12c- «Pródigo». Era o filho ou o pai!

(Ciclo C – Domingo 4 da Quaresma) 

 «PRÓDIGO». ERA O FILHO? OU O PAI?

Por exigência do guião, a nossa Reflexão de hoje vem na sequência da do domingo anterior: feliz coincidência! Aí víamos que o verdadeiro «nome» de Deus, o essencial – o “Abbá-PAI” – foi-nos revelado pelo Filho, Jesus, pois só o Filho «conhece a Sua essência». Ele próprio o afirmou em certa altura: “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11, 27).

No entanto, naquela nossa reflexão ficamos a saber apenas qual era esse «verdadeiro Nome», isto é, PAI. Faltava-nos, porém, conhecer «como é este PAI». E embora a maioria (?) dos “humanos” possamos ter uma “imagem bondosa” do pai terreal… este PAI supera todos (não em vão Ele é a origem de todo o ser “mãe-pai”!). Era, por isso, justo e necessário que alguém nos “pintasse” o verdadeiro «retrato» deste Pai-Deus… E é, então, que Jesus “inventou” (imaginou e criou) a melhor das parábolas que encontramos nos Evangelhos: a que é conhecida como a parábola do «filho pródigo». Tanto assim, que alguns “autores”, já em tempos idos, atreveram-se a afirmar, por estas ou parecidas palavras: «Enquanto a humanidade seja isso, humanidade, não houve nem haverá qualquer “sábio” – seja ele profeta ou poeta ou filósofo ou teólogo – capaz de escrever uma “página literária” que chegue a igualar, e menos ainda superar, esta “Página Evangélica” da parábola “do filho pródigo” ou “do pai misericordioso”, inventada por Jesus de Nazaré»…

E postos também a fazermos prospeção com o significado das palavras, digamos que há os que pensam que o primeiro sentido de “pródigo” (prodigar), nas nossas línguas, é o daquele “que dá sem medida, que oferece em abundância”… de modo que o título da parábola, em vez de ser “do filho pródigo”, teria de ser «do pai pródigo»”, quer dizer, alguém que é, sem limites: generoso, magnânimo, pródigo… e, sobretudo, «compassivo e misericordioso». Em consequência, o título tradicional da parábola, referido ao filho, passaria a ser este outro: a “do filho esbanjador”, manirroto, que “gasta em excesso”, dissipa, dilapida os bens (que afinal foi a atitude e conduta do “filho mais novo”). Portanto, em definitivo, o «Pródigo em Amor e Misericórdia» foi o pai, esse pai que constitui – na “parábola de Jesus” – o vivo retrato e figura do Pai-Deus.

Bom, acerca desta “parábola extraordinária” já se escreveu tantíssimo, ao longo da história destes vinte séculos (e o que se escreverá no futuro!)… que nós, agora, apenas tentaremos pôr o nosso pequeno «grão de areia», limitando a nossa reflexão a alguns breves “textos” da Palavra de hoje, no Evangelho (Lc. 15 / 3ª L.), centrados nos dois “protagonistas principais”. [Mas antes de prosseguirmos a Reflexão – é o nosso conselho – seria bom fazer previamente a leitura atenta e pausada do Texto da parábola].

O «pai», começa por aceitar – embora com profunda dor – a decisão do filho mais novo, pois o Amor verdadeiro respeita sempre a liberdade do outro: “…«Pai, dá-me a parte da herança que me toca». O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo… partiu para um país distante…”.

Mas a única força interior capaz de desencadear a conversão deste «filho mais novo», vai ser a lembrança desse Amor bondoso e compassivo do pai: “…Caindo em si, disse: «Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome!”. E essa mesma recordação do afeto e amizade do pai provoca a “decisão firme de voltar”: “Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti…”. Além do mais, esta atitude decidida de conversão do filho, não deixa de ser sincera e humilde, pois reconhece também, na sua sinceridade: “Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores»”.

Desde logo, aquele «pai» também não tinha ficado “de braços cruzados” à espera do possível regresso do filho. Pelo contrário, uma vez que a “energia” que move o coração do pai é o Amor sem limites, parece como que esse mesmo coração paternal tivesse estado “inquieto” todo esse tempo, como que “pendente do retorno do filho”, espreitando, dia após dia, todos os caminhos prováveis por onde o filho poderia aparecer. Se assim não fosse, mal o pai o teria avistado quando ele apareceu no horizonte! “Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos”.

Esta é, pois, a “cena” central do Perdão; o “quadro” comovente desse Abraço que fusiona e (con)funde pai e filho no mesmo AMOR. E aqui, sobram as palavras! Nem o mais mínimo gesto ou palavra de censura da parte do pai! Tudo fica envolvido e trespassado pelo Amor, a Alegria e a Festa: “«Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado». E começou a festa…”. Este desgraçado “filho mais novo” – embora ele já não pretendia tanto! – continua a ser «filho» (o “anel no dedo”), como sempre o foi para aquele «Pai» Amoroso e cheio de Misericórdia, que «não tem memória»! Sim, isso mesmo, este «nosso Pai» está em perpétua “amnésia” para os erros e pecados dos seus filhos!

Na verdade, este era – é e será! – o Pai que nos convém! Diante d’Ele, qualquer ser humano, no seu “uso normal de razão” – mesmo o que se achar mais afastado de Deus! – sentir-se-á comovido, seduzido, vencido, rendido… Salvado, nos braços deste Pai-Mãe!

 

Hoje, Pai nosso e Senhor do Céu,

a nossa Oração é um Salmo diferente,

o salmo da Tua Bondade de Pai-Mãe,

o salmo da “parábola do pai pródigo”

e o salmo do Teu Filho Amado, Jesus,

o verdadeiro “Filho mais velho”…

Sim, Jesus, porque Tu és o Mediador

entre o “Pai pródigo em Amor-ternura”

e o “filho desgraçado” que é cada um de nós,

“filhos esbanjadores” dos Teus Tesouros,

“perdulários” das Tuas Graças e Dons…

Mas agora «queremos voltar para Ti, Pai»

como o «filho da parábola» contada por Jesus,

«para assim ficarmos radiantes e alegres,

e o nosso rosto de vergonha se vire para a Luz».

– Obrigado, Pai-Mãe, porque nos deste

este “Irmão mais velho”, Jesus Cristo,

“para, n’Ele, nos reconciliares conTigo” (*):

Ele próprio é o “Rosto fiel da Tua Misericórdia”

«Misericordiae vultus», do Papa Francisco –.

– Obrigado, Jesus, nosso Irmão, reflexo de Deus,

que nos “pintaste” o melhor “retrato” do Pai

naquela Tua admirável «parábola do filho pródigo»,

copiando, nela, os «traços Filiais» da Tua Pessoa,

“imagem visível” do Seu Ser Invisível…

Assim, «a toda a hora bendiremos o Pai-Deus»

e proclamaremos lá onde for preciso:

«Saboreai e vede como o Pai-Mãe é Bom!».

                [ do Salmo Responsorial / 33 (34) ]

(*)- (2 Cor 5 / 2ª L.).