51a- Outro ocupará o seu lugar

 (Ciclo A – Domingo 28 -Tempo Com.) 

«SERÁ OUTRO A OCUPAR O SEU LUGAR»

É que, no Reino de Deus, nada pode ficar “vazio”. Esta é uma realidade terrível e feliz ao mesmo tempo. Terrível porque, respeitando a liberdade de todos, em tempo e em espaço, todo aquele que decidir, consciente e obstinadamente, abandonar o seu lugar e deixá-lo de vago… já nunca mais voltará a recuperá-lo. Exatamente porque é necessário que seja ocupado por alguém que, por ventura, nunca tinha sonhado com um tal lugar de privilégio (ver: Sl 109, 8). E neste sentido, será uma realidade feliz e gratificante para muita gente sincera e humilde… Para estes é, portanto, feliz e venturosa condição; para os primeiros é mesmo um terrível desfecho.

Mas vamos então aprofundar na reflexão da Palavra de hoje. Estamos já na altura da vida de Jesus em que decorrem as últimas jornadas evangelizadoras, encontrando-se Ele em Jerusalém e à volta do templo. Assistimos a uma provocação contínua e obstinada dos “grandes” da sociedade, os tais «príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo», decididos a acabar com Ele; aqueles, precisamente, que estão situados em lugar privilegiado e responsável para guiarem os outros, como arautos exemplares, na via da harmonia social e da salvação…

Todas as parábolas de Jesus, que estamos a ler e meditar estes dias na liturgia dominical, vão na mesma direção: pretendem abrir os olhos daqueles homens autossuficientes (“hipócritas…”) para a Verdade, e, ao mesmo tempo, dar uma lição a todos os que escutam, dentro e fora daquele “templo de Jerusalém”. “Dirigia-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, dizia-lhes…”. E toda a gente vê com clareza que, neste caso, a parábola apresentada por Jesus, longe de ser confusa ou indefinida, vai direita ao alvo para atingir a raiz do mal. “… (Aquele rei) mandou os servos chamar os convidados para as bodas (do seu filho), mas eles não quiseram vir… foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos… O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos”… Mas o seu lugar não podia ficar “deserto”, e logo de imediato, devia ser ocupado por outros… “(Disse:) ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. E a sala do banquete encheu-se de convidados”… (Mt 22 / 3ª L.). Na verdade, como será terrível a situação de quem foi convidado, chamado e até instado… mas não quis aceitar o convite de uma tal “missão vocacional” privilegiada! E como são felizes os outros – simples, pobres e humildes – sempre abertos e dóceis à bondade e generosidade infinita do Pai Deus!

É que o Amor ilimitado deste Deus-Pai nunca é responsável – “não tem culpa” – das asneiras, disparates ou atrocidades que os homens livres possam decidir praticar… Ele, o Pai, só pensa sempre no prémio e na felicidade melhor; a tal recompensa que o profeta Isaías imagina agora como “a preparação – para todos os povos – de um banquete de manjares suculentos, um festim de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos”… Pois nos planos deste Deus, «bondoso e compassivo», só cabem pensamentos de felicidade e alegria para aqueles que “criou à sua imagem e semelhança”, mas que tiveram de fazer uma travessia de sofrimento, luto ou amargura… Eis o futuro que nos espera: “Sobre este monte, (Ele) há de tirar o véu que cobria todos os povos, o pano que envolvia todas as nações; destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo. Porque o Senhor falou. Dir-se-á naquele dia: «Eis o nosso Deus, de quem esperávamos a salvação… Alegremo-nos e rejubilemos, porque nos salvou…»”. (Is 25 / 1ª L.).

Nesta perspetiva, a nossa esperança confiante neste Pai – generoso e magnânimo, para Quem “tudo é possível” – deve ser plena e total; até porque, aquela verdade que escreve Paulo, o apóstolo das gentes, é tão real e universal que, cada um de nós, pode proclamar com alegria: “Tudo podemos n’Aquele que nos conforta… Glória a Deus, nosso Pai”. (Fl 4 / 2ª L.).

A minha firme esperança, ó Pai,

faz-me proclamar confiadamente:

Eu habitarei na Tua Casa, agora e sempre!

Enquanto viva neste vale terreal,

– por vezes tenebroso mas sempre promissor

eu quero ocupar fielmente o lugar que,

na Tua providência amorosa, Senhor,

sonhaste e reservaste para mim.

Vivo confiado e descansado

porque és o meu pastor e nada me falta:

levas-me a repousar em verdes prados,

conduzes-me às águas refrescantes…

Ainda quando passo por vales tenebrosos

eu sei, ó Pai, que Tu estás comigo:

a bondade do Teu “cajado” e aconchego

enchem-me de fé e confiança…

Eu e todos os Teus filhos sabemos

que na mesa do banquete do Reino

beberemos do cálice da imortalidade,

e viveremos na Tua Casa, Senhor,

para todo o sempre. Ámen.

                         [ do Salmo Responsorial / 22 (23) ]