(Ciclo C – Domingo 5 da Quaresma)
O «PERDÃO» É SEMPRE «CRIADOR»
Quanta vez – não é verdade? – somos inclinados a ver a “face negativa” das coisas e dos acontecimentos, mais ainda nas etapas complicadas ou conflituosas – pensamos nós! – que nos toca viver nas diversas “flutuações” da nossa história. Mas, nesses períodos de “pessimismo”, não seremos nós capazes de erguermos os olhos para o alto, para essa “dimensão otimista” da vida, que «já é mas ainda não», porque “já está presente, ainda que só será definitiva no futuro”?… Aquele povo hebreu («o escolhido») estava a passar por uma das piores etapas de “negativismo”, devido aos acontecimentos vividos… E é precisamente aí que o profeta “transmite” da parte de Deus: “«Não vos lembreis já mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?… No deserto vai brotar água, e rios na terra árida…»”. (Is 43 / 1ª L.). Coisa inaudita! Onde é que se viu algo de semelhante!? É que Deus, nosso Pai, é sempre «Criador e Criativo». Foi isto mesmo que Jesus afirmou solenemente a certa altura: «Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo» (Jo 5, 17). E já em Isaías, como estamos a ver, falava de “fazer algo de novo”! Esta “novidade” é que ficará definitivamente! Porque será esquecido (“Não vos lembreis”) tudo o que, de velho, foi ficando irreversivelmente ultrapassado!
Paulo, o apóstolo, escreve-o de outro modo – na sua linguagem atlética – : “Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente e continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus”. Pois ele – Saulo ou Paulo – sabia muito bem o que era “deixar para trás” toda a sua vida anterior, «equivocada», “considerando tudo como lixo, para ganhar a Cristo”. (Fl 3 / 2ª L.). Aliás, Paulo achava-se um homem “novo” porque se sentia “perdoado” e abraçado por Cristo Jesus!
Ou seja que, na expressão paulina, quando Deus “puxa” por nós, “lá do alto, é para chamar-nos em Cristo Jesus”. Significa então que, a palavra-chave vai ser agora «em Cristo Jesus»! Ele será, desde já, o Reflexo do Pai, e por conseguinte, Criador e Criativo como o Pai; Compassivo e Misericordioso como Ele, o Seu Rosto de Misericórdia («misericordiae vultus»).
E nós, que seguimos o modelo de Cristo Jesus, como é que podemos ser “criadores e criativos” (“fazer algo de novo”)? – Pois temos a “chave” no episódio evangélico que hoje nos narra João; onde está bem claro o exemplo e atitude de Jesus neste sentido. Aquela mulher estava “perdida” (como o «filho pródigo» da parábola), “apanhada” no pecado de adultério; e é só o pecado, como sabemos, que pode causar a «verdadeira morte» da pessoa… Era, pois, necessário que ela recuperasse a vida “nova”; aquela vida autêntica que nenhum dos presentes – fora de Jesus – podia devolver àquela mulher, e menos ainda os que tinham “já a pedra preparada” para lançá-la sobre ela! Observemos, então, a atitude de Jesus, e aprendamos onde é que está «a clave» desta “nova Criação”.
Depois de terem todos desistido de apedrejar a mulher (“porque ninguém estava sem pecado”)… “ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar»”. (Jo 8 / 3ª L.).
No final deste diálogo, ficam apenas duas coisas fundamentais, da parte de Jesus, que produzem a «nova criação» naquela mulher. A primeira, desde logo, é o Perdão sem condições! Isto já não é novidade para nós porque conhecemos o “estilo habitual de Jesus”, de “coração manso y humilde, compassivo e misericordioso”. A mulher “condenada” por todos, sente-se “libertada” pelo Perdão de Jesus. Tantas vezes costumava Ele repetir, a uns e a outros: “Os teus pecados estão perdoados”!
