65a- Felizes -«Fiéis»- para sempre

– A PALAVRA, Refletida ao ritmo Litúrgico –

(Ciclo A – TODOS os SANTOS – 01-novembro)

FELIZES – E «FIÉIS» – PARA SEMPRE!

Também “no matrimónio”, claro! Porém, bem entendido, evidentemente!

Todo o ser humano – todos nós – temos sede, ânsia profunda, necessidade… de Felicidade Eterna. Isso mesmo, “eterna”; e com nada de menos ficamos contentes!… Mas, para sermos coerentes, temos de proclamar aqui, mais uma vez este “silogismo”: Se a única Felicidade que nos satisfaz é a eterna, o nosso Compromisso, para a atingir, deve ser também ilimitado, definitivo, isto é, sem limites nem «data de caducidade». Infelizmente, esta é a lógica e a coerência que – nestes tempos que são os nossos – falta a tantíssima gente!…

Na Palavra de Deus de hoje, está bem claro que a satisfação, a bem-aventurança, a felicidade… que se promete e espera, não tem limite algum, e é mais maravilhosa até do que nós poderíamos imaginar já que não pode “caber na mente nem no coração humano” (em expressão, repetida, de S. Paulo /1 Cor 2, 9; 2 Cor 12, 4). A Palavra desta Eucaristia é abundante em expressões deste género: “Bem-aventurados, porque… deles é o reino dos Céus… possuirão a terra… serão saciados… alcançarão misericórdia… verão a Deus… serão chamados filhos de Deus… Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”. (Mt 5 / 3ª L.). Por sua vez, no Livro do Apocalipse, contempla-se, em visão futura, os que já conseguiram atingir essa Eterna Felicidade: “…Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas… que estavam diante do trono, na presença do Cordeiro”… (Ap 7 / 1ª L.).

Cada um é livre de imaginar esta felicidade futura como melhor lhe agradar, embora sempre será uma “representação antropomórfica”, e estará muito longe da realidade, como Paulo nos advertia, numa das citações que acabamos de apontar, pois os nossos sentidos não estão ainda capacitados para isso (“nem olho viu… nem ouvido ouviu…”). Ainda que agora – como diz outro apóstolo, João – “sejamos já filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos, porém, que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é”… (1 Jo 3 / 2ª L.). Basta-nos, portanto, sabermos que iremos certamente sofrer ou suportar uma transformação, para sermos verdadeiramente “semelhantes a Deus ao contemplá-lo tal como Ele é”. Deste modo, aqueles que já fomos criados semelhantes a Deus (“à Sua imagem e semelhança”), após um tempo de prova e de luta, em que esta “imagem” ficou desfigurada, deturpada ou destruída, acabará – por obra e graça da Redenção de Cristo Jesus, com a nossa colaboração – atingindo finalmente aquela Verdadeira Imagem, “sonhada” pelo Criador e Pai nosso.

Ficou claro, portanto, que a Felicidade, que anelamos e esperamos, não deve acabar, deve ser Eterna. Outra coisa diferente não teria sentido para a nossa exigência vital, “instintiva”. É a tal sede de eternidade, que só será saciada com “a Água Viva, que jorra, dentro de nós, até à Vida eterna”(Jo 4).

Voltemos então ao nosso compromisso essencial – esse pacto e obrigação – que vai fazer possível a tal realidade de nos sentirmos plenamente Felizes. Isto, claro, se não formos completamente incoerentes.

Adiantávamos, inicialmente, que esse compromisso deveria ser – também por coerência – do mesmo “género e número” que a felicidade, ou seja, “completo, ilimitado, definitivo”. Os que pretendem pôr limites a esses compromissos, quando dizem, por exemplo, «agora é assim, depois… logo se verá», ou então, «eu vou ser fiel enquanto o prazer durar»… esses – «ipso facto» – estão a pôr limite e a destruir a sua Felicidade (já que aniquilaram previamente a sua “Fidelidade”).

Quando a Palavra de Deus fala em fidelidade ao compromisso vital, também não marca limite nem pressupõe “caducidade” de qualquer género (“Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida” / Ap 2). E a Palavra de hoje vai na mesma linha de fidelidade, ao atribuir a recompensa aos “fiéis”, quando escreve, no mesmo livro do Apocalipse: “…Esses são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro”. (Ap 7 / 1ª L.). De igual modo que na 1 Carta de João, onde se supõe uma fidelidade sem termo: “Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro”. (1 Jo 3 / 2ª L.). Ninguém fala aqui em tempos “limitados” ou em espaços “circunscritos”!… (Quem é que «põe portas ao vento»!?).

 

Sabemos, Senhor, que esta multidão inumerável

– de todos os Santos e Santas do Céu –

pertencem à geração dos que Te procuram,

que procuram sempre a Tua face, ó Deus,

na fidelidade de cada dia e de todos os dias…

E nós queremos ser fiéis, e “santos”, como eles;

continuar a sermos dos que põem a mão no arado

e nunca voltam a sua vista para trás,

para sermos dignos do Reino dos Céus…

Porque só os que são fiéis e perseverantes

poderão subir à Tua montanha, Senhor,

e habitar no Teu Santuário Eterno:

esses mesmos que têm as mãos inocentes

e levam sempre o coração puro, incontaminado…

Não assim aqueles outros, que agora dizem sim,

mas logo vão dizer não porque lhes convém.

São esses, Senhor, que usam o Teu nome em vão

quando mentem ou fazem troça e sarcasmo

da Tua inefável e bondosa fidelidade

com as suas infidelidades à palavra dada,

esses que não podem subir ao Teu Santuário,  

edificado no monte da verdadeira Felicidade…

Nós, porém, ó Deus e Pai nosso,

porque nos sentimos abençoados por Ti,

esperamos a recompensa eterna dos Santos…

Seremos Fiéis ao Amor, para sermos Felizes no Amor!

                            [ do Salmo Responsorial / Sl 23(24) ]