– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 16 do Tempo Comum) 

 

Abraão estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Ergueu os olhos e viu três homens de pé diante dele. Logo que os viu, deixou a entrada da tenda e correu ao seu encontro; prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos, não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo…»”. (Gn 18,1-3 / 1ª L.).

                                                                                            

É curioso, interessante, salientar (dado que para muitos de nós pode passar despercebido) que este ‘personagem’ – primeiro em importância no AT – teve dois “nomes”, sucessivamente. Ele chamava-se inicialmente ‘Abrão’ ou Abram (de ‘Ibrim’) cujo significado é “pai ilustre”. (De ‘ibrim’ derivaria ‘hebreus’, para os descendentes de Abrão). Este nome foi-lhe dado desde o seu início até à “mudança” (desde c.11 a c.16, do Gn). Mas, a partir da «solene promessa» feita por Javé Deus (Gn 17,5), passaria a chamar-se “Abraão”, definitivamente. Na realidade, o que aconteceu foi que ‘Deus introduziu’ o vocábulo ‘ham’ (que significa ‘muitos’, ‘multidão’) ficando então ‘Abr-ham-ão’, ou seja, Abr-a-ão – «Abraão» – (‘Abrahim’, em hebraico) passando a ser esse o verdadeiro e irrevogável nome para «o Pai de multidões», aliás, o “Pai de todos os crentes”. Isso significa que, nesta nossa reflexão, devemos escrever já (c.18) Abraão.

 

A – Nós iremos refletir, porém, num outro ‘jogo de palavras’, ou de “nomes”! Também curioso, sim, mas sobretudo interessante, que se utiliza – atribuído a Deus – no “singular” e no “plural”.

B – E ambos apelativos ‘em simultâneo’! Que mistério é este?… Claro que nós – privilegiados por vivermos após a vinda de Jesus de Nazaré – já sabemos que se refere ao Mistério Trinitário…

A – Aliás, não é a primeira vez, nem a única, que esta questão aparece no AT. A primeira vez, aparece já no relato da Criação: “‘Façamos’ o homem à ‘nossa’ imagem e semelhança” (Gn 1,26).

B – A utilização do plural (“façamos”), entre outras interpretações dos biblistas, está a de ser uma primeira insinuação da ‘Trindade’ de Deus (é opinião dalguns dos Padres da Igreja).

A – Surge também nos profetas. Por ex., na visão-vocação do profeta Isaías (Is 6,3.8). Escuta-se, logo no início, o canto dos ‘serafins’, que repetem (três vezes) “santo, santo, santo”. E já na última parte, fala Deus (em singular e em plural): “«Quem ‘enviarei’? Quem será o ‘nosso’ mensageiro?»”.

B – Porém, quem lê com atenção e interesse este c. 18 do Gênesis, poderá reconhecer este mistério trinitário sob aspetos que já não são apenas palavras, mas ‘atitudes de pessoas’. Abraão “ergueu os olhos e viu três homens de pé diante dele”. Será uma ‘alusão’ às três Pessoas Divinas?

A – De facto, no diálogo posterior – e sem ‘prévias apresentações’ – ora fala ‘alguém’ em singular ora intervém ‘esse alguém’ em plural. Abraão responde (aos três) em singular, “Meu Senhor” (!?). Mais adiante, porém, perguntam (plural): “eles disseram-lhe: Onde está a tua mulher Sara?”.

B – É normal que na iconografia cristã posterior (e não só em ‘ícones’ orientais) sejam bastantes as representações trinitárias na figura de três personagens, como forma de interpretar a SS. Trindade.

 

A-B: Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo, vivemos e existimos.

Deus Pai-Mãe, sentimo-nos o Teu Povo, desde as Tuas primeiras revelações trinitárias

Continuarás a ser um mistério insondável, em tanto vivamos esta existência mortal;

mas o nosso humilde louvor é prova do nosso profundo amor, que não cessará!

Glória ao Pai, glória ao Filho, glória ao Espírito Santo – ó excelsa Trindade! –

como era no princípio, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Ámen!   

  

 

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