Mas a segunda questão importante, derivada das palavras e gestos de Jesus, é consequência da primeira. Isto porque, se quisermos que essa “nova criação” seja definitiva e absoluta, a atitude e conduta da mulher – tal como a de todos nós! – deverá mudar radicalmente de direção e sentido, precisamente pelo facto de se sentir perdoada e amada. Também as últimas palavras de Jesus a esta mulher (“Vai e não tornes a pecar”) surgem dos lábios de Jesus noutros casos semelhantes, e precisamente na sequência do Perdão!
Na verdade, o perdão recebido e experimentado produz em nós essa “interior reviravolta” – «conversão sincera» – que nos transforma por dentro, para realizar a “nova criação”! Ou seja: «O Perdão vai sempre unido a uma Nova Criação».
Senhor, eu posso sentir-me “condenado” pelos outros,
e até julgar-me eu mesmo “condenado”…
mas confiarei sempre na Tua Palavra, Jesus:
«Eu nunca te condeno!».
Até os inimigos, que vêm contra mim “de pedra na mão”,
ficarão “desarmados” ao conhecer a Tua Verdade.
E mesmo os que Te não conhecem dirão:
«O Senhor fez por eles grandes maravilhas».
É a pura verdade, ó Senhor e Pai nosso,
e por isso estamos exultantes de alegria!
No «vale do pecado» semeamos lágrimas,
mas no «monte do Teu Perdão», Senhor,
recolhemos as espigas da alegria e júbilo…
“Recria” em nós, ó Deus, um espírito “novo”,
porque a Tua «re-Criação» nasce do Perdão,
e a Tua «re-Novação» cresce nos desertos humanos
tal como as torrentes no deserto do Négueb…
Ó Jesus, fonte do Perdão que “tudo re-nova”,
Filho desse Deus que é «Pai das Misericórdias»,
uniremos as nossas vozes para proclamar sempre:
«O Senhor faz maravilhas em favor do seu povo».
[ do Salmo Responsorial / 125 (126) ]
10 Março, 2016
O «PERDÃO» É SEMPRE «CRIADOR»
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo 5 da Quaresma)
O «PERDÃO» É SEMPRE «CRIADOR»
Quanta vez – não é verdade? – somos inclinados a ver a “face negativa” das coisas e dos acontecimentos, mais ainda nas etapas complicadas ou conflituosas – pensamos nós! – que nos toca viver nas diversas “flutuações” da nossa história. Mas, nesses períodos de “pessimismo”, não seremos nós capazes de erguermos os olhos para o alto, para essa “dimensão otimista” da vida, que «já é mas ainda não», porque “já está presente, ainda que só será definitiva no futuro”?… Aquele povo hebreu («o escolhido») estava a passar por uma das piores etapas de “negativismo”, devido aos acontecimentos vividos… E é precisamente aí que o profeta “transmite” da parte de Deus: “«Não vos lembreis já mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?… No deserto vai brotar água, e rios na terra árida…»”. (Is 43 / 1ª L.). Coisa inaudita! Onde é que se viu algo de semelhante!? É que Deus, nosso Pai, é sempre «Criador e Criativo». Foi isto mesmo que Jesus afirmou solenemente a certa altura: «Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo» (Jo 5, 17). E já em Isaías, como estamos a ver, falava de “fazer algo de novo”! Esta “novidade” é que ficará definitivamente! Porque será esquecido (“Não vos lembreis”) tudo o que, de velho, foi ficando irreversivelmente ultrapassado!
Paulo, o apóstolo, escreve-o de outro modo – na sua linguagem atlética – : “Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente e continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus”. Pois ele – Saulo ou Paulo – sabia muito bem o que era “deixar para trás” toda a sua vida anterior, «equivocada», “considerando tudo como lixo, para ganhar a Cristo”. (Fl 3 / 2ª L.). Aliás, Paulo achava-se um homem “novo” porque se sentia “perdoado” e abraçado por Cristo Jesus!
