– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo C – Domingo 29 do Tempo Comum)  

  

“…Até que um dia, aquele juiz disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Reparai no que diz este juiz iníquo! E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa”. (Lc 18,4-8 / 3ª L.).

                                                                                            

É justo e conveniente – ainda mais em volta destes dias em que é celebrada a Festividade de S. Lucas (18-outubro) – reconhecer e louvar, mais uma vez, uma das caraterísticas deste autor do “3º Evangelho” e dos “Atos dos Apóstolos”, obras magistrais, já no seu tempo: Há que destacar e enaltecer – além do melhor estilo ‘historiográfico’ próprio do seu tempo, que ele cuida com primor – o respeito e sensibilidade que exibe ao redigir as suas ‘narrações’, consciente de estar a escrever uma «história sagrada» – ou história de Salvação – centrada na pessoa de Jesus Cristo… E lembremos, referindo-nos já ao nosso “texto”, que, neste capítulo 18, chegamos à reta final da tal IV parte do seu Evangelho, concernente à última «subida de Jesus a Jerusalém», nessa perspetiva de “evento Pascal”, que iria consumar-se, muito em breve, na Capital. Daí a influência do “sentido escatológico” ( = acontecimentos “finais”) que observamos nesse ambiente ‘jurídico’, ou judicial, do texto de hoje.

 

A – Antes de mais, o mesmo Lucas, naqueloutra parábola do “amigo que pede pães”, incide num tema semelhante, ao dizer Jesus: “Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à sua insistência, e dar-lhe-á tudo quanto precisa” (Lc 11).

B – Também nessa altura, Jesus acrescenta mais logo: …“Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!”.

A – O que Jesus faz é contrapor a Bondade e Justiça do Pai-Deus à ‘maldade’ dos pais humanos (“que sois maus”) e à ‘iniquidade’ dalguns juízes humanos (“aquele juiz iníquo”).

B – Em todo o caso, fica claramente reafirmado por Jesus que as injustiças, abusos e atropelos deste mundo serão julgados – certamente! – pela infalível Justiça, Sabedoria e Bondade (de Deus), muito superior à justiça, sabedoria e bondade dos homens…

A – E parece que ‘isto’ acontecerá “mais depressa” do que pensamos, uma vez finda esta breve vida mortal – se não for antes! – já que para Deus (como para «nós n’Ele») ‘o tempo’ é já eternidade! “Mil anos, diante de Ti, são como o dia de ontem, que passou…”? [cf. Sl 89(90),4].

B – Entenda-se, porém, que este ‘Juízo final’ (em particular “o que” acontece ao findar a nossa vida mortal) não vai ser uma espécie de solene julgamento de grande cerimonial, à maneira humana. Pois não esqueçamos que “nem Cristo nem o Pai vão julgar” a alguém. Sabiam? (cf. Jo 5,22 e 12,48).

A – Pois é: Quem nos vai julgar, a todos e cada um, será a Palavra, a mesma Verdade. É que, diante dela, veremos – patente, límpida e transparente – a nossa ‘situação vital’ de verdade e/ou mentira!…

 

A-B: A nós, Jesus, acontece-nos o contrário que ao Pai (‘mil anos são como um dia’).

Sim, quando estamos à espera de que se faça justiça sobre o mal e os malvados,

então ‘um dia nos parece mil anos’, porque não sabemos ter a real paciência

e a autêntica esperança que assume o tempo da paciente misericórdia” de Deus.

Alcança-nos, Jesus, “o Espírito Santo que o Pai dá a quem Lho pede” (Lc 11,13),

para sabermos imitar a Paciência do Pai que sabe Esperar e dar tempo ao Perdão

 

  

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