(Ciclo C – Domingo.1-PÁSCOA da RESSURREIÇÃO) 

MARIA – «A MÃE» – NA «PÁSCOA» DO FILHO

Perante a realidade da Ressurreição de Jesus – “meta-histórica” em si, mas com “registos históricos” – cabe todo o tipo de atitudes ou posturas pessoais, dependendo da situação interior da pessoa, quer seja crente quer o não seja… Isto foi assim já desde o primeiro momento histórico, e assim será sempre, na travessia histórica (espácio-temporal) do ser humano, até atingirmos, cada um de nós, a “transcendência” do meta-histórico…

Vejamos, então, como é que foram as atitudes de alguns personagens históricos daquele tempo e espaço, como é que eles encararam, naquela altura, a “veracidade” da Ressurreição de Jesus de Nazaré. E sintamo-nos, ao mesmo tempo, como que projetados nas suas circunstâncias ou, se o preferirmos, tentemos que se “reflitam”, nas nossas vidas de hoje, aquelas suas atitudes circunstanciais, uma vez que não somos nem melhores nem piores do que eles. Tudo isto há de nos servir para aprofundar no verdadeiro sentido da Ressurreição!

Se um de nós tivesse estado no lugar de Maria Madalena, suposto o amor apaixonado que ela tinha pelo seu “Senhor Jesus”, decerto teríamos saído precipitadamente como ela, de manhãzinha, “ainda escuro, ao sepulcro” (Jo 20 / 3ª L.) para, afinal, encontrarmos uma pedra retirada e um sepulcro vazio. É o que nos acontece, sempre que nos empenhamos em procurar Jesus, pela fé (?), de maneira apressada e às escuras… Assim, não conseguimos encontrar-nos com Ele Vivo e Ressuscitado; apenas achamos “lugares” onde não pode estar, como “a pedra deslocada” e “o sepulcro vazio” e escuro…

Ou, então, podemos acompanhar agora àquele jovem discípulo João, quem, ao entrar também no mesmo sepulcro vazio – onde apenas havia “mortalhas e sudários” – diz-nos o mesmo evangelho de hoje: “viu e acreditou” (Jo 20 / 3ª L.). Mas é interessante constatar, se reparamos bem, que o que ele “viu” e que lhe fez “acreditar”, foi precisamente algo que ‘não é Jesus vivo’, mas só uns panos inertes… E ainda chama a atenção uma outra coisa: com ele tinha entrado também o seu colega Pedro, que viu o que João viu, e no entanto, o mesmo texto evangélico não diz que ele acreditasse. A diferença está em que, uns ‘sentem’ a presença de Jesus Ressuscitado, e outros, não; isso, partindo dos mesmos sinais materiais ou tangíveis! É aí que começa ou não a fé no Ressuscitado! E porque será que este mesmo jovem João, numa outra altura posterior, em que estava com um grupo de colegas, foi o primeiro a dizer aos outros: “é o Senhor!”?(Jo 21,7). Mas esta questão continuará sempre em aberto e desafiante: Porque é que – perante os mesmos dados “históricos”, “visíveis” – uns acreditam e outros não?

A “chave”, podemos encontrá-la precisamente numa pessoa que não aparece em nenhum dos textos que se referem à Ressurreição de Jesus. Sim. Será que vocês já se perguntaram alguma vez, porque é que Maria, nossa Senhora, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, não recebeu (ou “presenciou”) – a julgar pelos relatos evangélicos – nenhuma das manifestações (ou “aparições”) do seu Filho Jesus Ressuscitado? Isto, humanamente, resulta, quando menos, “chocante”, e, desde logo, incompreensível. Mas reparem bem que estamos a dizer “humanamente”; porque, divinamente, as coisas processam-se num sentido e dimensão muito diferente! É o caso de Maria, a Mãe, pelo simples facto, aliás, de n’Ela existir muita Fé e muito Amor!

