42a- «Teimosia incoerente» nos humanos!

 (Ciclo A – Domingo 19 -Tempo Com.) 

 «TEIMOSIA INCOERENTE» NOS HUMANOS!

Lembram-se de alguma destas Reflexões: «DEUS PEQUENO – DEUS IMENSO!» ou «O “FRÁGIL” CONFUNDIRÁ O “FORTE”» e também «MAIS “PARADOXOS” DE DEUS»?… Não deveríamos esquecer estas realidades contrapostas!

Porque, é verdade, somos chamados – como seguidores e discípulos de Cristo Jesus – a “nadar contracorrente”! A corrente desta sociedade humana que continua a apostar e a deixar-se envolver pelo poder, o domínio, o que é superior, a força bruta (basta ver os “speederman”, os “superman”, os “terminator”…). Ou então, o espetacular, o grandioso, o sumptuoso, e até “o terrífico” (pensemos nos «filmes de terror», que tanto atraem a muitas pessoas)… E, desde logo, essas guerras, sem fim, bem reais!…

Mas estes caminhos, meus amigos – sabemo-lo muito bem – não levam a qualquer meta segura e positiva… nem conduzem a qualquer vitória que seja definitiva ou transcendente; pois essas “forças”, todas e cada uma, só conduzem à autodestruição total e a uma completa extinção!

E o que é que a Palavra de hoje nos diz neste sentido? “Diante do Senhor, passou uma forte rajada de vento que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, sentiu-se um terramoto; mas o Senhor não estava no terramoto. Depois do terramoto, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo”…

É verdade que aquela infeliz tradição de considerar Deus como “o Senhor temível”, “o Deus Terrível”, “o Javé Sebaot” (Deus dos Exércitos), “imagem divina” de que apetece fugir ou a que se deveria enfrentar…, esta lamentável tradição, repito, tem a sua origem no Antigo Testamento… Mas não é menos certo que também nesse mesmo AT, como se está a ver neste texto do Livro 1 dos Reis, aparece bem patente a opção de Deus pela Sua verdadeira Face, contraposta ao que os homens pretendiam ver, apreciar ou interpretar. “…Depois do fogo, ouviu-se uma ligeira brisa. Quando a ouviu, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou à entrada da gruta”. (1 Rs 19 / 1ª L.). É que a Presença de Deus é sempre leve e suave como “uma brisa ligeira”… e nunca como o “imaginário humano”: do “terramoto”, do “furacão”, ou do “fogo devorador”!

Mas não é menos lamentável que, vinte séculos volvidos – desde que veio Jesus de Nazaré, o Filho de «o Pai-Deus» – ainda não tenha ficado ultrapassada e abolida essa “falsa imagem de Deus”, mais viciada e deturpada, nestes tempos nossos, de tantas maneiras, formas e cores! Será que Jesus não foi suficientemente claro, com as suas palavras e com a sua vida até à morte de Cruz, quando nos demonstrou, nitidamente, que Deus – o único e verdadeiro Deus – só pode ser Pai («Abbá») para todos e para tudo?! E a Palavra de Jesus não pode falhar, ou então Ele não fosse “o Cristo, que está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos. Ámen”. (Rm 9 / 2ª L.).

Ou seja que Deus, o nosso Deus, revelado na Pessoa do Filho Jesus, é, por divina essência, o PAI Bondoso, Misericordioso, infinitamente Paciente, sempre pronto a abraçar e perdoar… Verdadeiramente, não somos capazes de entender porque é que os seres humanos, de todos os tempos, se empenham em “ver” este Deus sob formas erradas. A menos que se deixem dominar pelo “espírito do Mal”, onde está a raiz e causa de todos os “males”.

Uma coisa, porém, deve ficar-nos bem clara e evidente: este Deus, justamente pelo facto de ser um Pai tão Bom e tão Frágil – lembram-se? – não deixa de ser Todo-poderoso (Omnipotente), precisamente para Salvar tudo e todos de todo o perigo, possível e imaginável! Hoje temos mais um exemplo disso no Evangelho. Porque, uma coisa é certa, podemos teimar em “apostar incondicionalmente” no poder, na força ou na violência… mas quando as coisas “começam a complicar-se” ficamos feitos uns medricas cobardolas: “O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar, assustaram-se, pensando que fosse um fantasma. E gritaram cheios de medo”. Pois!… Então teve de “atuar” o Poder de Jesus – que é de “coração manso e humilde” e Filho desse Pai Bondoso – para demonstrar que a autêntica Ternura não é inimiga, antes ao contrário, da verdadeira Omnipotência. “Então Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais». Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». «Vem!» – disse Jesus. Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas, para ir ter com Jesus (…) E logo que subiram para o barco, o vento amainou”… (Mt 14 / 3ª L.). Poder omnipotente de Deus… mas que só atua desde a humildade e terna mansidão de Jesus!     

Incessantemente, ó Pai nosso,

ousamos repetir, com o salmista:

Mostra-nos o Teu Amor e dá-nos a Tua Salvação

Sim, Pai, porque, ao manifestar-nos o Teu Amor,

Te sentimos manso e humilde

– «Deus pequeno» perto de nós –

de coração compassivo e misericordioso…

E confiamos em que nos dás a Tua Salvação

porque sabemos que és o Omnipotente

– «Deus imenso» que nos envolve –

e para Ti não há nada impossível…

Esperamos que, desde o Céu, Senhor,

venha sobre nós a paz e a justiça…

porque, desde a nossa terra,

fazemos brotar a fidelidade e o amor.

Continua a mostrar-nos, ó Pai, o Teu Amor,

para estarmos certos da Tua Salvação!

 [ do Salmo Responsorial / 84 (85) ]