“Disse então (o ‘dono da vinha’) ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano»”. (Lc 13,7-9 / 3ª L).

 

Os especialistas na matéria (nomeadamente os que estudam este evangelista Lucas e a sua relação com os outros dois ‘sinópticos’: Mt e Mc) consideram o seu Evangelho dividido em seis partes. O nosso texto de hoje pertence à quarta parte, ou seja, à que tem por título «Subida de Jesus a Jerusalém» (do c. 9,51 ao c.19,28). Aqui reúne Lucas uma série de elementos (alguns dos quais convergem com os de Mateus e Marcos) colocando-os na perspetiva do evento pascal que vai ser consumado na cidade de Jerusalém. Tendo em atenção que a Sua presença visível entre eles está próxima do fim, tratar-se-ia de acontecimentos, ‘discursos’, parábolas, milagres… que Jesus considerava relevantes – na opinião do ‘autor’ Lucas – quer para a conversão do povo de Israel quer, sobretudo, para a instrução dos Seus discípulos, destinatários principais da Sua doutrina

 

A – Chama a atenção o facto de ‘o senhor da vinha’ (figura do Pai Deus) ao falar ao ‘vinhateiro’ (o próprio Jesus) tome como espaço de tempo “três anos”, o período da vida pública de Jesus…(!?).

B – Sim, o tempo aproximado de três anos que Jesus, o Salvador, dedicou a insistir na conversão. Seja como for, o que fica bem claro é a decisão do “dono da vinha” de eliminar os ‘elementos inúteis’ quando estes persistem – voluntariamente – em não produzir os “frutos esperados”.

A – E nós achamos que é justa e reta a perspetiva do senhor da vinha, de excluir todo o indivíduo ‘estéril’ que, além de não gerar frutos, continua a “ocupar inutilmente a terra”, num espaço que podia ocupar outro…

B – Mas há uma lição primordial a tirar desta primeira parte da parábola de Jesus: Deus é, e será sempre exigente e sério no tema do Amor e, portanto, nos frutos da Caridade e partilha Solidária…

A – É verdade. Deus não pode deixar de ser Bom – porque “é Amor”! – mas também não brinca com as coisas importantes! Como diz o povo: «Deus é bom mas não é tolo» … Ou então, não seria Deus!

B – Ainda bem que o ‘vinhateiro’ da parábola, adiantando-se a essa decisão do dono, intercede pela vida da ‘figueira’, colocando a sua mediação – paciente e compassiva – diante do ‘dono’, inicialmente justo e reto…

A – Quer dizer, se for preciso ‘forçar’ (entendamos ‘o termo’) a “justiça-seriedade” de Deus, “nós temos, junto do Pai, um advogado, Jesus Cristo, o Justo, pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados”. [Palavras de João, “o discípulo do amor”, na sua primeira Carta (1Jo 2,1-2)].

B – Aliás, é interessante constatar que este Mediador e Advogado – como Filho, imagem perfeita do Pai, mormente na Sua Misericórdia e Amor infinitos – seja “Intercessor” para o Amor Misericordioso de Deus (!?).

 

A-BBem sabes Tu, Jesus, que o Pai-Deus é justo e exigente com os filhos rebeldes,

mas sabes também que esse mesmo Pai-Abbá é infinitamente Misericordioso!

E para evitar que o Pai tenha de aplicar a estrita justiça por não haver arrependimento,

Tu falas com toda a clareza quando ainda é tempo de sentir pesar e mudar de vida

[vemo-lo, no caso dos que morreram ‘às mãos de Pilatos’ ou pela ‘queda da torre’](*).

E Tu insistes: “Se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante”.

Só assim, deixas passo à paciência e amor misericordioso – do nosso PAI e Teus!

E assim, nós ousamos dizer: ´Nunca Te canses, Jesus, de interceder por nós!’

(*)- Precisamente nos cinco vv. anteriores a esta parábola (Lc 13,1-5). 

 

      

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