53a- «613 - 10 - 2 - 1 - AMOR!» ...

 (Ciclo A – Domingo 30 -Tempo Com.)  

 «613 – 10 – 2 – 1: AMOR!»

Uma contagem decrescente? É o que parece. Dizem que na Torá (“cinco livros de Moisés”) da Bíblia judaica se podem contar até “613” preceitos (dos quais, 365 são negativos – número igual aos dias do ano (!) – e 248 positivos). Interessante!… Desde logo, postos a multiplicar mandamentos e normas não há quem ganhe aos humanos. Ainda bem que Deus – na sua infinita bondade – decidiu que ficassem reduzidos a 10, no monte Sinai. Mas Jesus, o Filho – com a sua divina simplicidade! – acabou por sintetizá-los em 2: “Amar a Deus” e “Amar ao homem”. Isto é, apenas 1: “AMAR”. Ou seja, o único mandamento, «o mandamento novo» de Jesus: O Amor!

É que não podia ser de outro modo. Porque se «Deus é Amor» (1 Jo 4), e também o Ser mais complexo e o Ser mais simples ao  mesmo tempo, nós – criados à Sua imagem e semelhança – não podíamos estar fora desta força envolvente – imanente e transcendente – que é o Amor.

Já desde “os alvores” da Bíblia, no livro do Êxodo apresentava-se assim. Não era possível separar o Amor a Deus de o Amor ao próximo. Tão inseparáveis eram, que até parece que Deus, o Senhor, sente-se agasalhado e coberto com a mesma “capa que cobre o nosso próximo pobre” (para lembrar o episódio de S. Martinho)…

Vê-se que, com a linguagem bíblica primitiva e rudimentar daquela época – mas sem deixar de ser radical e determinante – a Palavra vai dizendo como as coisas devem ser processadas a respeito do próximo. “«Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele?… Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário… Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros…»”. Pode parecer que não é possível mais clareza e radicalidade, mas, mesmo assim, ainda há uma conclusão, como motivo e justificação, que atinge até ao mesmo Deus: “«Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação… Ou então, “Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque Eu sou misericordioso»”. (Ex 22 / 1ª L.).

E para nós, hoje, na linguagem do Evangelho de Jesus, qual deverá ser a nossa atitude para com os irmãos, os nossos próximos? É evidente que existe o perigo do exagero, caindo no extremo oposto e ficando apenas com o próximo – o homem – e esquecendo Deus. É assim que fazem os que seguem as modas do falso “filantropismo”. Está bem claro que tentar separar as duas faces da mesma “medalha” é ficarmos fora do Amor genuíno e autêntico: nem pretender amar só a Deus, como aqueles que denunciava a Bíblia; nem tentar amar só o homem pelo homem, como pretendem alguns “fariseus filantrópicos” nestas nossas sociedades cristãs.

Para que não fique dúvida neste campo, Jesus põe as coisas no seu exato lugar, proclamando a “indissolubilidade” destes dois “amores”, precisamente porque já não são dois mas um só, como víamos acima. E assim, no Evangelho de hoje, Jesus proclama: “«Amarás o Senhor, teu Deus… Amarás o teu próximo como a ti mesmo… Nestes dois mandamentos se resume toda a Lei e os Profetas»”. (Mt 22 / 3ª L.).

Quem será capaz – perguntamos nós – de encontrar energia e fortaleza suficientes para amar o irmão, isto é, qualquer homem (porque afinal todos são nossos próximos, basta lembrar a interpretação que Jesus dá à Sua parábola do “bom samaritano” / Lc 10). E quem conseguirá perseverar nesse amor, sem desanimar, sem desistir… se não tivermos connosco a Força do Amor de Deus? Não seria, afinal, pura ilusão!?

Pois parece que os cristãos da comunidade de Tessalónica estavam a viver este Amor abrangente, “inclusivo”, nas suas relações com Deus e com os irmãos. De outro modo, Paulo não os teria posto como modelos exemplares para os cristãos das outras comunidades. “Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor… na alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia… Pois em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus…”. (1 Ts 1 / 2ª L.).         

Senhor, eu aprendi o Teu Amor antes de mais,

e também aprendi a amar os meus semelhantes,

precisamente porque Tu és a minha Força

para amar todos e cada um dos homens meus irmãos,

a começar pelos mais necessitados de amor…

Sim, Senhor, porque és a minha fortaleza,

o meu refúgio e o meu Libertador!

E porque Te amo com toda a alma e coração,

ponho em Ti, ó Pai, a minha confiança…

Sei que quando Te invocar na minha aflição

– “e clamar pelo meu Deus” – Tu ouves a minha voz;

quando rezo no Teu templo, casa de oração,

o meu clamor chega aos Teus ouvidos…

“Viva o Senhor, bendito seja o meu protetor”

porque me ensinas a amar o meu próximo

tanto como quero amar-me a mim mesmo!

Sejas, ó Pai, amado e louvado para sempre

porque estou a aprender a amar o homem em Ti

e a amar-Te a Ti no homem, em todo o homem!

                                  [ do Salmo Responsorial / 17 (18) ]