(Ciclo C – Domingo da SS. TRINDADE)
«SABEDORIA» – TRINDADE
Entre os muitos sentidos, significados, acepções… dados à palavra “Sabedoria”, importa agora centrarmo-nos naquele que foi “o original sentido Bíblico que o termo tem”. Ou seja aquele significado que, na Escritura Sagrada, já desde as origens, estava reservado a Deus, enquanto divindade, e na sua relação com o homem, único ser “criado à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 26). É, aliás, curioso e interessante constatar – mesmo nos inícios do Génesis – o modo como “a ciência do bem e do mal” («sabedoria»), que era negada ao homem para “se não tornar igual a Deus” (Gn 3, 5), parece contradizer o outro texto anterior! Por isso, teria que vir Cristo Jesus para – como em todas as coisas – interpretar o sentido genuíno das Escrituras, e demonstrar que, afinal, tratava-se, isso mesmo, de «tornar o homem Deus», precisamente pela Sabedoria Divina… e de uma maneira muito mais profunda e inimaginável (como logo a seguir se verá no texto evangélico de Jesus, que transcrevemos).
Primeiro de tudo, reconhecer que, em vários textos do AT, aparece a atribuição de todas as Obras da Criação a Deus (à “Sabedoria”, ao “espírito de Deus”) como tornando naturalmente equivalentes: “Sabedoria” e “Deus”: (ver: Jb 26; Sl 33.104; Jdt 16; Sb 1.7.9.14; Pr 3.8). Precisamente, este cap. 8 dos Provérbios é objeto da 1ª leitura de hoje. Que cada qual interprete, na sua reflexão interior, o sentido desta passagem: “Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua atividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra (…) Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens»”. (Pr 8 / 1ª L.). Parece evidente que essa Sabedoria é equivalente, igual (!) a Deus. Se assim não fosse, que sentido teria o facto de ela ser “eterna”, como Deus!?
Duas “verdades”, porém, parecem emergir deste texto:
1- A primeira é essa “relação-diálogo” que aparece entre “o Senhor” e “a Sabedoria” de Deus, o que nos aponta para a “intra-comunicação” no seio da Trindade Divina. Isto vê-se igualmente refletido na própria Palavra de Jesus, no Evangelho: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena… Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará»”. (Jo 16 / 3ª L.). É óbvio que só pode “conduzir ou guiar até à verdade plena” quem for a mesma Sabedoria Absoluta, neste caso “personificada” no Espírito da Verdade (3ª Pessoa da Trindade), o Espírito que Jesus envia, procedente do Pai, para receber e dar o que é atributo do Pai e do Filho. E cabe-nos perguntar então: Será que podemos interpretar e aceitar uma certa «equivalência» (igualdade?) entre Sabedoria e Deus-Trindade?…
2- Mas a segunda “verdade” que surge daquele texto (de Pr 8) é mesmo “reveladora” e estimulante, e aparece mesmo no fim: “…as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens”. E assim, aquela “Sabedoria” de Deus parece como que «se prolonga e perpetua nos seres humanos», até ficarem totalmente “envolvidos” e “impregnados” nessa Sabedoria Divina. Desta sorte, já não será difícil entender aquela Palavra de Jesus (entre outras) no sentido de que, afinal, fomos criados mais do que “à imagem e semelhança de Deus”: “«Não está escrito na vossa Lei [Sl 81(82)]: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus – e a Escritura não se pode pôr em dúvida – a Mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: ‘Tu blasfemas’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’?” (Jo, 10, 34-36).
E é necessário, aqui e agora, compararmos aquele «sereis como Deus» (do Gn) com este «sois Deus» (!) de Jesus, o Filho, que “sabe” muito bem o que está a afirmar. Aquilo era como que “uma figura” desta outra “realidade” definitiva! Assim sendo, “imbuídos” nesta «divindade trinitária», vamos concluir, então, com esta exclamação exultante de S. Paulo (na sua carta aos Romanos): “Por Nosso Senhor Jesus Cristo, temos acesso, na fé, a esta Graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da Glória de Deus… Porque o Amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rm 5 / 2ª L.).
