11-B.Domingo.3.Quaresma
ATÉ À «MILÉSIMA GERAÇÃO»…
A Divindade – ou seja, Deus nosso Pai – tem Todos os Atributos próprios do que nós, humanos, entendemos como Deidade ou “Ser Divino”. Isto é, qualquer ser inteligente compreende que DEUS será, necessariamente: Omnipotente, Omnisciente, Omnipresente…; Bondoso, Misericordioso, Piedoso, Paciente…; Admirável, Maravilhoso, Sábio, Prudente…; e também, o centro: da Beleza, da Harmonia, do Encanto, da Sedução…; Etc., etc., etc. Estamos todos de acordo em que tudo aquilo que nos parece o Melhor e o Superior, terá de ser Qualidade (Atributo) de Deus.
Há, no entanto, certos traços ou caraterísticas que já não parece normal “atribuí-los” a Deus. Quando dizemos, por exemplo, “Deus pequeno” – lembram-se? – ou: Deus frágil, Deus inferior, Deus humilde, Deus servidor… Pois, mesmo que o não pareça, são também Atributos do nosso Deus, o Deus de Jesus.
Sendo isto assim, já não ficamos “admirados” – ainda que nos possa parecer mais estranho – que o mesmo Deus, nosso Deus, o Deus de Jesus, nos surpreenda também, de vez em quando, com atributos como: Deus Desconcertante, Deus Inesperado, Deus Perturbador, Deus Imprevisível… Deus…
Vejamos. Diz a Palavra de hoje: “Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos…” (Ex 20 / 1ª L.). Este texto bíblico, de um livro tão antigo como o Êxodo, é, quando menos, um texto estranho, e, se pensamos melhor, um texto “confuso”… Desde logo, temos de concluir que se trata da Palavra de um Deus desconcertante! O que é que significa – se não for assim – “castigar as ofensas dos pais nos filhos” e, ainda, “punir até à quarta geração… enquanto perdoa até à milésima geração”?
Sabemos, em primeiro lugar, que a linguagem antropológica daquela época atribuía a Deus os estados de ânimo dos humanos (“Deus cioso… que castiga…” ou que «os filhos pagam as favas dos pais»!). Sabemos igualmente, que, a imagem do Pai Deus transmitida por Jesus, o Filho, é a de um Deus bondoso, que “não pode” castigar; que só sabe perdoar sempre… Mesmo assim, ainda fica sem explicação aquilo da “quarta… e da milésima geração”, que, pensando bem, continua a ser confusa e contraditória… porque, por uma lógica estatística elementar, quem perdoa até a milésima geração, muito dificilmente – para não dizer impossível – vai ser capaz de castigar, já que “as mil gerações de perdão” vão se sobrepor umas às outras… de tal modo que “as gerações de castigo” nunca vão poder aparecer… Em fim, todo este raciocínio de simples lógica, foi apenas para cairmos na conta do que significa «o nosso Deus ser desconcertante». E para tirarmos agora esta conclusão: quando Deus, nosso Pai, nos desconcerta, ou nos perturba, é porque tenta transmitir-nos, com essa Sua atitude, uma grande verdade: neste caso, a de que a Sua infinita misericórdia/perdão é capaz de desfazer e diluir a marca de «deus castigador, deus terrível», por nós atribuída.
Ou seja, DEUS PERDOA sempre! Apenas com uma mínima condição: que queiramos ser perdoados (!?). Deus é mesmo assim!… Mas esta realidade, de um Deus Desconcertante – para o nosso bem e felicidade! – aparece ainda patente noutros Textos da Palavra de hoje. Por exemplo, nas palavras de Paulo aos cristãos de Corinto: “… Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. (1 Cor 1 / 2ª L.). Ou então, na própria palavra e atitude de Jesus – “manso e humilde” – no Evangelho: “Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio»”… E quando lhe perguntam “«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»”, Ele responde com palavras enigmáticas e imprevisíveis: “«Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo, e tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo…” (Jo 2 / 3ª L.). Não há dúvida de que Jesus, desde o seu Ser Divino, está a proceder, igualmente, como Deus desconcertante, provocador, enigmático… E ainda bem!
É verdade, Senhor nosso Pai,
que o Teu Filho Jesus, sendo Deus,
tem palavras de vida eterna…
E as Tuas atitudes, de Deus Transcendente,
tal como as do Teu Filho, homem-Deus,
– enigmáticas, provocadoras, desconcertantes… –
não nos assustam, ó Deus Imprevisível,
porque a Tua “lei” é perfeita e santa,
e as Tuas “ordens” firmes e puras,
para reconfortar as nossas almas…
Os Teus projetos para nós são claros,
iluminam os olhos e alegram o coração;
e aquilo que chamam «temor do Senhor»
não é, da nossa parte, o temor servil que mata,
mas um amor forte que teme falhar…
Porque o Teu Amor por nós, ó Pai,
é mais precioso que o ouro mais fino,
e a Tua Amizade, que nos envolve,
é mais doce que o mel dos favos…
É certo, ó Deus, que o Teu imenso Amor,
às vezes nos “desconcerta” e nos abala…
mas provoca em nós uma amizade reflexa,
essa amizade fiel que transforma por dentro.
