40a- «Tesouro novo» e velhos tesouros...

 (Ciclo A – Domingo 17 -Tempo Com.)  

«TESOURO NOVO» E VELHOS TESOUROS…

Toda a gente fica entusiasmada, encantada, quando lhe falam de “um tesouro” que poderá ser seu, desde que consiga descobri-lo e conquistá-lo. Tesouros, porém, há muitos, embora são muito poucos, ou talvez um só, que pode resolver-nos o problema da nossa existência e Felicidade, presente e futura.

Para conseguir esse tesouro, antes de mais, será necessário procurá-lo intensa e ativamente, pois não é na preguiça ou passividade que se vai encontrar. Na Palavra do Evangelho, vemos que “o tesouro escondido num campo foi descoberto” por quem estava trabalhando nesse campo, como abnegado e paciente agricultor. Tal como – na segunda parábola – se “aquele negociante de pérolas preciosas” não se tivesse mexido em viagens de intercâmbio comercial, não teria encontrado aquela “pérola de grande valor”. Muito bem.

Não obstante, se tudo ficasse por aí, teríamos conseguido apenas a primeira parte, isto é, só «a descoberta»; saber onde está o tesouro. Todavia, falta o mais importante, ou seja, «a conquista» dessa “fortuna”, para tomar posse dela. E aparece então um dilema opcional, uma opção de renúncia radical, de desapego de tudo o que, de facto, possuímos. O dilema é: ou ficar com o que já se tem ou renunciar a tudo isso para conquistar e alcançar “o tesouro”. Para os protagonistas de ambas as parábolas, a coisa devia ser difícil e árdua. Mas quer o agricultor “com a venda de tudo o que possuía para comprar aquele campo”, quer o comerciante, vendendo todas as pérolas e pedras preciosas que tinha… conseguiram conquistar “aquele tesouro” ou “aquela pérola”, que resolvia todo o negócio da sua felicidade. (Mt 13 / 3ª L.).

Claro que, com estas parábolas, Jesus quer dizer-nos muito mais, uma vez que não se trata das “pérolas de nácar” nem de “tesouros materiais”, mas de valores do espírito, ou tesouros transcendentes, esses que (como diria o mesmo Jesus noutra altura) “nem a ferrugem consegue destruir nem os ladrões podem roubar” (Mt 6).

 E é a Palavra – nas outras leituras de hoje – a inspirar-nos e sugerir-nos alguns desses tesouros e valores… Salomão, enquanto “governante” de um povo numeroso, não pede a Deus, na sua oração, nem bens materiais (“riquezas”) nem “longa vida”… mas um coração inteligente. Eis a oração do rei: “Dai, Senhor, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal”… E eis a resposta de Deus: “Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve… nem haverá…” (1 Rs 3 / 1ª L.).

Mas como já devemos saber, “a vocação” de todo o homem nesta vida, consiste em tentar reproduzir em si mesmo a «imagem de Cristo, o Filho de Deus», por ser o único homem verdadeiro sem deixar de ser verdadeiro Deus. Isto é, sermos “homens perfeitos”. É Paulo quem no-lo diz, na carta aos romanos: “Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos”… Se assim for, “os que foram chamados… também serão justificados ou santificados, e os que foram justificados também serão glorificados”. (Rm 8 / 2ª L.).

Por seu lado, a terceira parábola do Evangelho dá-nos uma outra perspetiva destes valores do Reino que estamos a tentar descobrir e recuperar. A questão fundamental está em que nós – pela nossa “soberana liberdade” – podemos decidir entre sermos escolhidos, para a Vida, ou sermos deitados fora, como acontece com uma parte daqueles peixes, de todo o tipo, que são apanhados nas “redes de arrastão”, depois de serem selecionados cuidadosamente…

A chave estará, portanto, antes de mais nada, em saber escutar e “entender” a Palavra de Deus. É isto que Jesus nos quer dizer, na conclusão dessas parábolas, quando interpela aos discípulos: “«Entendestes tudo isto?». Eles responderam-Lhe: «Entendemos»”. Então, Jesus conclui: “Por isso, toda a pessoa instruída sobre o Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas” (Mt 13 / 3ª L.). Homem “sábio”!

 

Quanto amo, meu Deus, a Tua lei!

Senhor, eu quero dizer agora e sempre:

«Cumprir as Tuas palavras

será sempre a minha herança».

Vale mais, para mim, a lei da Tua boca,

que nos fala do verdadeiro tesouro escondido,

do que milhões de “velhos tesouros”

de ouro e prata ou de pérolas preciosas…

Porque a manifestação das Tuas palavras

ilumina e dá inteligência aos simples

e aos que se esforçam sinceramente

por recuperar o verdadeiro tesouro…

Eu quero amar a Tua lei, só de Amor,

«mais do que o ouro, o ouro mais fino».

As palavras da Tua boca fazem as minhas delícias,

por isso quero amar a Tua Verdade

e detestar todo o caminho da mentira…

«Consola-me, Senhor, pela Tua Bondade,

porque é isso que prometes aos Teus servos».

                  [ do Salmo Responsorial / 118 (119) ]