Senhor, nosso Deus e Pai,
como é admirável o Teu nome
em todo o Universo, a Obra das Tuas mãos…
Mas hoje o nosso louvor e glória, o nosso Amor,
vai dirigido à Tua Divindade Trinitária:
– Porque, mesmo apesar da pequenez humana
e sem o conseguirmos compreender,
admiramos que, na Tua Sabedoria e Bondade,
quisesses fazer do homem um ser divino…
– Porque realmente quiseste submeter
toda a Criação ao “domínio” dos humanos,
mas para a amar e defender e não para a destruir…
– Porque o Teu “sonho” foi e será sempre
coroar o homem de honra e glória eternas,
fazê-lo entrar na Tua Comunidade Trinitária,
onde o Amor é a energia vital que diviniza;
onde só existe a Sabedoria de Deus-Pai,
que Se projeta nos Seus «filhos no Filho»;
onde o Espírito tudo alenta, aviva e inspira…
[ do Salmo Responsorial (Sl 8) ]
20 Maio, 2016
«SABEDORIA» – TRINDADE
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
(Ciclo C – Domingo da SS. TRINDADE)
«SABEDORIA» – TRINDADE
Entre os muitos sentidos, significados, acepções… dados à palavra “Sabedoria”, importa agora centrarmo-nos naquele que foi “o original sentido Bíblico que o termo tem”. Ou seja aquele significado que, na Escritura Sagrada, já desde as origens, estava reservado a Deus, enquanto divindade, e na sua relação com o homem, único ser “criado à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 26). É, aliás, curioso e interessante constatar – mesmo nos inícios do Génesis – o modo como “a ciência do bem e do mal” («sabedoria»), que era negada ao homem para “se não tornar igual a Deus” (Gn 3, 5), parece contradizer o outro texto anterior! Por isso, teria que vir Cristo Jesus para – como em todas as coisas – interpretar o sentido genuíno das Escrituras, e demonstrar que, afinal, tratava-se, isso mesmo, de «tornar o homem Deus», precisamente pela Sabedoria Divina… e de uma maneira muito mais profunda e inimaginável (como logo a seguir se verá no texto evangélico de Jesus, que transcrevemos).
Primeiro de tudo, reconhecer que, em vários textos do AT, aparece a atribuição de todas as Obras da Criação a Deus (à “Sabedoria”, ao “espírito de Deus”) como tornando naturalmente equivalentes: “Sabedoria” e “Deus”: (ver: Jb 26; Sl 33.104; Jdt 16; Sb 1.7.9.14; Pr 3.8). Precisamente, este cap. 8 dos Provérbios é objeto da 1ª leitura de hoje. Que cada qual interprete, na sua reflexão interior, o sentido desta passagem: “Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua atividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra (…) Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens»”. (Pr 8 / 1ª L.). Parece evidente que essa Sabedoria é equivalente, igual (!) a Deus. Se assim não fosse, que sentido teria o facto de ela ser “eterna”, como Deus!?
Duas “verdades”, porém, parecem emergir deste texto:
1- A primeira é essa “relação-diálogo” que aparece entre “o Senhor” e “a Sabedoria” de Deus, o que nos aponta para a “intra-comunicação” no seio da Trindade Divina. Isto vê-se igualmente refletido na própria Palavra de Jesus, no Evangelho: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena… Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará»”. (Jo 16 / 3ª L.). É óbvio que só pode “conduzir ou guiar até à verdade plena” quem for a mesma Sabedoria Absoluta, neste caso “personificada” no Espírito da Verdade (3ª Pessoa da Trindade), o Espírito que Jesus envia, procedente do Pai, para receber e dar o que é atributo do Pai e do Filho. E cabe-nos perguntar então: Será que podemos interpretar e aceitar uma certa «equivalência» (igualdade?) entre Sabedoria e Deus-Trindade?…
2- Mas a segunda “verdade” que surge daquele texto (de Pr 8) é mesmo “reveladora” e estimulante, e aparece mesmo no fim: “…as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens”. E assim, aquela “Sabedoria” de Deus parece como que «se prolonga e perpetua nos seres humanos», até ficarem totalmente “envolvidos” e “impregnados” nessa Sabedoria Divina. Desta sorte, já não será difícil entender aquela Palavra de Jesus (entre outras) no sentido de que, afinal, fomos criados mais do que “à imagem e semelhança de Deus”: “«Não está escrito na vossa Lei [Sl 81(82)]: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus – e a Escritura não se pode pôr em dúvida – a Mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: ‘Tu blasfemas’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’?” (Jo, 10, 34-36).
E é necessário, aqui e agora, compararmos aquele «sereis como Deus» (do Gn) com este «sois Deus» (!) de Jesus, o Filho, que “sabe” muito bem o que está a afirmar. Aquilo era como que “uma figura” desta outra “realidade” definitiva! Assim sendo, “imbuídos” nesta «divindade trinitária», vamos concluir, então, com esta exclamação exultante de S. Paulo (na sua carta aos Romanos): “Por Nosso Senhor Jesus Cristo, temos acesso, na fé, a esta Graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da Glória de Deus… Porque o Amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rm 5 / 2ª L.).
Senhor, nosso Deus e Pai,
como é admirável o Teu nome
em todo o Universo, a Obra das Tuas mãos…
Mas hoje o nosso louvor e glória, o nosso Amor,
vai dirigido à Tua Divindade Trinitária:
– Porque, mesmo apesar da pequenez humana
e sem o conseguirmos compreender,
admiramos que, na Tua Sabedoria e Bondade,
quisesses fazer do homem um ser divino…
– Porque realmente quiseste submeter
toda a Criação ao “domínio” dos humanos,
mas para a amar e defender e não para a destruir…
– Porque o Teu “sonho” foi e será sempre
coroar o homem de honra e glória eternas,
fazê-lo entrar na Tua Comunidade Trinitária,
onde o Amor é a energia vital que diviniza;
onde só existe a Sabedoria de Deus-Pai,
que Se projeta nos Seus «filhos no Filho»;
onde o Espírito tudo alenta, aviva e inspira…
[ do Salmo Responsorial (Sl 8) ]