Ou seja que, na expressão paulina, quando Deus “puxa” por nós, “lá do alto, é para chamar-nos em Cristo Jesus”. Significa então que, a palavra-chave vai ser agora «em Cristo Jesus»! Ele será, desde já, o Reflexo do Pai, e por conseguinte, Criador e Criativo como o Pai; Compassivo e Misericordioso como Ele, o Seu Rosto de Misericórdia («misericordiae vultus»).
E nós, que seguimos o modelo de Cristo Jesus, como é que podemos ser “criadores e criativos” (“fazer algo de novo”)? – Pois temos a “chave” no episódio evangélico que hoje nos narra João; onde está bem claro o exemplo e atitude de Jesus neste sentido. Aquela mulher estava “perdida” (como o «filho pródigo» da parábola), “apanhada” no pecado de adultério; e é só o pecado, como sabemos, que pode causar a «verdadeira morte» da pessoa… Era, pois, necessário que ela recuperasse a vida “nova”; aquela vida autêntica que nenhum dos presentes – fora de Jesus – podia devolver àquela mulher, e menos ainda os que tinham “já a pedra preparada” para lançá-la sobre ela! Observemos, então, a atitude de Jesus, e aprendamos onde é que está «a clave» desta “nova Criação”.
Depois de terem todos desistido de apedrejar a mulher (“porque ninguém estava sem pecado”)… “ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar»”. (Jo 8 / 3ª L.).
No final deste diálogo, ficam apenas duas coisas fundamentais, da parte de Jesus, que produzem a «nova criação» naquela mulher. A primeira, desde logo, é o Perdão sem condições! Isto já não é novidade para nós porque conhecemos o “estilo habitual de Jesus”, de “coração manso y humilde, compassivo e misericordioso”. A mulher “condenada” por todos, sente-se “libertada” pelo Perdão de Jesus. Tantas vezes costumava Ele repetir, a uns e a outros: “Os teus pecados estão perdoados”!
Mas a segunda questão importante, derivada das palavras e gestos de Jesus, é consequência da primeira. Isto porque, se quisermos que essa “nova criação” seja definitiva e absoluta, a atitude e conduta da mulher – tal como a de todos nós! – deverá mudar radicalmente de direção e sentido, precisamente pelo facto de se sentir perdoada e amada. Também as últimas palavras de Jesus a esta mulher (“Vai e não tornes a pecar”) surgem dos lábios de Jesus noutros casos semelhantes, e precisamente na sequência do Perdão!
Na verdade, o perdão recebido e experimentado produz em nós essa “interior reviravolta” – «conversão sincera» – que nos transforma por dentro, para realizar a “nova criação”! Ou seja: «O Perdão vai sempre unido a uma Nova Criação».
Senhor, eu posso sentir-me “condenado” pelos outros,
e até julgar-me eu mesmo “condenado”…
mas confiarei sempre na Tua Palavra, Jesus:
«Eu nunca te condeno!».
Até os inimigos, que vêm contra mim “de pedra na mão”,
ficarão “desarmados” ao conhecer a Tua Verdade.
E mesmo os que Te não conhecem dirão:
«O Senhor fez por eles grandes maravilhas».
É a pura verdade, ó Senhor e Pai nosso,
e por isso estamos exultantes de alegria!
No «vale do pecado» semeamos lágrimas,
mas no «monte do Teu Perdão», Senhor,
recolhemos as espigas da alegria e júbilo…
“Recria” em nós, ó Deus, um espírito “novo”,
porque a Tua «re-Criação» nasce do Perdão,
e a Tua «re-Novação» cresce nos desertos humanos
tal como as torrentes no deserto do Négueb…
Ó Jesus, fonte do Perdão que “tudo re-nova”,
Filho desse Deus que é «Pai das Misericórdias»,
uniremos as nossas vozes para proclamar sempre:
«O Senhor faz maravilhas em favor do seu povo».
[ do Salmo Responsorial / 125 (126) ]