Mas para continuarmos a aprofundar e esclarecer – dentro dos possíveis – lancemos ainda outras questões prévias: Já pensaram alguma vez, porque é que Jesus, após a Sua morte histórica (espácio-temporal) na cruz, esperou tanto “tempo” (só “ao terceiro dia”) para se manifestar ao primeiro ser humano (que foi, conforme às narrações deles, Maria Madalena)? Se temos presente que, no momento em que Ele morreu (“expirou” na cruz) aconteceu, nesse mesmo instante, a “recuperação da Sua Vida” – a Ressurreição segundo a nossa linguagem – perguntamos então, porque é que Ele iria esperar até ao terceiro dia para “Se fazer presente” à Sua Mãe? Seguramente, Ele não esperou. E essa seria a explicação de porque é que Maria a Mãe de Jesus não estava entre aquelas primeiras mulheres que foram, ao terceiro dia, ao sepulcro – como seria de esperar – uma vez que as tinha acompanhado até à colocação do corpo de Jesus naquela cova. Não vamos pensar que aquelas outras mulheres esqueceram-se de “a convidar” naquela madrugada cedinho!

Da nossa parte, e para ajudar à reflexão de todos, avançamos com a resposta mais plausível e louvável, ao mesmo tempo de lógica humana mas essencialmente de “lógica divina”: Desde esse momento em que Maria, a Mãe (no fim daquela tarde da Sexta-feira), voltou para a casa, teve a sensação, a certeza, a vivência… de que Jesus, o seu Divino Filho, estava Vivo, e que ela sentia-se habitada e possuída totalmente por Ele Glorioso – muito mais do que quando era vivo em carne mortal. Não precisava, portanto, de mais nada! E ela também não quis – como sempre fez – intervir ou interferir nas “aparições” de Jesus aos seus discípulos… Mas, “esta primícia para a Mãe, Maria”, era o menos que – humana e divinamente falando – o Filho Jesus podia e devia fazer. E fê-lo! Pessoalmente não tenho a menor dúvida!…

Em conclusão: Maria – a Mãe – viveu a Ressurreição do seu Filho do melhor modo que pode ser vivida, ou seja, no mais íntimo e essencial do seu ser; sem nenhum “tipo de apoio externo, tangível, artificial”… Ela não precisava de andar por aí “recebendo aparições” de um Jesus Ressuscitado, que levava, bem VIVO, no centro mesmo do seu Coração e da sua Vida!

Observemos, porém, que Ela – a Mãe daquela «Igreja nascente» – a partir daí, acompanhou sempre os “discípulos de Jesus”, seus filhos; aliás, como «a primeira Discípula», até à sua própria morte e saída deste mundo. E desta última etapa da sua vida terrena, temos já um texto bíblico que acredita essa presença de Maria – “a mãe de Jesus” – entre os ‘discípulos’, logo após a Ascensão d’Ele ao Céu: At 1,14.

Perguntemo-nos enfim: Será que também nós podemos viver assim – como a Mãe! – esta presença de Jesus VIVO, nas nossas vidas!? Ou vamos precisar e exigir uma presença “sensível” (‘de aparição’) de Jesus, que possa ser captada pelos nossos sentidos!?… Isso vai depender de nós!

Mas com Ela, a Mãe, na nossa companhia, será tudo muito mais fácil!

«Regina Coeli, laetare, aleluia!»

Não é preciso, Mãe, que te animemos

– ao dizer: “alegra-te, Rainha do Céu, aleluia!”

neste dia da Ressurreição do teu Filho,

porque tu já eras profundamente feliz e ditosa

desde o instante da Sua morte-Ressurreição.

Desde esse “limiar” em que acaba o tempo-espaço,

tu, ó Mãe, já não podias adiar nem diferir

a estreia do teu “hino de Alegria e de Aleluias”

Nós, agora e sempre, é que podemos e devemos

– unidos ao teu Canto de glória e aleluia

exultar também de júbilo e cantar de alegria:

Este é o dia que o Senhor fez,

exultamos e cantamos de alegria!

Ninguém como tu, Mãe de Jesus e nossa Mãe,

merecia o privilégio de ser a primeira;

de ter a primazia “entre todas as mulheres” e homens…

Contigo, ó Mãe, daremos sempre graças ao Senhor,

porque Ele é bom e é eterna a sua misericórdia

Também nós, como o teu Filho Jesus,

embora passando pela morte temporal,

havemos de “ressuscitar” e viver

para anunciar as obras de Deus:

Tudo isto veio do Senhor;

é admirável aos nossos olhos!

[ do Salmo Responsorial / 117 (118) ]