[ do Salmo Responsorial / 18 (19) ]
6 Março, 2015
ATÉ À «MILÉSIMA GERAÇÃO»…
Luis López A Palavra REFLETIDA 0 Comments
11-B.Domingo.3.Quaresma
ATÉ À «MILÉSIMA GERAÇÃO»…
A Divindade – ou seja, Deus nosso Pai – tem Todos os Atributos próprios do que nós, humanos, entendemos como Deidade ou “Ser Divino”. Isto é, qualquer ser inteligente compreende que DEUS será, necessariamente: Omnipotente, Omnisciente, Omnipresente…; Bondoso, Misericordioso, Piedoso, Paciente…; Admirável, Maravilhoso, Sábio, Prudente…; e também, o centro: da Beleza, da Harmonia, do Encanto, da Sedução…; Etc., etc., etc. Estamos todos de acordo em que tudo aquilo que nos parece o Melhor e o Superior, terá de ser Qualidade (Atributo) de Deus.
Há, no entanto, certos traços ou caraterísticas que já não parece normal “atribuí-los” a Deus. Quando dizemos, por exemplo, “Deus pequeno” – lembram-se? – ou: Deus frágil, Deus inferior, Deus humilde, Deus servidor… Pois, mesmo que o não pareça, são também Atributos do nosso Deus, o Deus de Jesus.
Sendo isto assim, já não ficamos “admirados” – ainda que nos possa parecer mais estranho – que o mesmo Deus, nosso Deus, o Deus de Jesus, nos surpreenda também, de vez em quando, com atributos como: Deus Desconcertante, Deus Inesperado, Deus Perturbador, Deus Imprevisível… Deus…
Vejamos. Diz a Palavra de hoje: “Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos…” (Ex 20 / 1ª L.). Este texto bíblico, de um livro tão antigo como o Êxodo, é, quando menos, um texto estranho, e, se pensamos melhor, um texto “confuso”… Desde logo, temos de concluir que se trata da Palavra de um Deus desconcertante! O que é que significa – se não for assim – “castigar as ofensas dos pais nos filhos” e, ainda, “punir até à quarta geração… enquanto perdoa até à milésima geração”?
Sabemos, em primeiro lugar, que a linguagem antropológica daquela época atribuía a Deus os estados de ânimo dos humanos (“Deus cioso… que castiga…” ou que «os filhos pagam as favas dos pais»!). Sabemos igualmente, que, a imagem do Pai Deus transmitida por Jesus, o Filho, é a de um Deus bondoso, que “não pode” castigar; que só sabe perdoar sempre… Mesmo assim, ainda fica sem explicação aquilo da “quarta… e da milésima geração”, que, pensando bem, continua a ser confusa e contraditória… porque, por uma lógica estatística elementar, quem perdoa até a milésima geração, muito dificilmente – para não dizer impossível – vai ser capaz de castigar, já que “as mil gerações de perdão” vão se sobrepor umas às outras… de tal modo que “as gerações de castigo” nunca vão poder aparecer… Em fim, todo este raciocínio de simples lógica, foi apenas para cairmos na conta do que significa «o nosso Deus ser desconcertante». E para tirarmos agora esta conclusão: quando Deus, nosso Pai, nos desconcerta, ou nos perturba, é porque tenta transmitir-nos, com essa Sua atitude, uma grande verdade: neste caso, a de que a Sua infinita misericórdia/perdão é capaz de desfazer e diluir a marca de «deus castigador, deus terrível», por nós atribuída.
Ou seja, DEUS PERDOA sempre! Apenas com uma mínima condição: que queiramos ser perdoados (!?). Deus é mesmo assim!… Mas esta realidade, de um Deus Desconcertante – para o nosso bem e felicidade! – aparece ainda patente noutros Textos da Palavra de hoje. Por exemplo, nas palavras de Paulo aos cristãos de Corinto: “… Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”. (1 Cor 1 / 2ª L.). Ou então, na própria palavra e atitude de Jesus – “manso e humilde” – no Evangelho: “Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio»”… E quando lhe perguntam “«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»”, Ele responde com palavras enigmáticas e imprevisíveis: “«Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo, e tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo…” (Jo 2 / 3ª L.). Não há dúvida de que Jesus, desde o seu Ser Divino, está a proceder, igualmente, como Deus desconcertante, provocador, enigmático… E ainda bem!
É verdade, Senhor nosso Pai,
que o Teu Filho Jesus, sendo Deus,
tem palavras de vida eterna…
E as Tuas atitudes, de Deus Transcendente,
tal como as do Teu Filho, homem-Deus,
– enigmáticas, provocadoras, desconcertantes… –
não nos assustam, ó Deus Imprevisível,
porque a Tua “lei” é perfeita e santa,
e as Tuas “ordens” firmes e puras,
para reconfortar as nossas almas…
Os Teus projetos para nós são claros,
iluminam os olhos e alegram o coração;
e aquilo que chamam «temor do Senhor»
não é, da nossa parte, o temor servil que mata,
mas um amor forte que teme falhar…
Porque o Teu Amor por nós, ó Pai,
é mais precioso que o ouro mais fino,
e a Tua Amizade, que nos envolve,
é mais doce que o mel dos favos…
É certo, ó Deus, que o Teu imenso Amor,
às vezes nos “desconcerta” e nos abala…
mas provoca em nós uma amizade reflexa,
essa amizade fiel que transforma por dentro.
[ do Salmo Responsorial / 18 (19) ]