Fevereiro 2015
19 Fevereiro, 2015
ANTES E DEPOIS DO… «TEMPO»
19 Fevereiro, 2015
ANTES E DEPOIS DO… «TEMPO»
Desta vez, vamos refletir – e desculpem a expressão “teológica” – acerca do «Cristo meta-histórico», ou seja, tentaremos entender o facto de que, Cristo Jesus, por ser homem e Deus, transcende o Seu “tempo histórico” (antes/depois da Sua vida mortal) e o seu “marco geográfico” (dentro/fora do espaço em que viveu). Será que nós também participamos dessa Sua “transcendência”? A resposta é sim, e isto resulta evidente a partir do Seu Evangelho. Continuaremos a refletir nisto futuramente…
Comecemos, então, pela Palavra de hoje. E tenhamos em atenção que os “números” (quantidades) que aparecem na Bíblia têm um duplo significado: o da sua figura ou quantia representada e o do significado “simbólico”. Por exemplo, o significado do número 40 é de limitação e caducidade e, portanto, trata-se de um «número de prova ou experimentação», uma vez que a sua “duração” nunca será ilimitada. Na história bíblica, através deste número – em dias, em semanas ou em anos – indivíduos e comunidades foram testados e postos à prova… Lemos hoje no Evangelho: “Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens”…(Mc 1). Coisa semelhante aconteceu com vários profetas e personagens bíblicos (Moisés, Elias, Ezequiel, Jonas, David, Saúl…). E, sobretudo, a “prova terrível” do Povo de Deus, no seu conjunto, durante os «40 anos no deserto»… Estes são, portanto, os tempos de prova, que sempre serão limitados. O próprio Jesus vai ficar submetido e sujeito a este significado de caducidade e tentação (como “teste”). Mas, logo de ter sido superada a prova, o mesmo texto evangélico deixa bem claro: “Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho»”. (Mc 1/3ª L.). Ao dizer “cumpriu-se o tempo”, quer significar que, uma vez ultrapassado o espaço da prova, ficou para trás o que era tempo limitado, e agora, quer o Reino de Deus, quer o mesmo Jesus como centro e núcleo desse Reino, já são transcendência!
Isto da superação do tempo e do espaço, vemo-lo, igualmente, no relato do livro do Génesis (da 1ª leitura). Passados os “40 dias do dilúvio universal” (tempo limitado de prova e purificação) o “espaço temporal” é ultrapassado, e a “promessa divina” continua, porque é transcendente. Assim, lemos: “Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio, e nunca mais um dilúvio devastará a terra… Este é o sinal da aliança que estabeleço por todas as gerações futuras: farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra… ” (Gn 9 / 1ª L.).
Por sua vez, o autor da 2ª leitura tem igualmente muito claro que a ação Salvadora de Jesus é «meta-histórica», que não fica apenas circunscrita aos seus “com-temporâneos” nem somente a todos os humanos que vierem depois d’Ele até aos fins dos tempos. Senão que – por se tratar de uma Redenção/Salvação transcendente, “meta-histórica” – atinge por igual a todos, isto é, os anteriores, os contemporâneos e os posteriores ao «Jesus histórico». Lemos, assim, neste texto da primeira carta de Pedro: “Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé…” (1 Pe 3 / 2ª L.). Onde se vê que a Redenção de Cristo (realizada no tempo: “morreu uma só vez pelos pecados”) tem também carácter retroativo (até os que “estavam na prisão… nos dias de Noé…”). A Salvação de Cristo Jesus é Universal, como não podia deixar de o ser!
E agora nós, quê!?… Pois que, ao iniciarmos esta “Quaresma” (40 dias, que reproduzem igualmente aquele significado bíblico), temos à nossa frente um novo período de prova, testagem, tentação… Trata-se, portanto, de um tempo ainda mais propício para – na nossa vida individual e coletiva – testarmos até que ponto somos capazes… E não teremos desculpas se não realizarmos essa autêntica conversão e purificação, uma vez que nós – isso sim! – somos privilegiados a respeito dos nossos irmãos antepassados “do tempo de Noé”, que, desde logo, não tiveram tantas oportunidades como nós, para a penitência… Não esqueçamos aquilo de: “A quem más se deu mais se pedirá”!
Antes de mais, temos bem presente, Senhor,
que as Tuas graças são eternas
e as Tuas misericórdias também;
porque Tu transcendes o tempo e o espaço,
embora, em Jesus e por Jesus,
quiseste entrar neste espaço e tempo,
que é o nosso tempo-espaço humano…
Assim, nós queremos entrar e caminhar
pelos Teus Caminhos, ó Pai nosso…
Por isso, ensina-nos as tuas veredas
e mostra-nos os Teus caminhos,
pois só Tu és o nosso Salvador transcendente…
E no caminho da nossa conversão e penitência,
ajuda-nos e guia-nos na Tua clemência,
por causa da tua bondade, Senhor…
E porque Tu és bom e reto,
e orientas os humildes na justiça,
dá-nos sempre a conhecer a Tua Aliança,
para aceitá-la e assumi-la na nossa vida…
[ do Salmo Responsorial / 24 (25) ]
12 Fevereiro, 2015
«IMPURO! IMPURO!»
«IMPURO! IMPURO!»
