54a- O maior seja o menor

 (Ciclo A – Domingo 31 -Tempo Com.) 

 

 «O MAIOR SEJA O MENOR»

 

Que coisa estranha! A quem lhe ocorre uma coisa dessas! Só se for um «extraterrestre», porque “nesta terra nossa”, quem é que não luta por ser «o maior»? Os que se afastam desta pauta são considerados deficientes quando não uns “coitados”, dignos de lástima.

Pois acontece que, um tal Jesus de Nazaré – personagem histórica bem real e «terrestre», com vinte séculos de crescente influência na sociedade humana – inverteu aquele “esquema”, ao proclamar, por várias vezes na sua vida terrena, esta “ordem”: «O maior seja o menor!». E o Seu Evangelho de hoje conclui exatamente com estas palavras: “«Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado»”. (Mt 23 / 3ª L.).

Ora bem, se alguma coisa tinha bem assumida Jesus, quer na sua vida e conduta quer nas suas palavras, era esta atitude de igualdade radical entre todos os homens, porque filhos do mesmo Pai: “Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste”(Mt 23)… Ou então, o profeta, na primeira leitura: “Não temos todos nós um só Pai? Não foi o mesmo Deus que nos criou? Então porque somos desleais uns para com os outros,

profanando a aliança dos nossos pais?”(Ml 1-2 / 1ª L.). Visto isto, parece que isso de rivalizar com os outros para “ver quem é o maior” está fora de lugar. Aqui vai ser exatamente o contrário: rivalizar (no melhor sentido do termo) para ver “quem é o menor” (!). Isto é, algo rigorosamente oposto àquilo que é o estilo constante nesta sociedade de competição, de antagonismo, de domínio e de fama, quer se trate de “autoridades” quer não…

Mas é sobretudo contra essas autoridades mal-entendidas, “desviadas” e abusivas, é contra elas que carrega este Evangelho de Jesus, bem como já o fizera o Senhor Deus pelo, já citado, profeta Malaquias alguns séculos atrás. “Agora, este aviso é para vós, sacerdotes: Se não Me ouvirdes, se não vos empenhardes em dar glória ao meu nome, diz o Senhor do Universo, mandarei sobre vós a maldição. Por ter-vos desviado do caminho, feito tropeçar muitos na lei, e terdes destruído a aliança de Levi, diz o Senhor do Universo” (Ml 1-2). E já não são só eles que “se desviam” mas, pior ainda, “desviam e fazem tropeçar os outros”.

Por seu lado, Jesus quer ser ainda mais claro, radical e terminante: “Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem”. E a seguir, vai especificando até onde podem chegar os seus excessos, “desvios” ou desvarios: “Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam os filactérios e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas”(Mt 23 / 3ª L.).  Evidentemente, estes “escribas e fariseus” (de ontem e de hoje!) são os tais que gostam de serem tratados por ‘Mestres’ ou por ‘Doutores’. Realmente, aquela conclusão “virada do avesso” de Jesus não deixa dúvidas. Reiteramos: «Quem for o maior seja o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

Está, pois, bem traçado para nós o caminho a seguir – no exemplo e na palavra de Jesus – mas também no modelo que é Paulo e os seus companheiros para os cristãos de Tessalónica e para nós todos. “Irmãos: Fizemo-nos pequenos no meio de vós. Como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar, assim nós também, pela viva afeição que vos dedicamos… Bem vos lembrais, irmãos, dos nossos trabalhos e canseiras. Foi a trabalhar noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, que vos pregámos o Evangelho de Deus”.(1 Ts 2 / 2ª L.). E porque os exemplos arrastam – os bons e os maus – neste caso foram os bons exemplos de Paulo e colaboradores que os “tessalonicenses” seguiram, e assim, são modelos para nós: “Porque, depois de terdes ouvido a palavra de Deus por nós pregada, vós a acolhestes, não como palavra humana, mas como ela é realmente, Palavra de Deus, que permanece ativa em vós, os crentes” (1 Ts 2).

Como aquele “orante” do salmo, Senhor,

eu quero viver na Tua paz junto de Ti…

Não quero que o meu coração se eleve soberbo

nem se levantem altivos os meus olhos;

não serei eu como esses que se gloriam

nas honras ou dignidades que lhes foram dadas,

e se obstinam em sobressair e dominar sobre os outros,

que afinal são da sua mesma carne e sangue

Também não ambiciono riquezas, Senhor,

porque vejo como os grandes do mundo

se deixam submeter e dominar por elas,

e “desviam” o seu coração do Teu Amor.

Nem desejo coisas superiores a mim,

que me possas tornar superior aos outros…

Antes quero ficar sossegado e tranquilo

– como criança ao colo da mãe –.

Assim, possa eu rivalizar com todos

para ver quem é “o menor, o servo, o último”,

aquele que “não quer ser servido

mas vive para servir” como Tu, Jesus Amigo.

                [ do Salmo Responsorial / 130 (131) ]