– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

( Ciclo B – Domingo.1 – PÁSCOA da RESSURREIÇÃO )

 

“Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús… Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem (…) Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O (…) Partiram logo de regresso a Jerusalém”… [Lc 24,13…33 – (3ªL) – Evangelho facultativo para a Eucaristia, na tarde].

 

Os relatos evangélicos acerca das manifestações de Jesus após a Sua Ressurreição (“Aparições”), pertencem já a uma outra “dimensão”. Nós vivemos na dimensão das coordenadas ‘espácio-temporais’; apenas conhecemos essa realidade e a ela estamos habituados. Porém, não devemos esquecer que existe a “dimensão transcendente”, que ultrapassa e supera a anterior. Existem, portanto, dois “mundos” ou duas “vidas”… Acontece que, nestas narrativas relativas a Jesus Ressuscitado, não é possível evitar a mistura desses “dois mundos”. Daí que resultem normais  algumas aparentes ‘contradições’, ‘paradoxos’, ‘impossíveis’, ‘absurdos’… além de serem factos misteriosos inexplicáveis.

 

A – Expressões como “os seus olhos estavam impedidos de o reconhecerem” ou “nesse momento abriram-se-lhes os olhos e O reconheceram’”, estão a flutuar entre ‘o natural’ e ‘o sobrenatural’…

B – Querem significar que “os olhos deles” – corporais – não podem ver algo que é imaterial, isto é, espiritual ou de dimensão ‘transcendente’; o que só seria percebido por outra classe de “sentidos”…

A – Então, isso quer dizer que, na verdade, o que sucedeu foi, da parte do Ressuscitado, a realização de um milagre consistente em fazer ‘visível’ – embora noutra ‘figura humana’ – o que era invisível…

B – E estando já à mesa, outro milagre aconteceu (“abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O”), mas tratava-se de outros ‘olhos’, os “olhos do espírito”. Aquela figura humana, aparente, foi assim “transfigurada” na forma de Jesus Glorioso; e deixou de ser percebida com os olhos corporais…

A – Tudo isto quer significar algo fundamental: para Jesus Ressuscitado e Glorioso (porque Deus-homem) tudo é possível! Sim – sempre com grande amor divino-humano – realizará qualquer tipo de ‘transfiguração’, quando necessário, desde que ela seja, evidentemente, sempre para o bem e nunca para o mal!

B – Porém, seria um contrassenso alguém pensar que estas realidades, próprias da ‘fronteira da transcendência’, estão ao nosso dispor, quando delas precisarmos para resolver os nossos problemas. Não. Pois nesses casos, a iniciativa parte de Deus – em Jesus, Maria, os Santos – (por ex. Aparições de Fátima).

A – E ainda, mais outra aparente incoerência (entre as que se poderiam considerar neste texto): Como é que se pode explicar o facto – ‘conveniente’ – de já não caminhar “porque a noite está avançada”, perante o outro facto de, logo a seguir, “fazer todo o caminho de regresso a Jerusalém” sem qualquer problema?!…

B – Este foi, aliás, um exemplo de como a vida do espírito invade, com todo o à-vontade, o campo da razão e ultrapassa o ‘politicamente correto’(!). Ou, por outras, o poder da graça ‘supera’ todo o outro poder!

 

A-BOlha, Jesus – Deus e homem – : quando Te escutamos, no diálogo íntimo conTigo,

ou ao pretendermos ler a Tua Palavra apenas e só com os nossos sentidos corporais,

“impedidos de Te reconhecerem”… faz com que “sintamos arder o nosso coração”

E ainda que ‘estes olhos’ Te não vejam “nem Te reconheçam” como Ressuscitado,

que – com ‘outros olhos’ – Te descubramos na Comunhão do Teu Corpo em Comunidade!

 

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