56a- «O campo do preguiçoso»

 (Ciclo A – Domingo 33 -Tempo Com.)  

«O CAMPO DO PREGUIÇOSO…»

Pois é, dizem que «o campo do preguiçoso está cheio de espinhos e abrolhos e as ervas daninhas cobrem o chão…». A filosofia popular de todos os tempos é abundante e prolífica em ditados desse género aplicados aos humanos que são vítimas da preguiça ou de outras ervas nocivas similares…

Mas o Livro bíblico dos Prevérbios exprime-o melhor, com esse toque admirável de «poesia profética» que lhe caracteriza: “Passei pelo campo do preguiçoso e pela vinha do insensato, e vi que tudo estava cheio de urtigas, que as silvas cobriam o chão, e que o muro de pedra estava por terra” (Pr 24, 30).

São os resultados estéreis dos que pensam (ou não pensam!) que os frutos surgem por “geração espontânea”, sem a cooperação esforçada da vontade humana, sem o trabalho.

É exatamente esta lição que nos dá – pala negativa – o “sevo mau e preguiçoso” do Evangelho de hoje. Se ele (o terceiro servo) recebeu menos talentos do que os outros, isto não foi por discriminação arbitrária, mas porque aquele indivíduo devia ter menos capacidades; além disso, ser-lhe-ia então mais fácil lucrar recebendo menor quantidade, até porque requeria menos esforço e trabalho (?)… Seja como for, a sua opção foi pela preguiça indolente e apática: “O que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor”. E ainda por cima vem com desculpas e argumentos que, afinal, se voltam contra ele: “«Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei (como tu mesmo estás a dizer); devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro, e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento…»” (Mt 25).

Ainda bem que, ao contrário, temos a melhor lição de diligência, dedicação e fidelidade, da parte dos outros servos, que puseram a render os “talentos recebidos”, consoante as suas capacidades… A cada um deles, o senhor disse com imenso agrado e satisfação: “«Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor»…”. (Mt 25). E repare-se que o prémio atribuído a cada um destes dois servos “bons e fiéis” foi o mesmo, embora a quantia lucrada por um deles era bastante inferior à do outro. É que o nosso Pai Deus, Senhor sempre generoso e pródigo para os diversos tipos de “talentos”, está à espera, apenas e só, de que demonstremos uma sincera colaboração para pôr a render os talentos que Ele nos deu, mesmo com um esforço menor: o resto é com Ele e a Sua ilimitada generosidade, que multiplicará, pelo “infinito”, os nossos pequenos frutos… [E já agora, não esqueçamos aqui a Matemática, onde o zero (0) multiplicado por qualquer número, mesmo o infinito () dá sempre zero, nada; mas qualquer outro número, mesmo o mais pequeno, ao ser multiplicado por infinito vai dar sempre infinito]… Sendo assim, é compreensível a conclusão da parábola evangélica: “Porque a todo aquele que tem, dar-se-á mais, e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado”. E o seu final poderá ser qualquer coisa como “as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes”. (Mt 25 / 3ª L.).

Mas a Palavra de hoje surpreende-nos ainda mais. Aliás, é logo a primeira Leitura, do Antigo Testamento, que nos descobre esta realidade curiosa e admirável: O modelo de pessoa “diligente” e solícita é precisamente a mulher e não o homem. Ainda mais interessante e chocante se temos em atenção que aquela era uma época em que a mulher vivia relegada e postergada a um segundo plano a respeito do homem! É o próprio livro dos Provérbios, já citado no início, que se desfaz em elogios e loas acerca da “mulher virtuosa”. Valeria a pena reler todo o capítulo 31 – donde é tirada essa 1ª leitura – pois aqui ficamos apenas com alguns excertos: “…O seu valor é maior que o das pérolas… Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente… Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente… A graça é enganadora e vã a beleza; a mulher que teme o Senhor é que será louvada…”. (Pr 31 / 1ª L.).

Está aqui um modelo e exemplo de “diligência e fiel solicitude”, que deveremos seguir e imitar, se quisermos ser coerentes e conscientes, de acordo com as palavras de São Paulo aos cristãos de Tessalónica: “Somos filhos da luz e filhos do dia; que não o somos da noite nem das trevas. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios… para que aquele dia não nos surpreenda”. (1 Ts 5 / 2ª L.).

 

Se eu seguir o Teu Caminho, Senhor,

serei ditoso e tudo me há de correr bem

O trabalho fiel e diligente das minhas mãos

será multiplicado pela Tua infinita generosidade

para assim, ó Pai, me sentir saciado e satisfeito.

Porque não são aqueles homens ou mulheres

que vêm a Ti com temor servil e subserviente

que terão o Teu favor e a Tua bênção, Senhor;

mas aqueles que, na sua diligente fidelidade,

têm “medo” de perder a Tua Amizade, ó Pai,

ou “temem” ofender o Teu Amor infinito,

o que é o verdadeiro «Temor de Deus»

que se considera o “princípio da Sabedoria”.

Os que assim procedem são abençoados desde Sião,

e serão contagiados da Alegria e Satisfação

que Tu sentes ao dar «recompensas eternas»

a todos os que foram «fiéis em coisa pouca»…

                        [ do Salmo Responsorial / 127 (128) ]