6c- «Dependente» ou «Autônomo»...

(Ciclo C – A Sagrada Família – Domingo… )

«DEPENDENTE» ou «AUTÓNOMO»?

– Obediência?… Submissão?… Dependência?…

– Não, obrigado! Nem pensar nisso!

Pois é evidente que, em grandes setores da nossa sociedade atual, o que predomina, por cima de tudo, é isto: liberdade sem limites; independência sempre que possível; individualismo exacerbado; egoísmo competitivo; direitos sobre “deveres” (estes reduzidos ao mínimo, quando existem!?); autonomia precoce e/ou absoluta; emancipação prematura… Tudo isto pode parecer um “inventário utópico”, um “catálogo” exagerado ou, talvez, algo irreal, imaginário, de um mundo que não é este mundo atual. Pois nada disso! Aqui não há qualquer pessimismo mas um “triste” realismo… Basta termos bem abertos os “olhos de ver” para descobrirmos os “frutos e consequências” de cada uma dessas “atitudes” pessoais e coletivas; ou de todas elas juntas, em maior ou menor grau! Acaso possa parecer isto um exagero, mas, então, que alguém venha demonstrar o contrário! Pois, nesta questão, «pretende-se “emendar o soneto”, mas acontece que, como era de esperar, “é pior a emenda”»!

Ora bem, num ambiente deste género, não será fácil introduzir os parâmetros normais, “naturais”, de uma família genuína, autêntica, tal como Deus a “sonhou e inventou”… Mesmo assim, se não lutarmos para recuperar o sentido verdadeiro da “família” – isto é, da “célula” natural e necessária da sociedade! – esta mesma sociedade (e já se apreciam os sintomas mais alarmantes!) ir-se-á fragmentando, desfazendo, autodestruindo. E tudo será substituído pela «lei da selva». (Já se começa a respirar esta atmosfera social!)…

Quer isto dizer que, se não queremos este cenário (que pode parecer alarmista ou negativista) então apostemos na família “original”, tal como saiu das “mãos de Deus”, embora assumindo as perfeições próprias do progresso humano… E, como ninguém pode – como muitos pretendem – “inventar” uma outra família diferente ou, pura e simplesmente, fazê-la desaparecer… então, teremos de voltar à Palavra de Deus, para vermos onde é que estão os autênticos alicerces da “família”, de todas e cada uma das famílias humanas. [Graças a Deus, temos, neste campo, o exemplo admirável do nosso Papa Francisco e “os seus desvelos” pela Família cristã, única atitude e estilo que pode salvar a Sociedade].

Para que a relação familiar de casal seja autêntica e frutuosa é preciso saber ceder – mutuamente! – em determinadas coisas, para bem de cada um, do casal e da família… Portanto, nenhuma das duas partes pense em dominar a outra, ou, por consequência, que uma das partes deva ser submissa… E, desde logo, nunca ninguém “autónomo”!

Acontece, porém, que, em diversas épocas da história e em determinadas regiões do mundo, esta realidade passou pelas flutuações “periódicas” de costume… Quando eram “sociedades matriarcais”, dominava a mulher, e o homem tinha de se submeter; o que, com o tempo, produzia uma reação que causava o efeito contrário (o “machismo” das sociedades patriarcais). Em tempos do apóstolo Paulo, era isto último que predominava, nomeadamente naquelas regiões do mundo “mais evoluído”(?). Consequentemente, ao que parece, naquela conjuntura histórica (conforme é atestado por espertos no tema) e como “reação”, a mulher tentava impor-se – por vezes aberta e descaradamente – e não apenas nas «assembleias cristãs»!… O que, pelos vistos, causava conflitos e discórdias naquela sociedade. Não admira que Paulo, tendo em atenção estes “casos repetidos”, advertisse, escrevendo aos cristãos de Colossas: “Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo”.(Cl 3)… Como se vê, ele não fala apenas para a mulher mas também para o homem e para os filhos. Quem pensava outra coisa acerca da atitude de Paulo, deve ter em conta, além das investigações já aludidas, todos os Escritos paulinos, na sua globalidade, e verá que este apóstolo não era precisamente “machista” mas defendia sempre a “igualdade” dos dois sexos, e concretamente “o protagonismo da mulher” quando lhe era devido.

Ou seja, nem domínio nem submissão! Apenas cedência, sintonia… amor, de parte a parte! E a mesma coisa se diga a respeito das relações paterno-filiais, para haver igualmente harmonia, simpatia…amor! Só neste sentido têm significado e aplicação as palavras de S. Paulo, nessa mesma carta aos Colossenses: “Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente…”(Cl 3 / 2ª L.).

Bem entendido que, como é sabido e «acontece até nas melhores famílias» (como se costuma dizer), é condição normal no seu processo de crescimento… que todo o ser humano passe por fases “críticas”, difíceis, conflituosas, que não serão fáceis de ultrapassar ou assumir, a não ser dentro de um ambiente familiar de empatia e harmonia – numa palavra, de Amor!

Aconteceu, como sabemos, na Família de Nazaré, sendo protagonista o próprio adolescente Jesus, naquela visita-peregrinação ao templo de Jerusalém! Vamos ficar, sem mais, com o texto central do Evangelho, que agora interessa: “…Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc 2 / 3ª L.). Mais claro e transparente é impossível! E todos os membros, de qualquer família, estamos aí “espelhados”, para, partindo deste “exemplo”, aprendermos a resolver qualquer conflito familiar!

 

Aqui estou, Senhor e Pai nosso,

e tenho nas mãos a minha “família”

– todas as famílias e comunidades do mundo –:

olha para ela e para elas, todas tão diversas!…

Vigia, com atenção, as mais “desnorteadas”;

acende a chama do amor onde ficou extinta;

ilumina os que vivem tristes ou “revoltados”;

apoia e alenta os que lutam no amor e por amor!…

Porque todos os que esperam em Ti, Pai,

enquanto caminham pelas tuas “veredas”,

são felizes no meio da harmonia familiar.

Ditosos os que labutam, sem desanimar,

para que tudo corra bem na comunidade familiar

e em todas as relações comunitárias e sociais!

Eles viverão felizes, alegres e contentes

ao recolher os frutos do seu trabalho!

Como serão felizes as esposas fecundas,

pelos seus filhos, como os ramos da oliveira,

ao redor da sua mesa abençoada por Ti, ó Pai!

Assim hão de crescer e frutificar, na amizade,

as famílias “abraçadas a Ti”, Senhor, Deus:

E verão a prosperidade desta cidade terrena,

desta Igreja, a caminho para a pátria celeste,

no meio dos vai-e-vens das nossas sociedades…

 [ do Salmo Responsorial / 127 (128) ]