37c- Nomes, escritos nos Céus

(Ciclo C – Domingo 14 do Tempo Comum)  

«NOMES, ESCRITOS NOS CÉUS» 

Uma “questão (in)pertinente” para começar.

Perante a Palavra (“Palavra de Amor”) que Jesus nos traz da parte do Pai – ou melhor, “Palavra que é o próprio Jesus” – cabem duas possíveis atitudes opostas: ou de Aceitação ou de Rejeição. Para aqueles que optarem, com plena consciência, pela rejeição da Palavra, vão dirigidas “expressões muito duras” – mas de aviso e alerta! – em várias passagens do Evangelho: “(Esses tais) serão tratados, ‘naquele dia’, com menos ‘tolerância’ que os habitantes de Sodoma” (Lc 10 / texto de hoje). E noutros textos análogos, diz-se que “as tais gerações” serão julgadas com mais ‘rigor’ que os habitantes de outras cidades: “de Nínive” (Mt 12) ou “de Tiro e de Sidónia” (Mt 11) cidades tão infiéis e pecadoras como Sodoma e Gomorra. É, portanto, um alerta sério, da parte de Jesus, para não desprezar “o Evangelho” nem “brincar” com “essa Palavra”, que “veio” precisamente “para ser Misericórdia que salva”, e não para um juízo de condenação!…

Mas vamos ao que interessa. Porque hoje, esta Palavra apresenta-nos uma perspetiva otimista e estimulante, para nunca desanimarmos perante as dificuldades que surgem na «missão evangelizadora» de todo e qualquer discípulo de Jesus. É que, realmente, Ele nunca esconde os obstáculos e sacrifícios (cruzes) – lembram-se? – que vão surgir na “tarefa da evangelização”. Embora, isso sim, colocará sempre, pela frente, o «fim vitorioso e glorioso» que espera aos «fiéis lutadores».

E já o Deus de Jesus – o Senhor Deus do Antigo Testamento – comprazia-se em mostrar àqueles nossos antepassados, «pais na fé», as “alegrias e júbilos” em que se vai transformar, no porvir, o tempo “de luto” e de sofrimento… E o descreve com belas imagens, reconfortantes e consoladoras, para que tenham, diante dos olhos, esse ‘prisma’ brilhante e refulgente: (Nesse dia) podereis beber e saciar-vos com o leite das suas consolações, podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência. Porque assim fala o Senhor: «Farei correr para Jerusalém a paz como um rio e a riqueza das nações como torrente transbordante»”. Tanto que, o próprio Senhor Deus, o Deus e Pai de Jesus, chega a colocar-Se no lugar da “melhor das mães”, para que ninguém tenha dúvida do que lhes espera aos «filhos fiéis» (atenção, que “todos podemos sê-lo”, se o não rejeitarmos!). Depois, já num tom de «ternura maternal», prossegue: “Os seus meninos de peito serão levados ao colo e acariciados sobre os joelhos”. Mas conclui, falando agora em primeira Pessoa, qual Mãe carinhosa e terna: “Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados. Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros”… (Is 66 / 1ª L.).

Acontece que, o apóstolo Paulo, por seu lado, conseguiu fazer, das cruzes e dissabores da sua vida, um “motivo de glória”: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Chegando a concluir, logo a seguir, e já no fim da Carta: “Doravante ninguém me importune, porque eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus”. (Gl 6 / 2ª L.). Bom exemplo, este de Paulo, como o de tantos «modelos na evangelização» que fizeram realidade, através da história das suas vidas, aquela expressão latina «per crucem ad lucem». Todo aquele seguidor de Jesus que optar por esta via, há de percorrer a sua via-sacra ou «via crucis», mas tendo muito presente o final glorioso de toda a “via-sacra” (na sua XVª estação): a Ressurreição Gloriosa com Jesus! E é isto que quer significar a expressão de Paulo: “Gloriar-se só na Cruz de Jesus Cristo”!

Agora é que podemos entender o sentido daquelas palavras de Jesus, no Evangelho de hoje, para consolar os seus discípulos (“enviados como cordeiros para o meio de lobos”) nos seus trabalhos apostólicos, e para não perderem de vista “o norte” das suas vidas: “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus»”. (Lc 10 / 3ª L.). É que, se não tivermos presente esta dimensão transcendente do “sentido da cruz”, tentaremos fugir dela e “alegrar-nos por muita coisa” ou “gloriar-nos em muitas outras”… em vez de “na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”, que é como ter os «Nomes escritos nos Céus»!

 

Não podemos, Senhor, nem devemos,

julgar-nos melhores do que ninguém…

porque todos precisamos da Tua Misericórdia.

É que “Sodoma”, “Tiro”, “Nínive”… ou “Babilónia”

podem dar-nos exemplo de conversão e penitência,

enquanto nós seríamos justamente julgados

«com menos tolerância», por causa da nossa soberba!…

E queremos aceitar, ó Pai, as cruzes da vida

e todas as fases escuras das nossas lutas

como forma de redenção e salvação,

seguindo sempre os passos do Teu Filho Jesus…

Proclamamos que «as Tuas obras são maravilhosas»

e que vais colocando diante dos nossos olhos tristes

as perspetivas estimulantes de um futuro Glorioso.

Entoamos hinos e cantamos glória ao Teu Nome,

porque Jesus disse-nos que, junto desse “Nome”,

estão escritos os nossos “nomes” no Céu!…

E agora reconhecemos e declaramos, Senhor,

que nunca retiras de nós a Tua Misericórdia!

            [ do Salmo Responsorial / 65 (66) ]