36b- A morte gera vida pela cruz...

 (Ciclo B – Domingo 13 do T. Comum…) 

«A MORTE GERA VIDA PELA CRUZ»

Toda a gente (?) conhece o que sucede com as sementes de toda e qualquer planta. Uma vez caída, em terra propícia e favorável, a semente germina, desenvolve, cresce… e cá temos uma nova planta. Este processo parece tão natural, que ninguém se para a pensar o que realmente aconteceu àquela “sementinha”. Parece como se ela ficasse mesmo esquecida…. Pensamos apenas já na planta que agora vive e frutifica. É assim que somos os humanos! Olhamos apenas para a superfície das coisas, o que se vê e aprecia, mas… dificilmente nos perguntamos pelo que ocorre no interior, no “silêncio essencial” do coração dos seres e das coisas. Sendo que, precisamente, é no essencial (“invisível aos olhos”) que está o sentido e o valor de cada ser…

Mas, afinal, o que é que aconteceu com “a tal semente”? Será que ela desapareceu, foi aniquilada, deixou de existir? Uma primeira resposta está na ciência biológica, botânica, … como todos sabemos. Mas a solução substancial do “mistério” encontramo-la sobretudo nas palavras de Jesus de Nazaré, quando, naquela altura, declarava: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só (e perde a vida!); mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24). Ou seja, é evidente que não se pode querer ou pretender a vida, sem aceitar o “passar” pela cruz e a morte: tal como Jesus, (tal como “o grão de trigo”). O argumento não pode ser mais claro e radical!

Não obstante, custa-nos compreender e aceitar este jogo paradoxal com os dois termos opostos, morte e vida. Quer para os que se perguntem «porque é que a vida há de acabar em morte?»; quer para quem se questione «como é que a vida pode surgir da morte?». Pois uma coisa é certa: ninguém quer a morte (“nem pensar nela!”). E, olha o que são as coisas: o primeiro que não quer a morte é Deus, e por isso, Ele não criou a morte! Se não a criou, ela não existe! Está bem patente logo na primeira leitura de hoje, do Livro da Sabedoria: “Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas… E o poder da morte não reina sobre a terra, porque a justiça é imortal”. (Sb 1 / 1ª L.). Lembremos que, noutra altura, Jesus tinha proclamado (partindo de Ex 3, 6): “Ora, Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Deus, todos estão vivos!” (Cf. Lc 20, 38).

Em tal caso, todo e qualquer um estará no direito de se perguntar: como é que, estando rodeados de morte por todo o lado e não podendo escapar nenhum ser vivo a essa morte certa … como é que pode ser verdadeira esta Palavra de que “Deus não criou a morte”? Ainda mais, quando a mesma Palavra conclui com a verificação de que “o poder da morte não reina sobre a terra”. Quem vai resolver esta ‘contradição’?

Teremos de encontrar a explicação deste aparente “contrassenso” numa outra dimensão ou sentido. Desde logo, aqui a palavra “morte” não tem o sentido de “aniquilamento definitivo” («voltar ao nada»). Já que a morte, assim entendida, “não foi criada por Deus”, e portanto não existe, como já foi dito. Mas há um outro sentido do termo “morte”, cujo significado é de “passagem” ou “transição” para outra dimensão nova ou realidade diferente. Poderíamos dizer que existe uma vida mortal, visível, que conduz a uma outra vida imortal e definitiva; do mesmo modo que existe uma morte aparente, “passageira”, mas nunca uma morte real, de ‘extinção’!

A nossa fé cristã – sustentada pela morte-Vida de Cristo Jesus – contém este dogma ou princípio: «A morte gera Vida pela cruz»; é esse o “desafio de Jesus”! E é também esse, exatamente, o sentido das palavras do próprio Jesus, citadas anteriormente: “a semente de trigo dá vida (muito fruto) só através da sua morte” no interior da terra, quando “apodrece” e… ‘desaparece’, na medida em que se vai transformando no embrião vital da jovem planta. Afinal, a ‘vida’ que estava no “germe” do trigo, não morreu, mas permanece – multiplicada e renovada – “ao passar” (essa ‘vida’) para a nova planta, transformada em muita mais e melhor vida!

Então, agora sim! O Autor da Vida – reconquistada precisamente através da Sua morte de cruz – poderá sempre demonstrar que aquilo que nós chamamos morte é apenas uma ‘fase de sono’. “A menina não morreu; está a dormir»”, diria Jesus aos que estavam na casa onde a filha de Jairo se encontrava já defunta. É que, afinal, essa morte não passa de ser um simples sono. Por isso, aquela rapariga, que tinha doze anos, ‘retomou’ a sua vida mortal, pela fé do seu pai (“basta que tenhas fé”) e por aquelas palavras de Jesus: “«Menina, Eu te ordeno: Levanta-te! (‘Talita Kum’)». Ela ergueu-se de imediato e começou a andar”… (Mc 5 / 3ª L.).

Então: Já não há morte, porque ela foi destruída por Jesus, o Salvador, desde a sua Cruz! Então, afinal é verdade: Cristo Vive! Viva a Vida!

 

Como o orante fiel do salmo de hoje:

eu Te glorifico, Senhor, porque me salvaste!

Quando parecia que a minha vida

estava destinada a descer ao túmulo

e que os meus inimigos iam gozar comigo…

então tiraste a minha alma da mansão dos mortos,

e vivificaste-me com uma Vida nova!

Por isso convido todos os teus amigos

a cantar-Te salmos de alegria, ó Pai,

e a dar graças sempre ao Teu nome santo…

Mas porque será, Senhor, que há tanta gente a pensar

que todos os males, castigos, até a morte… vêm de Ti?

Porque é que teimamos em esquecer a verdade

– aquela que Jesus nos veio revelar –

a Boa Notícia de que Tu, ó Pai nosso,

não queres nem podes castigar ninguém,

antes és a mesma Bondade e Misericórdia,

e só sabes Amar, Perdoar e dar Vida…

Assim, já entendemos o verdadeiro sentido

daquilo a que a gente chama morte ou finitude;

para nós é apenas como o cair da noite,

que pode trazer lágrimas na escuridão,

mas que, ao amanhecer, volta sempre a luz da vida!

Eu vos louvarei, Senhor, meu Deus, eternamente! 

                                  [ do Salmo Responsorial / 29 (30) ]