28a- Deus pequeno - Deus imenso!

 (Ciclo A – Domingo 5 -Tempo Com.) 

DEUS PEQUENO – DEUS IMENSO!

Onde melhor se vê e se confirma a atuação habitual de Deus – sempre desde “abaixo” e desde “dentro” – porque «o “frágil” confundirá o forte»” – lembram-se? – onde mais claro aparece e se demonstra, digo, é precisamente através do Mistério da Cruz de Cristo. Escreve-o assim Paulo aos cristãos de Corinto: “Quando fui ter convosco, irmãos, … para vos anunciar o mistério de Deus, pensei que, entre vós, não devia saber nada senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Assim, apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza… e a tremer de veras”… E para que ainda fique mais claro, logo a seguir contrapõe a “inutilidade” de construir um caminho “superior” de força e poder. “A minha palavra e a minha pregação não se basearam na sublimidade da linguagem convincente da sabedoria humana… porque a vossa fé não se pode fundar na sabedoria humana, mas no poder de Deus”. (1 Cor 2 / 2ª L.). Ora bom, sucede que este “poder de Deus” está na fraqueza dos humildes e na debilidade dos pobres. De tal modo que aqui não existe poder nenhum do género “poder dos poderosos”. Se fosse um poder deste tipo, poderia acontecer que, algum dia, esses “poderosos” teriam motivo para se gloriarem no “seu poder” e auto-suficiência. E então, nada mais longe da Verdade, nada mais longe de Deus!

De mais a mais, se porventura alguém não ficou convencido – aquando do profeta Sofonias, lembram-se? – acerca da preferência de Javé-Deus para com os pequenos e pobres, já desde as profecias da “antiga aliança”… vem desta vez um outro profeta (Isaías) insistindo no mesmo tema: “Eis o que diz o Senhor: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa a quem não tem que vestir”… E com este preceito, claro e terminante, vem a promessa do prémio, agora e depois: “Então a tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá, se O invocares, dir-te-á: ‘Aqui estou!’”… Mas se por ventura não ficou ainda suficientemente esclarecido, o profeta ajunta «novas variações sobre o mesmo tema»: “Se deres o teu pão ao faminto e matares a fome do indigente”... E novamente seguem-se as correspondentes recompensas, no presente e para o futuro: “Então a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia»” (Is 58 / 1ª L.).

Aí está o paradoxo de Deus – o Deus Desconcertante! – que, agindo e atuando desde o mais pequeno e frágil, acaba dominando todas as forças do universo (as forças do mal e as outras…), já que, afinal, é o Único Omnipotente e Omnisciente! Grande verdade “paradoxal”!

Perante esta realidade e verdade, não admira que Cristo Jesus – o filho, o irmão – nos exija, a todos, uma atitude e conduta coerente, íntegra e radical. Porque, mais uma vez, Ele não admite meias-tintas nem aceita mediocridades. Embora afinal, Jesus acabará por perdoar tudo, como o Pai, logo que veja ou sinta, da parte de alguém, o mais mínimo sincero arrependimento e uma atitude honesta de conversão! Mas não deixa de nos propor a exigência do seu “programa de vida”. Teremos de ser “sal da terra” (e não vida insípida!) que ajude a transformar a vida dos outros. Bem como “luz do mundo” para iluminar o caminho da vida das pessoas… em vez de deixarmo-nos envolver e arrastar pela corrente das “travas deste mundo”… As palavras de Jesus são determinantes: “Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força… não serve para nada… só para ser deitado fora e calcado… Vós sois a luz do mundo… e não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa”… Porque, sendo assim: “Brilhará a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o Vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5 / 3ª L.).

 

Os Teus sábios profetas, Senhor,

desde a mais remota antiguidade,

já tinham previsto e anunciado

que, “para o homem justo e reto,

haveria de nascer uma luz no meio das trevas”

E agora sabemos, Senhor, que essa “luz”

brilha – tem de brilhar! – dentro e fora de nós

quando intentamos ser bons e compassivos,

quando o nosso coração está firme

e a nossa alma confia em Ti, Senhor…

E sentimos que somos felizes

quando nos compadecemos e partilhamos…

E se dispomos as nossas coisas com justiça

e sabemos repartir generosamente

pelos pobres e famintos mais próximos…

Então, nem receamos as más notícias

nem o temor ou medo viverá na nossa casa.

Então, viveremos de cabeça erguida

porque vai ficar, Senhor, “memória eterna

da nossa generosidade neste mundo”…

         [ do Salmo Responsorial / 111 (112) ]