———-  [ 51.Ccc- Domingo.28-Comum ]

Æ “…O sírio Naamã (uma vez curado da lepra)… foi ter novamente com o profeta Eliseu, junto com toda a sua comitiva. Ao chegar diante do homem de Deus, exclamou: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel»… (E concluiu) «O teu servo nunca mais há de oferecer holocausto ou sacrifício a quaisquer outros deuses, mas apenas e só ao Senhor, Deus de Israel»”. (2 Rs 5,14-15.17/1ªL)  

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Foram realizados os milagres,

não apenas no tempo de Jesus,

– Ele mesmo fez muitos e variados,

é “o caso daqueles dez leprosos” –.(Lc 17 / 3ªL).

Mas, antes e depois deste Jesus,

já houve e haverá sempre milagres,

embora, claro, sempre no Seu Nome:

«Filho de Deus, Messias Salvador».

Mesmo aqueles, da «Antiga lei mosaica»,

– tal o do Eliseu, “homem de Deus” –.(2Rs 5-1ªL).

Perante este ‘mistério dos milagres’,

alguém pode pensar e perguntar:

– “Como é que não se fazem mais milagres,

os que forem precisos p’ra acabar

com toda a ‘coisa má’ e ‘deficiência’?

Porque é que alguns ‘sim’, e outros muitos ‘não’?”…

– Talvez isso podia ser um modo

de transformar o mundo em ‘paraíso’(?).

Porém, aqueste mundo foi Criado

p’ra não ser um ‘éden’ precisamente

– sabemo-lo mui bem os que ‘pensamos’,

e sabemos o ‘porquê’, do mesmo modo –!…

Então, só vai haver tantos milagres

quantos forem precisos, nada mais;

aqueles que “fará” uma forte,

dentro do ‘agrado e vontade divinos’:

          “Foi hoje a tua fé que te salvou”

– diz Jesus ao leproso agradecido.(Lc 17/3ªL).

 

« Virgem poderosa, Virgem fiel, Saúde dos enfermos,…      [Da: «LADAINHA» de Nossa Senhora…]

Sabemos, Mãe, que a fé é necessária para ‘obter milagres’ (“que se faça como tu acreditas”). Por isso, é preciso ‘ter fé, confiar’ sempre na Palavra de Deus, como Tu fizeste, ó “Virgem fiel”, desde aquele teu “faça-se em Mim segundo a tua Palavra”… Mas agora estamos a ver, Mãe, que não seria bom – nem possível segundo o Projeto de Deus – realizar todos os milagres que nós achemos necessários para resolver os problemas todos e/ou as falhas deste mundo, “criado” por Deus para ser “modificado” pela liberdade humana (!?)… Porém, nós queremos também confiar sempre (“ter fé”) na omnipotência do Pai, como confiamos no teu poder maternal, ó “Virgem poderosa”. Porque sabemos que, neste “mundo imperfeito”(!), Tu serás sempre a “Saúde dos enfermos” – do corpo e sobretudo do espírito – !

                   

              –—- «A Outra Poesia» —–    

NOTAS prévias- 1ª. Antes de mais, hei de pedir desculpa esta vez, pela extensão, fora do normal, desta secção poética (apesar de ter prescindido de alguns ‘trechos’ (…) com a indulgência e compreensão do autor – falecido há já muitos anos – e a quem devo pedir também perdão!). Mas, seja tudo em sua honra!

2ª. Achei, mesmo assim, que valia a pena inseri-lo, não só por estar relacionado com o tema da ‘Reflexão’ deste domingo (‘o mistério dos milagres’), mas por ter acontecido, nestes dias, a Festa de São Francisco de Asis (4 de outubro) precisamente o «Dia Mundial dos Animais» (desde o ano 1929).

— “Os motivos do lobo” —

[versão poética (não completa)

da ‘lenda do lobo’ de S. Francisco de Asis]

O varão que tem coração de lis,

‘voz de querubim’, língua celestial,

o mínimo e doce Francisco de Asis,

vai ter que lidar com um fero, rude e torvo animal,

besta temerosa, de sangue e de roubo,

os dentes de fúria, os olhos de mal:

o ‘lobo de Gúbbio’, o terrível lobo,

que assolou, raivoso, tudo em redor;

cruel, tem desfeito todos os rebanhos…;

(…)

Francisco saiu,

e o lobo buscou até a sua toca.

