37b- A «biga dos dois cavalos»

 

 (Ciclo B – Domingo 14 do T. Comum…) 

«BIGA» – DOIS CAVALOS

“O que nasceu da carne é carne e o nascido do Espírito é espírito” (Jo 3, 6), diria Jesus, naquele diálogo noturno com Nicodemos…

O problema, Senhor, é que nós, começamos por nascer “da carne”, e, em simultâneo, ou então depois (?), é que podemos nascer “do Espírito” e iniciarmos o caminho da vida “espiritual”!… Sendo assim, estaremos sempre sujeitos, enquanto dura esta vida mortal, às tais duas forças – contrapostas – a da matéria e a do espírito.

E não vai ser fácil – sabemo-lo por experiência, própria e alheia – dominar a matéria carnal (aquele cavalo «preto» do mito de Platão) para conseguirmos “guiar” o carro/biga da nossa vida, pelas estradas que nos vai marcando o espírito (o outro: o cavalo «branco») na direção da Verdade, para a Vida transcendente!

Aliás, na nossa sociedade humana, vai haver sempre gente (que o “profeta” chama de “povo rebelde, revoltado contra Deus”), que não vão ajudar nada – antes pelo contrário – aos que apostam pelo Caminho da Fé. “«É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado que Eu te envio, para lhes dizeres: ‘Eis o que diz o Senhor’. Podem escutar-te ou não – porque são uma casa de rebeldes – mas saberão que há um profeta no meio deles»”. (Ez 2 / 1ª L.). Aquela força negativa, que puxa sempre para o mal, terá sempre os seus adeptos, cujo conjunto – “povo… ou casa de rebeldes” – tornam mais difícil e complicado, para outros, seguir o caminho da Verdade. Embora essas pessoas, apesar de tudo, continuam a ser sempre nossos irmãos, porque filhos de Deus («é a esses filhos de cabeça dura que Eu te envio»).

Muitos conterrâneos de Jesus, vizinhos até da sua aldeia de Nazaré, demonstraram pertencer a esta classe de “gente rebelde e filhos de dura cerviz”, que não eram capazes, ou não queriam, aceitar a verdade que Ele trazia e oferecia com tanta sinceridade e simplicidade. “Os numerosos ouvintes estavam admirados… pela sua sabedoria… e diziam: Não é Ele o carpinteiro, filho de Maria… E ficavam perplexos a seu respeito… Jesus estava admirado com a falta de fé daquela gente…”. Tanto assim, que Jesus teve de sair de lá, e partir para outras terras, pois “não podia ali fazer qualquer milagre” devido à ausência de fé neles. (Mc 6 / 3ª L.).   

Neste ambiente, portanto, de luta e conflitos, é onde a nossa vida terrena tem de discorrer, tentando, cada um de nós, guiar da melhor maneira, aquela nossa pessoal «biga – dois cavalos»…

Não há, porém, motivo para o desânimo quando surgem – na linguagem de São Paulo – “as afrontas, as adversidades, as perseguições e as angústias sofridas por amor de Cristo”, ou quando, na própria saúde corporal, e não só, pode aparecer “um espinho na carne – uma espécie de anjo de Satanás que esbofeteia – para travar o orgulho”… E pode acontecer que supliquemos na oração, uma e outra vez (como ele próprio fazia: “por três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim”) para que o Pai Deus nos livre dos nossos sofrimentos e perseguições… e, no entanto, escutemos no nosso íntimo a voz d’Ele a segredar: “«Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder»”…

Meus amigos, sendo assim as coisas, e o modo como “o assunto” se processa, também nós teremos de chegar, felizmente, à mesma conclusão de Paulo: “Por isso, de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo… Porque, quando sou fraco, então é que sou forte!”. (2 Cor 12 / 2ª L.).

                                                                                 

É questão de perseverança, Senhor,

para alcançarmos aquilo que precisamos,

em cada situação e conjuntura da nossa vida…

Assim, os nossos olhos estarão postos em Ti,

até que Te compadeças de nós, ó Pai nosso!

Não desistiremos de levantarmos os olhos para Ti

– que habitas no Céu e em todo o lado –

como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu senhor;

como os olhos da serva se fixam nas mãos da sua senhora…

Do mesmo modo os nossos olhos se voltam,

cheios de confiança, para Ti, ó Senhor nosso Deus,

sem desanimarmos até que tenhas piedade de nós!…

Poderemos estar, até, “saturados dos desprezos alheios”,

e a nossa alma “cheia do sarcasmo dos soberbos”,

mas nós continuaremos a suplicar sem desfalecer,

e a confiar na Tua infinita bondade e misericórdia,

porque conhecemos a Tua Palavra de Amor,

que nos diz ao coração: «Basta-te a minha graça!»

E assim, sentimo-nos fortes nas nossas fraquezas!

             [ do Salmo Responsorial / 122 (123) ]