– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 1 da Quaresma)

 

NÃO HÁ INCOERÊNCIA ESCUSÁVEL(!)

É evidente que – nisto da inocência e culpabilidade – poderá e deverá ser “desculpado” quem falhou, errou, por ignorância (principalmente quando esta for “ignorância invencível”).

E portanto, apenas poderemos falar em “incoerência” – ou em “coerência” – se, e quando, agirmos com total conhecimento e pleno consentimento. A Palavra de hoje pode, em primeiro lugar, sacudir-nos e alertar-nos, e depois, iluminar o nosso entendimento e fortalecer a nossa vontade, para procedermos conforme justiça e verdade.

Sempre que nos confrontamos com a “tentação”, aparece-nos um dilema que, em definitivo, é este: ou com Deus ou contra Ele! E «o Maligno», ao atacar (ao “pôr-nos na tentação”), quase nuca o faz em campo aberto, mas fá-lo “em jeito disfarçado”, embora a sua proposta é nítida: «Comigo e contra Deus!». Vemo-lo, nomeadamente, na segunda das três tentações do Evangelho: “O Diabo levou Jesus a um lugar alto e mostrou-Lhe, num instante, todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu»…” (Lc 4 / 3ª L.). Quer isto dizer que, em cada “tentação”, a escolha e decisão vai ser nossa, para optarmos livremente! Mas é aqui que entra a nossa coerência, ou a nossa incoerência!

Pensando bem, afinal, para sermos coerentes, teremos de nos decidir por «Aquele» que nos demonstrou mais Amor e Fidelidade, ou, em palavras mais simples, por Aquele “que mais nos deu”… (até dar a Vida por nós!).

E já desde as épocas mais antigas, o Povo de Israel reconhecia que devia agradecer a Javé-Deus pelos «eventos de salvação» de que foi objeto, e Lhe oferecia, com gratidão, os frutos da terra. “O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido… Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel… Então colocarás diante do Senhor, teu Deus as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor, teu Deus»” (Dt 26 / 1ª L.). Por sua vez, o Evangelho de hoje, no meio das tentações, lembra também outros benefícios de Deus: “«…Está escrito [na Palavra das Escrituras / Salmo 90(91),11…]: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’»…” (Lc 4 / 3ª L.). E ainda mais: É-nos lembrado, na Carta aos Romanos, que toda a Palavra de Deus está ao nosso dispor e para a nossa salvação se a vivermos (citando Dt 30): “Irmãos: Que diz a Escritura? «A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração»”. E continua: “Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo…” (Rm 10 / 2ª L.).

E esta Palavra, que está tão perto de nós – e até no nosso íntimo se nós quisermos! – é igualmente a melhor arma para vencer toda a tentação. Basta seguirmos, nisto, o exemplo do nosso Mestre e Salvador Jesus, Modelo, para todos, de interpretação da Escritura (Lc 4). Assim:

Se a tentação for para os “prazeres dos sentidos”“Está escrito: «Nem só de pão vive o homem»”…  Pois só nas ‘satisfações do espírito’ é que acharemos o verdadeiro Amor e Felicidade!

Quando a tentação vai para a “adoração” do poder, das riquezas, da glória… “Está escrito: «Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele prestarás culto»”.  Já que só n’Ele está a “verdadeira Riqueza”, a autêntica Liberdade, a verdadeira Felicidade!

Se as tentações forem no sentido de “utilizar Deus” ou “forçar o seu Poder” para a nossa fama e proveito (o que se chama «tentar a Deus»)… então: “Também está escrito: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus»”. Desde logo, ninguém pense em «manipular Deus»!

Aliás, também não vale a pena pretender “ignorar a existência do Tentador”, porque a sua presença é tão real, hoje, como no tempo de Jesus, e o será sempre! Nunca devemos duvidar da existência de Satanás (o Diabo). Ainda há pouco tempo, escutava a um especialista dizer: ‘A primeira – e mais importante – vitória que o Diabo tenta conseguir sobre nós, humanos, é fazer-nos crer que ele não existe’…

E uma outra questão, para maior esclarecimento e para ninguém ficar temeroso ou amedrontado perante o grande poder do(s) Demónio(s): eu costumava dizer aos alunos e jovens, ao tratar este tema: Olhem que o Maligno é mais forte do que nós, quando nós não somos ‘amigos de Deus’!… Em consequência, contemos sempre com a ‘amizade de Deus’, e então, o Diabo, que continuará a atacar na mesma – ou mais! – nunca conseguirá vencer, nunca!

Em conclusão, o que importa é – tal e qual como Cristo Jesus – enfrentar “a tentação” e vencer o Maligno, o “príncipe do Mal”!  Outra atitude não seria coerente!

Isto é, quem não enfrentar e vencer assim «as tentações», além do mais, será «incoerente» como acabamos de ver… E toda a INCOERÊNCIA será sempre INESCUSÁVEL!

Eu sei que estás sempre comigo, Senhor,

e ainda mais na minha tribulação e angústia…

Sabemos bem que, quando Te invocamos com fé,

é assim que Te fazes presente na nossa vida…

Poderá aparecer a tentação para o Mal

sob a aparência de leões e dragões,

ou como o veneno de serpentes e víboras…

Mas nós confiamos em Ti, nosso Pai,

pois Tu darás ordens aos Teus Anjos

para que nos guardem em todos os caminhos;

e na palma das mãos nos levarão

para não tropeçarmos em alguma pedra…

Assim será fácil, Senhor nosso Deus,

vencermos toda e qualquer tentação:

optando, sempre e em tudo, por Ti, Pai,

– na mais sincera e total coerência! –.

E todos hão de ouvir o que Tu afirmas

e realizas, com toda a verdade e fidelidade:

«Porque acreditou em Mim hei de salvá-lo;

hei de defendê-lo porque conhece o Meu nome».

[ do Salmo Responsorial / 90 (91) ]

      

// PARA outras REFLEXÕES AFINS: http://palavradeamorpalavra.sallep.net