53b- A Luz é dinâmica

 (Ciclo B – Domingo 30 do T. Comum…) 

A «LUZ» É DINÂMICA!…

Sabem aquela fábula «O cego e o paralítico»?… O pior que poderia acontecer a um cego é ficar também paralítico!… Bom, para os que não conhecem “o conto”, cá fica, em síntese: Pois aquele jovem “paralítico” (que não podia mexer braços nem pernas mas que via perfeitamente) ficou muito amigo de um outro jovem “cego” (que mexia perfeitamente braços e pernas ainda que lhe faltasse a visão). O jovem cego, que era de natural alegre e risonho, disse um dia ao seu amigo: – Acho que seria bom casarmos! – Mas como?, perguntou o amigo paralítico. – Naturalmente, os dois com a mesma mulher, respondeu o primeiro. – E então? inquiriu o paralítico. – Olha, muito fácil, respondeu o amigo cego: Tu olhas para ela e eu abraço-a!

Bom, para além da «moral “engraçada” de colaboração e partilha», para o tema da nossa reflexão interessa-nos num outro sentido. Na sequência daquela afirmação inicial de que “a pior coisa que poderia suceder a um cego era ficar também paralítico”, é para pensar na situação terrível que significa ficar sem “movimento” quem já estava sem “luz”. Seria mesmo aterrador ficar alguém paralisado e nas trevas!

Antes de mais, admitamos igualmente que a treva ou escuridão (no sentir geral dos especialistas) não tem entidade própria, porquanto é definida apenas como «ausência da energia luminosa» (tal como o frio é só «ausência de energia calorífica»). Segundo isto, a treva ou escuridão em que vivem os invisuais ou cegos – para além da causa concreta da sua cegueira – é devida à ausência da luz. Quando ela reaparece no órgão visual, este recupera a maravilha da visão, das cores, das formas, dos tamanhos. E assim como a escuridão, pelo facto de ser “ausência”, só produzirá situações imóveis e estáticas… do mesmo modo a luz, por ser “energia radiante”, só pode originar e provocar movimento e dinamismo. Não em vão ficamos admirados ao constatarmos a estonteante velocidade dos «fotões de luz» (da ordem dos 300.000 km por seg.!!!).

Digamos que esta questão aparece patente no episódio do cego, no Evangelho de hoje. “Quando Jesus ia a sair de Jericó… estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola, sentado à beira do caminho”. Vemos já a primeira atitude de inatividade e imobilismo da parte daquele cego (“sentado à beira do caminho”) própria de quem está envolvido pelas trevas e sumido naquela negra escuridão. Mas há um dado curioso. Mesmo antes de recuperar a visão, e só por causa da imensa fé que lhe dá a certeza da próxima “iluminação”, é capaz de “atirar fora a capa, dar um salto e ir ter com Jesus”. Maravilhoso o que faz a forte esperança na futura transformação!

Mas o facto de “atirar fora a capa” quer igualmente significar a firme vontade de deitar fora as trevas que o envolvem e rasgar a escuridão que o cerca… Mas foi sobretudo “quando Jesus lhe disse: «Vai: a tua fé te salvou», que, ao recuperar a vista”, recuperou também o movimento, e de tal maneira que já foi capaz de “seguir Jesus pelo caminho”. (Mc 10 / 3ª L.). É que «A LUZ – toda a luz, e mais ainda a Luz de Jesus – É MESMO DINÂMICA», ao invés da treva, que é estática, imóvel, estéril. E embora não seja fácil seguir Jesus – “pelo Seu Caminho”! – aquele homem, a partir de então, decidiu apostar no movimento (dinâmico!) do Caminho de Jesus.

Ora bom, os que temos a graça de “ver e viver com a Luz de Cristo Jesus”, embora ainda com “zonas de trevas” na nossa vida, devemos aprender a compaixão: ajudar e acompanhar aqueles irmãos nossos que ainda vivem cercados pela escuridão do pecado ou pelas trevas do mal, tal como faziam os «sumos sacerdotes (que a carta aos Hebreus comparam com o Messias) “pois eles podiam ser compreensivos para com os ignorantes e os transviados, já que também eles estavam revestidos de fraqueza…”(Hb 5 / 2ª L.). Será que nós vamos ser menos, neste «compromisso dinâmico» de seguidores desse Jesus, que é «a Luz do mundo»?!

 

Hoje escutamos a Tua voz, Senhor (Jr 31 / 1ª L.):

«Soltai brados de alegria…

e fazei ouvir os vossos louvores:

“O Senhor salvou o Seu povo, o resto de Israel”»

Sim, ó Pai, porque é bem verdade

que Tu fizeste maravilhas em favor do Teu povo…

quando nos fizeste regressar do reino das trevas,

onde a “cegueira” do mal nos tinha desterrado,

para nos trazer ao Reino da Tua Luz,

pelo Caminho Luminoso e dinâmico

do Teu Amado Filho, Jesus Salvador.

É verdade, Senhor e Pai nosso:

Parecia-nos viver um sonho

– ou um despertar da “escuridão para a luz” –

pois tínhamos ido entre lágrimas de aflição,

levando as sementes dos nossos suores…

e agora regressamos pelo “caminho da Luz”,

com canções de alegria e entusiasmo,

trazendo os frutos e os molhos de espigas

Para Ti: a nossa Alegria e a Luz dos nossos olhos!

[ do Salmo Responsorial / 125 (126) ]