51b- Sabedoria ou Mamon. Escolhe

 (Ciclo B – Domingo 28 do T. Comum…) 

«SABEDORIA» OU «MAMON». ESCOLHE!

Talvez, teoricamente, uma grande parte das pessoas aceita e compreende que a ligação excessiva aos bens materiais – ou o amor às riquezas – é contrário aos bens do espírito, ou aos valores transcendentes. Assim sendo, e estando todos (?) de acordo na teoria, o problema surge, como quase sempre na prática, na vivência desse princípio teórico, quer dizer, no «levar à vida» esta verdade, absoluta (!?), da supremacia do espírito sobre a matéria, e nunca vice-versa! Precisamente, as três Leituras da Palavra, na Eucaristia deste domingo, são coincidentes e abundantes neste sentido.

A começar pelo Evangelho, onde aparece a primeira “colisão” entre essas duas forças de sentidos opostos. Aquele homem jovem que se aproxima de Jesus, atraído pela Sua simpatia e porque quer apostar, sinceramente, no caminho que conduz à vida eterna, até parece mesmo ter posto todos os meios para o atingir, desde a sua meninice, pelo cumprimento dos “mandamentos fundamentais”. A sua pergunta é direta: “«Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?»”. E parece que, no seu caso, “a observância fiel desses mandamentos” é compatível com “um amor desmedido às riquezas”; o que, na verdade, não é assim, como se vê pela real exigência que Jesus lança àquele jovem como um desafio: “«Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me»” (Mc 10 / 3ª L.). Está claro, como diz o povo, que, em simultâneo, «não se pode ir na procissão e tocar os sinos». Há coisas que não se coadunam, que são irreconciliáveis entre si; até tal ponto que “seria mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha” do que pretender juntar aquelas “duas realidades”… É o próprio Jesus que, noutra passagem, nos diz: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Que é como dizer: Ou optas pelo Deus Pai, ou escolhes o «deus Mamon»! E o que cada um escolher, isso terá! (cf. Dt 30, 19).

O caminho da Sabedoria, como se está a ver, é bem outro; embora continue a ser difícil e não isento de trabalhos e fadigas, mas sempre na direção e sentido certo, que vai conduzindo, com segurança, ao fim pretendido. Pois – fiquem todos a saber – quem souber renunciar aos bens desta terra, “receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna»”. (Mc 10 / 3ª L.).

Portanto, com Jesus e o “Seu Caminho”, a exigência neste campo atinge o seu cume. Mas é preciso reconhecer que, a caminhada da Palavra, no Antigo Testamento, já vinha preparando este novo Caminho. Naquela etapa da história, já “os justos”, os que faziam tudo por tudo para serem “amigos de Deus”, preferiam a Sabedoria («personificação», como é sabido, da Amizade de Deus) a quaisquer outros bens: “nem cetros nem tronos… nem pedras preciosas… nem ouro… nem prata…” e até chega a dizer que “amou mais (aquela Sabedoria) do que a saúde e a beleza”… É que “O brilho dessa luz” – da Sabedoria ou “Amizade Divina” – é um fulgor que “jamais se extingue”…(Sb 7 / 1ª L.). Onde é que ficavam – para estes «pobres de Javé», «justos», “amigos de Deus” – os tesouros e riquezas deste mundo?… Não têm valor!

O autor da Carta aos Hebreus, por seu lado, não quer ser menos nesta questão das “preferências” ou da “confusão de valores”, entre o que é a Verdadeira Sabedoria e o que é “todo o resto”… Com este autor inspirado ficamos a saber que também a Palavra (Palavra de Deus, Palavra de Amor) aparece “personificada” tal como a Sabedoria. Ambas realidades “confundem-se” com o próprio Deus, o Senhor. Só assim podemos interpretar este “texto da Carta” e aplicá-lo à nossa vida diária, para efetivar a nossa melhor escolha e vivência:

“A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito… e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos”…(Hb 4 / 2ª L.). Meus amigos, certamente há um “outro mundo”, uma “outra vida” por dentro e por trás desta vida “visível e palpável” que vivemos! E que pena que haja tanta gente a conformar-se com essa “vida apenas material” e não sejam capazes de descobrir e viver – já «aqui e agora» – a outra vida do espírito, a que nos leva ao Transcendente, ao Absoluto, à “Sabedoria”, a Deus!

 

Senhor, nosso Pai, “Deus-Sabedoria”,

enche-nos da Tua bondade e misericórdia,

porque só assim nos sentimos saciados,

só assim a nossa alma exulta de alegria!

Ensina-nos a contar os nossos dias,

a fazermos a escolha inteligente

para chegarmos à sabedoria do coração

e que nunca vençam em nós as forças da matéria…

Quando nos afastamos, Senhor, da Sabedoria,

então saboreamos dias de aflição e de angústia,

sentimos as desgraças que acarretam

as escolhas erradas, falhadas, frustrantes…

Agora, ó Pai, compensa em alegria

aqueles dias de aflição e de desgraça;

manifesta em nós a Tua obra de sabedoria,

e em nossos descendentes a Tua excelência.

E confirma em nosso favor, Senhor,

a obra que realizam as nossas mãos!

[ do Salmo Responsorial / 89 (90) ]