– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 14 do Tempo Comum)

 

“Assim fala o Senhor: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante. Os seus meninos de peito serão levados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados”. (Is 66,12-13 / 1ª L.).

                                                                                         

Como introdução contextual, nada melhor, desta vez, que transcrever os cinco versículos anteriores ao nosso texto[“Antes das contrações do parto, ela deu à luz, antes de sentir dores, teve um filho. Quem jamais tal coisa ouviu? Quem jamais viu coisa semelhante? Porventura gera-se um povo num só dia? Ou uma nação nasce de uma só vez? Mas Sião, mal sentiu as contrações, deu à luz os seus filhos. Sou Eu quem abre a matriz e não iria deixar que ela dê à luz? – diz o Senhor. Se sou Eu quem faz nascer, iria impedi-la de dar à luz? – diz o teu Deus. Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante” (vs.7-11)]. Quando menos, palavras ‘chocantes’, impressionantes e – desde logo – “inspiradas”, evidentemente! Pois é assim que nasceu ‘um Povo’. Em definitivo, a Humanidade, o autêntico “Povo de Deus”!

 

A – É interessante constatar, na Bíblia, esta realidade: Quando Deus (que já no AT é apresentado – ainda que ‘timidamente’ – como ‘Pai’) pretende explicar, a Sua ‘natureza’ e atitude na relação com os humanos, fá-lo com o símil parabólico da “mãe” (e não precisamente do pai). Porquê?…

B – Não esqueçamos que, se Deus “criou-nos homem e mulher, à Sua imagem e semelhança”, é porque Ele não pode ser só masculino ou só feminino. Terá de ser ambas coisas em simultâneo(!).

A – Todavia, na realidade da evolução histórica da humanidade – salvo raras exceções de tímido ‘matriarcado’ – deu-se predominância e supremacia ao ‘masculino’… Daí o exagerado ‘machismo’!

B – Acontece – pensamos nós – que para neutralizar e equilibrar este fenómeno, Deus prefere – e gosta – ser comparado com a mãe na relação com o seu filho, desde bebé (e ainda no seio materno).

A – Neste, como noutros textos, principalmente dos profetas (onde ‘Deus é que fala’) são de veras abundantes (além de: “sou Eu quem abre a matriz”“sou Eu quem faz nascer” / Is 66) expressões como: “vós a quem Eu trouxe ao colo desde o nascimento” (Is 46,3). [Cf.: Jr 31,20; Os 11,3-4; etc.].

B – Ou, ainda mais claro: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria” (Is 49,15).

A – Mas fica bem patente, no nosso texto (até porque se diz que é palavra de Deus): “Assim fala o Senhor: «Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados»”.

B – Não restam dúvidas acerca das preferências do Senhor pelo “ser de mãe” para demonstrar aos humanos que Ele próprio é, antes de mais, mãe – origem materna – para todos e cada um de nós.

A – Então, quando Jesus se encarnou – além de o fazer no seio de uma mãe, Maria – estava nas melhores condições para revelar-nos que Deus é Abbá, ou seja, Mãe-Pai!

 

A-BContigo, Jesus, e porque Tu no-lo ensinaste, oramos, chamando a Deus “Abbá”.

Revela-nos, então, no mais íntimo de nós, o sentido deste admirável mistério.

Que a nossa atitude perante o Pai-Deus seja a de “um bebé ao colo da mãe”,

que o primeiro que aprende a ‘balbuciar’, para se dirigir a ela, é “abbá”.

Que, neste sentido e deste modo, não deixemos de ser crianças toda a nossa vida,

pois, como Tu nos disseste, “só se formos como elas, entraremos no Reino”!  

 

 

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