5c- Emmanuel

 (Ciclo C -(ABC) – NATAL do Senhor)

«EMMANUEL»

Sabemos que os nossos antepassados na fé, embora olhassem para Deus como o Único Deus Verdadeiro, a imagem que tinham d’Ele – com aquela incipiente do Antigo Testamento – era, como não podia ser de outro modo, “uma imagem” rudimentar, defeituosa, embaçada, inacabada… Em primeiro lugar, Deus era para eles alguém afastado e distante; e às vezes, terrível e aterrador quando ficava irritado, zangado… Não esqueçamos que é normal – em todas as Idades da humanidade – conceder à Divindade atributos humanos, ou seja, criar “imagens antropológicas ou antropomórficas” de Deus. De tal maneira que Deus estaria: num lugar determinado e durante um tempo limitado, tal e qual como nós; quer dizer, submetido às coordenadas de espaço e de tempo deste mundo visível. Então, para aqueles nossos irmãos – ainda mais do que para muitos de nós – Deus estava “lá” e nós estávamos “cá”. E só estaria Ele junto de nós quando Se dignasse vir até nós, como diz a Escritura, pelo profeta Isaías, aludindo a essa vinda: “Todas juntas (as sentinelas) soltam brados de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião”… É a proximidade de Deus, “que vem para salvar”, o que enche de júbilo as sentinelas que vigiam pela Sua vinda. Pois toda a gente sabia que “o próprio Senhor é quem consola o Seu povo…”. (Is 52 / 1ª L.).

Mesmo assim, e apesar de todas as imagens desformadas ou deturpadas do Deus da Antiga Aliança, este mesmo profeta Isaías (noutra passagem do seu primeiro livro de Profecias) ao olhar para um tempo “futuro” cada vez mais próximo, consegue, por inspiração divina, distinguir e ver, na penumbra e na névoa, um evento único e díspar, capaz de decifrar todos os enigmas e resolver o “problema capital” do ser humano. Sim, vai chegar um tal «Emmanuel» que, por si só, conseguirá encurtar “o tempo”, e suprimir “a distância” que separa “a divindade” do “ser humano”, quer dizer, o espaço entre o homem e Deus. Trata-se daquela “atrevida e confiada” profecia que diz: “O Senhor, por sua conta e risco, vos dá um sinal. Olhai: a virgem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-lhe o nome de Emanuel” (Is 7, 14).

E precisamente agora, “nestes tempos últimos” de que fala o autor da Carta aos Hebreus (diríamos nós, “nesta altura de Natal”) é que se cumpre aquela profecia: “Nestes dias… falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas… sendo o Filho esplendor da sua glória e imagem da sua substância…” (Hb 1).  Cá está, então, esse Filho, Jesus – incarnado não apenas “na carne humana” mas incarnado também “na palavra humana” (“falou-nos por seu Filho”) – que vem a ser, assim, o «Deus connosco“Emanuel”». Todavia, a confirmação clara e definitiva desta feliz realidade encontramo-la em Mateus, ao descrever no seu Evangelho «aquele primeiro Natal» de Jesus em Belém, quando cita exatamente essa profecia de Is 7: “Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: «Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão de chamá-lo Emanuel», que quer dizer: Deus connosco” (Mt 1, 23). E assim, Mateus “decifra”, de vez, o enigma «Emmanuel».

Por outro lado, e para que não ficasse dúvida acerca de quem é este “Emmanuel”, acrescenta-se, na já citada Carta aos Hebreus (sendo Deus Pai a falar): “«Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei»… E também: «Eu serei para Ele um Pai, e Ele será para Mim um Filho»”… Se não tivesse sido o mesmo Deus a revelar este inaudito e admirável Mistério, nenhum “humano” se atreveria sequer a imaginá-lo ou sonhá-lo. É que “a Deus, nunca ninguém O viu; o Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer…” (Hb 1 / 2ª L.).

Porém, será o evangelista João – “qual águia” de olhar penetrante e profundo – quem nos dará a chave última do mistério: “No princípio era o Verbo (a «Palavra»)… e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus…”. Para concluir com esta Verdade admirável, muito além de toda a lógica humana: “…Mas este Verbo fez-Se carne e habitou entre nós…” (Jo 1 / 3ª L.). Deste modo, aquela Promessa (no profeta Isaías) de termos um dia o “Emmanuel”, ficou mais do que superada!

 

Sim, ó Pai nosso, Tu és sempre assim:

a realidade ultrapassa a promessa!

Pelos profetas tinhas prometido que,

“alguém da Tua parte”, viria ter connosco;

mas, afinal, o que ia chegar eras Tu mesmo

– «Deus connosco – Emmanuel» –.

Ninguém podia sonhar, Senhor,

as maravilhas que Tu irias operar…

Por isso, com o salmo, só sabemos cantar

“cânticos novos” para “maravilhas novas”…

Acontece, ó Deus, que a promessa

não acabava aí – no «estares connosco» –

embora isto fosse já muito mais

do que nós podíamos imaginar ou pedir.

Os prodígios de Salvação que Tu fazes

e que revelas aos olhos das nações,

ultrapassam, Pai nosso, todos os limites,

pois, é um facto que o Teu Amor não tem fim…

E por isso, o Teu “estar no meio de nós”

foi mais longe, até “esteres em nós”,

– viveres em cada um de nós! –

pelo mistério da Incarnação do Teu Filho…

Ajuda-nos, Pai, a fazermos a Tua vontade,

que consiste em “tornarmo-nos divinos”,

como exigência da Tua “humanização”,

em Cristo Jesus, Senhor nosso…

Assim, os confins da terra poderão ver

a admirável Salvação do nosso Deus.

Aclamai o Senhor, terra inteira,

exultai de alegria e cantai!

                        [ do Salmo Responsorial / 97 (98) ]