4c- Belém - Terra de Pão

(Ciclo C – 4º Domingo do Advento)

BELÉM – «TERRA DE PÃO»

                Aquela terra muito antiga de “Belém” – ou então, a sua outra denominação “Efrata” – leva uma conotação, já arcaica, de “frutificação” ou “fertilidade”… Embora nós vamos ficar com o significado mais expressivo e revelador de «Terra de pão» ou Terra de trigo; em todo o caso, terra que gera “Alimento” e Vida…

Comecemos com o “vaticínio” que recolhe o profeta Miqueias, logo no início da sua solene profecia: “«De ti, Belém-Efrata, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel…»”. Mais uma vez – e já começa a ser frequente nestas nossas Reflexões, lembram-se? – aparece aquilo que “é pequeno” em contraposição ao que é grande; o que é forte (a “Fortaleza” de que acaba de falar o texto imediatamente anterior) contraposto ao que aparece como débil e fraco, caso daquela aldeola originária do Messias…

Mas a Palavra de hoje, em vários aspetos e passagens, reveste-se de uma roupagem “misteriosa” que, em si mesma, vai querer dizer-nos, sucessivamente, algumas coisas importantes. Para já, Este, que um dia vai nascer em Belém, há de “reinar” num futuro em que “o resto dos seus irmãos voltará para os filhos de Israel …” (Mq 5 / 1ª L.). Resto, irmãos, filhos? Parece que vai haver uma reconciliação entre irmãos… Mesmo que uma grande parte deles tenha vivido tanto tempo afastada que, agora, ao voltar para o “ansiado reencontro”, possam ser considerados como inimigos perigosos… Alguns, tal como nós, já estarão a pensar – não podemos menos! – em tantos fugitivos, “refugiados” (e não só os que “entram” agora na Europa!). Que são irmãos nossos e que, por esse mundo fora, são obrigados a exilarem-se porque na sua “pátria” são torturados ou perseguidos à morte…

Claro que não é este, por agora, o caso de Maria, grávida de Jesus (“bendito é o fruto do teu ventre”) no episódio que narra este Evangelho de hoje: “Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá…” (Lc 1 / 3ª L.). Pois esta era apenas uma “visita familiar de serviço” à sua parente Isabel, também grávida. Mas esta “jovem mãe”, apenas uns meses mais tarde, quando já tiver ao colo “esse tal filho que nasceria em Belém”, terá de fugir, mesmo apressadamente, para o Egipto, com o seu esposo José, para evitar a morte certa desse bebé Jesus, que, por sinal, “veio para salvar” a todos. E assim, esta Família jovem conheceu, desde o início da sua existência, as angústias e aflições dos «refugiados à força» em terra estrangeira…

Mas, afinal, qual é a verdadeira “missão” deste Messias-Salvador, nascido em «Belém», e quais “os meios” que deverá utilizar para salvar essa Humanidade, que parece andar bastante desorientada, ou talvez perdida sem remédio?  – Desde logo, a quem tem fome de salvação é preciso dar-lhe, antes de mais, o pão da Esperança, além do pão corporal. Por isso, quem nasceu na «Terra de Pão» deveria – para realizar a Sua Missão – possuir um corpo capaz de se transformar em pão substancial para “matar aquela e todas as outras fomes”. Com razão diz a carta aos Hebreus: “Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo…»”. Quando, naquela altura dizia tais palavras dirigindo-Se ao Seu Pai Deus, nós podemos pensar que Jesus estava longe de imaginar que essa “aceitação e entrega” ia significar nada menos do que a trituração desse “corpo” como se esmaga o trigo para o transformar na farinha do pão, porque essa era a Vontade do Pai e a Sua própria: “«Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a Tua vontade»… E é em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre”. (Hb 10 / 2ª L.).

Ficamos, então, com esta expressão chave “a oblação do corpo de Jesus Cristo”, não só porque foi a causa da nossa Salvação, mas porque está a “exigir-nos” que façamos como Ele! Não esqueçamos que, tal como Jesus, a melhor maneira de “salvar alguém” é transmutar-nos em “alimento”, para que o outro possa “comer-nos”. É que aquele princípio continua assente: O que une essencialmente entre si as duas partes – “quem come e quem é comido” – é a mútua “incorporação”, pelo processo natural de ingestão-digestão-assimilação! Mais uma vez se compreende aquela transformação de Jesus em “pão”, o Pão Eucarístico (mas não só!), com as consequentes exigências para todos os que «com Ele Comungamos» – lembram-se –?

Deus e Pai nosso, Pastor de Israel,

Pastor desta Igreja que Teu Filho salvou…

A nossa espera é alegre e confiada,

porque Tu sempre vens visitar a Tua Vinha,

proteges a Cepa que a Tua direita plantou

e fortaleces o Rebento que dela nasceu…

Cepa e Rebento que, hoje e para nós,

são Maria y Jesus – Mãe e Filho – ;

sim, aquele “seio materno” que gerou,

e este “fruto bendito” que cresceu para nós…

Por isso, Mãe, queremos aprender de ti,

primeiro, a sermos a boa terra que tu foste,

para acolher o “grão de trigo”, Jesus; e depois,

sabermos alimentá-l’O e cuidá-l’O com amor,

para Se transformar em «pão de Vida»,

em fruto de Salvação para todos…

Mãe, que saibamos ser trigo e pão,

pela nossa entrega – “oblação” – diária

a todos os que têm fome e sede de Jesus!

                                                               [ do “Salmo Responsorial” (Sl 79-80) ]