57a- O contrassenso da auto-exaltação

 (Ciclo A – CRISTO REI – domingo 34 com.) 

 O CONTRASSENSO DA «AUTO-EXALTAÇÃO» 

Esta expressão tem outras denominações, como “vaidade” ou “narcisismo”, “orgulho” ou “soberba”. Tanto faz, porque tudo vai dar ao mesmo!

Mas se pensarmos minimamente, não tem lógica nem sentido o pretender exaltar-se a si próprio. Até porque «é impossível alguém “catapultar-se” a si mesmo», pelo princípio mais elementar da “lei da alavanca”. Toda a gente compreende – segundo esse “princípio de Arquimedes” – que só é possível acionar uma catapulta (variante da alavanca) mediante uma potência (força que levanta) diferente e exterior à resistência (força que é levantada). No nosso caso, se alguém tiver de ser exaltado, deverá sê-lo, forçosamente, por outrem…

E numa lógica similar, todo o ser pensante entende facilmente que ninguém poderá vir a ser ainda mais elevado ou exaltado, quando já se julga por cima de tudo e de todos (!?). Aliás, isso também seria absurdo e carente de sentido.

Duas situações, portanto, igualmente ilógicas e absurdas, mas infelizmente tão frequentes na nossa sociedade (e parece que também nas sociedades de outros tempos)!

A Palavra de hoje – se conseguirmos refleti-la e orá-la – vai projetar a luz da Verdade sobre as nossas vidas, uma vez que a atitude humilde e simples deveria ser “o normal” na vida de toda a pessoa («humildade é andar em verdade» – diria Teresa de Jesus).

É admirável, em primeiro lugar, a atitude de humildade e simplicidade que já manifestava Aquele que – ao mesmo tempo – o povo do AT imaginava como «o Deus Altíssimo, O Terrível». Através do profeta Ezequiel, Ele apresenta-se como “humilde pastor” que se põe ao nível das “ovelhas”, para dedicá-las todos os seus cuidados e ternuras: “Eu irei em busca das minhas ovelhas… hei de procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada… Eu guardarei as minhas ovelhas… Eu as levarei a repousar… Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa”… (Ez 34 / 1ª L.). Pois não é este precisamente um “Deus altíssimo mas o «Deus baixíssimo» (denominação curiosa que alguém atribuiu – por contraposição – ao «Deus de Jesus»). Ou então, parafraseando ao Papa Francisco: verdadeiramente, este Deus, nosso Deus «tem o cheiro das ovelhas», das Suas ovelhas.

O próprio Jesus – que também nunca se chamou a Si mesmo «filho do Altíssimo»! – é exatamente o exemplo vivo do que deve ser a atitude normal e verdadeira de todo o homem. Porque também Ele, Jesus de Nazaré, nunca se proclamou rei de ninguém (no sentido vulgar), a não ser quando quis aparecer “montado num humilde jumento” (Mt 21), precisamente para cumprir uma outra profecia da Antiga Aliança (“Filha de Sião, aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho”- Zc 9, 9). Esta será a única e verdadeira Realeza que Jesus reclamará para Si, e para os seus seguidores. Vejamo-lo então no Evangelho de hoje.

Há uma verdade essencial, que subjaz na descrição que Jesus faz daquela sessão “escatológica”, em que era suposto o Filho de Deus aparecer como Supremo e Justo Juiz: o que aqui não acontece, antes pelo contrário! Porque a verdade essencial é esta: Jesus (Deus) está em cada um de todos os humildes, pobres, pequenos, justos, inocentes, sofredores… Embora a expressão «está em» não parece a mais apropriada; seria mais exata: “Jesus «é» cada um e todos…”. Porque só assim podemos entender o alcance dos «termos desse Juízo Final». O que é que significam, então, expressões como estas: “tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber…”? Ou estas: “Me recolhestes… Me vestistes… Viestes visitar-Me…”? E sobretudo, o “quando” e o “porquê”: “Porque, em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequenos, a Mim o fizestes…”. (Mt 25 / 3ª L.). E pela mesma razão e motivo ficarão eliminados os que não souberem reconhecer «Deus-Jesus» nos «seus semelhantes». Ou será que já esquecemos – pergunto eu – aquilo de que este nosso Deus e Pai «é grande porque é pequeno» ou «é excelso na medida que é simples e humilde»? [Ver, por exemplo: «DEUS PEQUENO – DEUS IMENSO» ou: «O FRÁGIL CONFUNDIRÁ O FORTE»…].

E para melhor concluir a nossa reflexão, temos o magistral argumento que hoje nos traça Paulo, na sua primeira carta aos coríntios. É como que uma espécie de esquema circular que tudo envolve e engloba:

“Em Cristo serão todos restituídos à vida… primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo… quando Cristo entregar o Reino a Deus seu Pai, depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder… e o último inimigo a ser aniquilado é a morte… Porque é necessário que Ele reine… Então, também o próprio Filho Se há de submeter Àquele que Lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos”. (1 Cor 15/2ª L.).  

 

Se o Senhor é meu Pastor

– já desde muito antigo –

nada poderá faltar-me nunca…

Quando, ó Pai nosso, me sinto débil

e cheio de temor perante inimigos

que são mais fortes do que eu,

então sinto a certeza da Tua Presença,

porque Tu és mais Forte do que eles…

E ainda que tenha de andar

por vales difíceis e tenebrosos,

não temerei nenhum mal,

porque Tu estás sempre comigo:

preparas, para mim, uma mesa

à vista dos meus adversários…

E quando, ó Abbá-Pai, me sinto forte

e talvez superior a outros irmãos,

então descubro que Tu – presente neles! –

estás sempre no lugar mais baixo,

e apareces – também neles! –

como o mais frágil e pequeno,

sempre terno, manso e humilde…

Assim, perfumas a minha cabeça com o óleo

da Tua humildade e simplicidade…

Que a tua graça e amizade, Senhor,

continuem sempre a acompanhar-me,

todos os dias da minha vida!…

[ do Salmo Responsorial / 22 (23) ]