Não é que os leprosos daquela época mais antiga, nem os do tempo de Jesus, tivessem de lançar este «grito» só por causa da sua enfermidade repugnante, a lepra, de que eram vítimas. Se fosse apenas por esta razão, até poderia ser compreensível e “desculpável”. Mas de facto, como vamos ver, o objeto e motivo desta imposição acabou por ser muito mais “fundo” e, desde logo, perfeitamente deturpado. O que lemos na primeira leitura, do livro do Levítico – o mais antigo “livro das leis” – é isto: “«…O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’. Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento»” (Lv 13 / 1ª L.). Reparemos que, nestas breves palavras do texto citado, aparece o termo “impuro” até quatro vezes. E sabemos que esta “impureza” foi depois considerada, indo mais além da própria doença física, como uma “impureza legal” ou, mais ainda, até como “impureza moral e religiosa”… Era equivalente a uma espécie de “excomunhão”, pois outro coisa não quer dizer aquela sentença conclusiva: “e deverá morar à parte, fora do acampamento (ou comunidade)”. É verdade que, no tempo de Moisés, a primeira finalidade deste preceito era evitar o contágio entre o povo, ou seja, promover a higiene e saúde; mas também é certo que, com o passar do tempo, a lei foi “degenerando”… até que, em tempo de Jesus, era isso mesmo, uma espécie de “hipocrisia”. De tal modo que, em vários outros lugares do Evangelho escrito por Marcos, Jesus ficará indignado contra os que defendem esta “deturpação da lei”, pois acusavam os seus discípulos de: “comer com mãos impuras, isto é, por lavar”; de “não obedecer a tradição e tomar alimento com as mãos impuras”… Jesus começa por esclarecer: “Não é o que entra no homem que o pode tornar impuro. O que sai do homem, isso é que torna o homem impuro…”. E logo vem a denúncia direta e terrível: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu: «Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim»”. (Mc 7). Na verdade, para Jesus de Nazaré, as coisas são entendidas e confrontadas inversamente: o que para “eles” é considerado “impuro”, coisas que vêm do exterior (alimentos, mãos por lavar, doenças diversas… tal como a “lepra”) para Jesus “não contam” quanto à impureza legal e demais. Para Jesus, porém, há uma outra “impureza” que suja e mata o homem, aquela que, precisamente, “não conta” para fariseus e companhia ilimitada… É exatamente esta, a impureza (a do “afastamento do coração” ou frieza do espírito) que há de ser combatida para não ter de escutar a Palavra do Senhor: “…Mas o seu coração está longe de mim”.
Quer isto dizer que (no Evangelho de hoje, cujo narrador é também o evangelista Marcos) a conduta de Jesus perante o leproso que vem pedir-Lhe a cura, vai ser totalmente diferente dessas posturas hipócritas ou farisaicas. “Veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo.”… (Mc 1 / 3ª L.). Aqui vemos, na verdade, que Jesus, ao limpar este homem da sua lepra – passando por cima da «lei do afastamento» pois até chega a tocá-lo – demonstra a todos que não existe qualquer outra impureza nesse homem, para além da própria lepra. E, desde logo, aquele homem ficou liberto, pela compaixão e vontade de Jesus, de toda aquela pesada carga legal que suportava.
Vale a pena perguntarmo-nos, como conclusão da nossa reflexão: Qual deverá ser, nesta questão, a nossa atitude perante aquilo que, na presente sociedade que nos envolve, é percebido como ‘puro’ ou ‘impuro’, ‘bom’ ou ‘mau’, ‘lícito’ ou ‘ilícito’… politicamente ‘correto’ ou ‘ incorreto’? Será que vamos seguir a corrente hipócrita dos “modernos fariseus” que continuam a apostar no exterior, na ‘imagem’, na ‘moda’… – “purezas legais” de todos os matizes! – ou será que deveremos apostar no exemplo de Cristo Jesus? S. Paulo, desde que conheceu Jesus, tomou o partido da Verdade e da transparência, e, em coerência, se atreve a exortar-nos: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”. (1 Cor 10 / 2ª L.).
Tu, Senhor, que és o nosso refúgio,
dá-nos a alegria da Tua Salvação,
alegria e felicidade de quem foi perdoado,
o gozo de quem foi defendido dos perigos…
Eu quero ser, ó Pai, do número dos Teus fiéis,
em cujo espírito não entra o engano,
porque apostam na pureza genuína
e evitam o contágio das “purezas (i)legais”…
Quero ser do grupo da gente sincera,
que não escondem a sua culpa, ó Deus,
mas confessam, na verdade, o seu pecado,
e sentem logo o Teu perdão paternal.
Que eu saiba, Senhor, estar próximo
daqueles que sofrem doenças corporais
enquanto são puros e limpos de alma…
Mas ilumina, Senhor, todos os que vivem
– envolvidos por disfarces de aparências –
a pensar que são do partido “dos puros”…
«Que, à nossa volta, só haja hinos de vitória,
pois são os justos que vivem alegres no Senhor,
e só exultam de alegria os retos de coração!».
[ do Salmo Responsorial / 31 (32) ]
24 Fevereiro, 2015
Luis López T. Comum - 11º dom. a 17º dom 0 Comments
Ciclo C.5 – [T. Comum – 11º dom. a 17º dom.] (ppt nº 34 a 40)