Perto do covil encontrou a fera,

enorme, que ao vê-lo se lançou feroz.

Então o Francisco, com suave voz,

e alçando a mão,

ao lobo furioso disse: – “Paz, irmão

lobo!”. O animal

fitou naquele homem de tosco ‘saial’;

deixou o ar arisco,

fechou suas fauces demais agressivas,

e disse: – “Está bom, irmão Francisco!”

– “Como! – tornou-lhe o santo – É lei que tu vivas

de horror e de morte?

O sangue que vertes,

focinho satânico…; o pesar e espanto

que espalhas…; o pranto

desses camponeses, o grito, a dor

de tanta criatura do Nosso Senhor.

(…)

Vais ter

desde hoje cebo p’ra comer.

Deixarás em paz

rebanhos e gente que há neste país.

Que Deus transfigure teu ser montaraz!”.

– “ ‘Stá bom, meu irmão Francisco de Asis!”.

– “Perante o Senhor – que ata e desata –

em fé de promessa tende-me a pata”.

O lobo estendeu-a, de graça, ao Irmão

de Asis, quem também lhe of’receu a mão…

Foram para a aldeia. A gente os olhava,

e o que entreviam não acreditavam.

Atrás daquel’ frade ia o lobo fero;

inclinada a testa, calmo o seguia

como um cão de casa, ou como um cordeiro.

Francisco chamou o povo e – na praça –

ele lá pregou.

E disse: – “Eis aqui uma amável ‘caça’:

o ‘irmão lobo’ vai ficar comigo;

jurou-me não ser mais vosso inimigo,

e não repetir ataques sangrentos.

Vocês hão de dar os seus alimentos

a esta pobre besta de Deus”. – “Assim seja!”,

respondeu a gente toda da aldeia.

Logo, em sinal

de contentamento,

mexeu testa e cauda o bom animal,

e entrou com Francisco de Asis no convento.

(…)

Um dia, Francisco teve de ausentar-se…

E o lobo doce, manso e bom, o lobo probo

desapareceu, tornou às montanhas,

e recomeçaram uivados e sanhas.

(…)

Ao voltar à aldeia o divino santo,

todos o buscavam com queixas e pranto,

e com mil querelas deram testemunho

do que eles sofriam e perdiam tanto

por aquele infame lobo do diabo.

Francisco de Asis ficou de ar severo…

Foi para a montanha

procurar o falso lobo carniceiro.

Achou finalmente a tamanha

fera vinda de regresso.

– “Em nome do Pai do sacro universo,

intimo-te (disse), ó lobo perverso!:

Diz-me então, porque voltaste p’ra o mal?

Responde-me! Escuto!”.

Como em luta escura, falou o animal,

de boca espumosa e um olhar fatal:

– “Irmão Francisco, não te abeires muito!…

Eu estava calmo no convento ao quente;

à aldeia eu ia,

e se algo me davam ficava contente

e manso comia.

Comecei a ver que, em todas as casas,

estavam a Inveja, a Raiva, a Ira,

e em todos os rostos ardiam as brasas

de ódio, luxúria, infâmia e mentira;

irmãos contra irmãos faziam a guerra,

perdiam os fracos, ganhavam os maus;

macho e fêmea eram qual cão e cadela…

até que já todos me deram paulada.

(…)

E me escorraçaram e lançaram fora.

O seu riso foi como água fervente,

e na minha entranha reviveu a fera

e senti-me ‘lobo mau’ de repente…

E recomecei a lutar aqui,

a me defender e a me alimentar:

como o urso faz, como o javali,

que, para viver, têm que matar…

Deixa-me no monte, deixa-me no risco,

quero potenciar minha liberdade.

Vai ao teu convento, irmão Francisco.

Segue o teu caminho, tua santidade!”…

O santo de Asis teve de calar…

Olhou para o lobo com profundo olhar,

e partiu com lágrimas – as dos olhos seus –.

O vento do bosque levou sua reza,

que era: «Pai nosso, que estás nos Céus…».

(Poema de Rubén Dario. Adaptado)

 

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