixado escrito os seus profetas: “Como serão belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncie a paz, que traga a boa nova, que proclame a salvação” (Is 52).Também sabemos nós que o tal mensageiro – que trinta anos depois seria João Batista – é agora precisamente “aquele anjo, acompanhado de um coro”, que proclama, naquela primeira Noite de Natal«Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: ‘Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor’» (Lc 2).  E o mais extraordinário é que essa criança que agora nasce – no tempo e no espaço – já existia, fora do espaço e do tempo, como “Verbo-Palavra”, pois “no princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d’Ele, e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens… E àqueles que O querem receber e acreditam no seu nome, dá-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”… (Jo 1 / 3ª L).

Então, quer isto dizer que já podemos alegrar-nos e regozijar-nos, seguindo as vozes e os coros de todos os “mensageiros”, daqueles de então e destes de agora, porque – é verdade! – «já estamos no Caminho da Salvação!». E digam agora se não é esta, sem dúvida, “A melhor das Notícias”!  Aquela que, mais tarde e com toda a lógica, Jesus ia designar como «A Boa Nova» (“Evangelho”)…

Mas quem ia imaginar – quem! nos céus ou na terra – que a Salvação chegaria deste jeito tão simples… que o Salvador ia ser tão terno e frágil, tão pequeno e pobre, tão humilde e acessível… como esse bebé que jaz aninhado ao colo da jovem mãe… ou como essa criança que chora e dorme, sorri e acena, deitada nas palhinhas de uma miserável manjedoura?… Não é de admirar que a gente fique comovida, enternecida, abismada, e profundamente interpelada… ao contemplar a cena de um presépio qualquer, nesta quadra de NATAL, em qualquer lugar do mundo!…  E a maravilha prossegue ao constatarmos que este Menino-Deus, ou Deus-Menino, está a dizer-nos, com a sua presença e atitude singela e silenciosa, que continua a ser concebido e a nascer em todos os bebés e crianças que – como Ele – iniciam a vida neste mundo. Ou então não seria verdade – lembram-se? – aquilo de “Emanuel – Deus connosco”!  Sim, porque esta é, e não outra, a interpretação genuína e essencial do Mistério da In-carnação! E é isso que, por seu lado, querem significar os que afirmam: «Cada bebé que nasce nesta terra é uma aposta de Deus – renovada – por esta nossa Humanidade!»… Em consequência, não há nada a temer enquanto houver “crianças” a nascer, porque elas, desde a nascença, são também “Deus connosco”, Emanuel!

Agora entendemos melhor a Palavra do autor sagrado, na carta aos Hebreus (Heb 1 / 2ª L.):“Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. Sendo o Filho esplendor da sua glória e imagem da sua substância, tudo sustenta com a sua palavra poderosa… E foi a Ele que Deus disse: «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei»”.

E assim podemos e queremos louvar ao Senhor pelas maravilhas que Ele operou, e cantar-Lhe o Cântico Novo, porque o “cântico velho” – lembram-se? – já não tem sentido!

 

Afinal não foi “um braço de ferro”, Senhor,

mas foi a Tua mão e o Teu santo braço

que nos deram a vitória sobre o Mal.

E nós acreditamos, Senhor, que o Teu “santo braço”

não é a força física mas a força interior – omnipotente –

que se manifesta e se renova

na debilidade do que é pequeno e frágil:

essa força interior que é capaz

– na fraqueza da Tua Bondade e Fidelidade –

de nos “abrir o caminho da Salvação”

Esta é, Senhor, a “Boa Nova”, a melhor Notícia

que podia ser revelada aos olhos das nações,

em favor da casa de Israel,

– o Teu Povo, ó Deus, a Tua Igreja –.

Por isso nós, com todos os humanos,

com toda essa grande multidão dos redimidos,

juntamo-nos em coro, para aclamar-Te, ó Senhor,

ao som de instrumentos musicais

– os de corda e os de vento – :

«Tocai para o Senhor dos pequeninos:

tocai ao som da cítara e da lira;

tocai ao som da tuba e da trombeta;

aclamai o Senhor, nosso rei!».  

                  [ do Salmo Responsorial / 97 (98) ]