55a- Serão poucos os sabios...

 (Ciclo A – Domingo 32 -Tempo Com.) 

 «SERÃO POUCOS OS “SÁBIOS”?»

Toda a gente quer “saber mais”, todos procuram a sabedoria, o conhecimento, a cultura… Mas para conseguir o quê? Talvez um status melhor, de nível superior, se possível no topo de toda e qualquer categoria…?

E será que a Sabedoria bíblica é desse género e avança nessa direção… com essas ambições?  – Não parece. Antes, ao invés, a Sabedoria que a Bíblia “persegue”, desde muito antigo, vai por outros caminhos, tem outros sentidos e sinónimos… Sabemos que, logo à partida, esta Sabedoria tem dois significados ou “aceções” na tradição bíblica: um, nascido do bom senso e da experiência, é como que uma qualidade natural do homem e se desenvolve pela educação; a outra aceção ou sentido considera-se como um atributo próprio da divindade, que só é comunicada, por graça, a “alguns homens privilegiados”… O Novo Testamento bíblico assume ambos os sentidos, embora dá valor e exalta esta sabedoria só na medida em que for orientada para um valor moral e religioso…

A Palavra de hoje, por seu lado, já desde o próprio Livro da ‘Sabedoria’, introduz-nos num sentido que logo o Evangelho irá “representar em parábola” e especificar em valores… Essa primeira Leitura de que falamos, começa por apresentar uma das suas qualidades essenciais, ao dizer que “a Sabedoria é luminosa e o seu brilho é inalterável”. Logo a seguir começa a conferir-lhe uma espécie de «personalidade» ao afirmar que “se deixa ver facilmente por aqueles que a amam e sai ao encontro dos que a procuram, antecipando-se para se dar a conhecer aos que a desejam”. E uma vez “personificada” – diríamos “endeusada” – acabará proclamando que ela própria, a Sabedoria, “procura por toda a parte os que são dignos dela: aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência, e vem ao seu encontro em todos os seus pensamentos”, porque “meditar acerca dela é prudência consumada”. (Sb 6 / 1ª L.).

Cada um poderá interpretar como entender esta “sabedoria” e transferi-la para a sua vida como achar melhor… mas o Evangelho de Jesus é bem preciso e determinante, ao “(re)presentar” a «parábola das virgens». E se temos em atenção que está inserida num conjunto de parábolas e doutrina acerca da vigilância perante futuros acontecimentos inesperados que aí vêm, descobre-se, como algo evidente, o sentido de «prudência» e de «estado de vigília» que aqui adquire essa sabedoria. Jesus, logo de início,  contrapõe a ‘prudência’ à ‘insensatez’. Daquelas dez virgens, a representar o Reino dos Céus, “cinco eram ‘insensatas’ e cinco eram ‘prudentes’”. E como sabemos, só as prudentes – porque estavam em vigília – se encontraram com “o esposo” e puderam entrar no banquete do Reino. As outras virgens, insensatas ou néscias, não é que tivessem mais ou menos culpa que as primeiras, senão que, pura e simplesmente, eram desconhecidas para o esposo («Não vos conheço»). Como é terrível sermos “desconhecidos” para Alguém importante!… Daí a relevância da conclusão de Jesus: “Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora”. (Mt 25 / 3ª L.).

E Paulo, como é seu costume, ao escrever nesta ocasião aos cristãos de Tessalónica, apresenta-nos, a todos, um outro sinónimo da Sabedoria, que é a “esperança cristã”, e a contrapõe à tristeza ou angústia perante o pensamento da morte: “Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos defuntos, para não vos contristardes como os outros, que não têm esperança”. Sendo assim, a Palavra divina – através das palavras escritas de Paulo – traz o consolo e o conforto aos que esperam a salvação, pela morte e Ressurreição de Cristo Jesus. “Consolai-vos uns aos outros com estas palavras”. (1 Ts 4 / 2ª L.).

Dizia um poeta: «Poucos são os sábios que no mundo existiram». E embora não saibamos exatamente o que ele queria significar com o termo “sábios”, se for o sentido que a Palavra dá aos que se deixam guiar e possuir pela sabedoria bíblica e cristã, então não podemos deixar de optar e apostar nesses “sábios”, para que, esses poucos, sejam muitos mais, imensamente mais, um “uma multidão enorme que ninguém poderá contar!” (Ap 7,9).

 

A minha alma tem sede de Ti, ó meu Deus:

tem sede dessa “Sabedoria luminosa,

cujo brilho e fulgor é inalterável”

Sabedoria pela qual eu anseio e suspiro

como terra árida, sequiosa, sem água.

Sabedoria que é prudência e é vigilância,

que é também esperança cristã…

Sabedoria que Tu dás precisamente de graça,

porque a Tua graça vale mais do que a vida.

Assim eu Te procuro desde antes da aurora,

porque sei que a Tua Sabedoria, Senhor,

“está à minha espera antes do amanhecer”.

Assim quero contemplar-Te desde muito cedo

no lugar de oração que é o Teu santuário:

onde com vozes de júbilo Te louvarei

e levantarei sempre as minhas mãos

para exultar à sombra das Tuas asas!

Aí a Tua Sabedoria será o meu alimento:

serei saciado com saborosos manjares

no banquete das bodas eternas do Reino.

                     [ do Salmo Responsorial / 62 (63) ]